CASSAÇÃO

Os ventos são bons, levantemos as velas – Por Chico Alencar

A palavra está agora com a Justiça Eleitoral. A Câmara de Vereadores do Rio cumpriu seu dever, zelando pela ética e pelo decoro ao cassar Gabriel Monteiro

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Gabriel Monteiro, ex-PM, expulso da corporação por mau comportamento, não é mais vereador do Rio. Por 48 votos a dois (do próprio Gabriel e de um outro ex-PM, Chagas Bola), a Câmara afirmou, quase por unanimidade (só não votou Carlos Bolsonaro, licenciado para ajudar o pai, em apuros na disputa presidencial), que não aceita na Casa de Leis quem explora e manipula crianças, filma, armazena e divulga atos sexuais com menores de idade e agride moradores de rua.

Sua perversão é tamanha que estimulava as meninas a aparecerem em suas festinhas vestidas com o uniforme da escola, ao som da música “Galinha pintadinha”.

O Legislativo carioca disse, em alto e saudável som, que quem tem práticas de assédio moral e sexual e estupro, sob investigação na Justiça, na qual Monteiro já é réu, perdeu todas as condições para representar a população.

As mulheres, lotando uma das galerias, e as vereadoras levando argumentos duros e emocionados à tribuna, mostraram sua força e indignação.

Venceram!

A estratégia da defesa do ex-vereador foi um fiasco.

Primeiro, tentou dizer que os fatos que o incriminam o agora ex-vereador eram mera "invenção da imprensa", e que a cassação abriria precedente que poderia atingir qualquer outro parlamentar, "bastando que um veículo de comunicação ou um assessor desejasse”.

Depois, centrou fogo no relator do caso, como se o pedido de perda do mandato fosse só meu, tratando-me como "acusador", "parcial" e "deselegante" (?).

Vivendo no universo personalista e autocentrado de Gabriel - os advogados eram todos assessores do ex-parlamentar, pagos pela Câmara - tentaram fulanizar a questão, como se eu fosse o "grande inquisidor", o "terrível algoz".

Mas quem se desmoralizou, por essa própria postura desvairada e abusiva, foi Gabriel. O relatório que elaborei foi aprovado por unanimidade no Conselho de Ética, deixando de ser "meu". Registre-se que o conselho é composto por vereadores de diferentes partidos e as mais variadas posições políticas.

Depois, levado a plenário, o relatório foi aprovado por quase todos os integrantes da Casa.

O agora ex-vereador é mais um produto da "youtuberização" deformada da política, que tem trazido ao cenário oportunistas os mais variados. Um deles, o personagem conhecido como "Mamãe Falei", já foi, em boa hora, cassado pela Assembleia Legislativa de São Paulo.

Na própria quinta-feira em que foi aprovada a perda do mandato de Gabriel Monteiro, PSOL e Rede apresentaram ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) um procedimento denominado Aviso de Inelegibilidade. A providência se justifica: mesmo nessa situação Gabriel postula pelo PL uma candidatura a deputado federal. Deve achar que uma eventual imunidade parlamentar vai deixá-lo blindado nos graves inquéritos que investiga seus atos.

A palavra está agora com a Justiça Eleitoral. A Câmara de Vereadores do Rio cumpriu seu dever, zelando pela ética e pelo decoro.

Pela cidadania e pela democracia.

Os ventos são bons: levantemos as velas, há braços!