DENÚNCIA

O que diz a prefeita que acusa presidente da Câmara de estupro

Segundo Fabíola Alves, prefeita de Votorantim, o presidente do Legislativo tentou beijá-la à força

Fabíola Alves e Thiago Schiming.Créditos: Divulgação e Reprodução/Instagram
Escrito en MULHER el

Fabíola Alves (PSDB), prefeita de Votorantim, no interior de São Paulo, está acusando o presidente das Câmara dos Vereadores do município, Thiago Schiming (PSDB), de estupro. O boletim de ocorrência (BO) foi registrado, nesta quinta-feira (7), na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM).

A prefeita relatou que, no dia 12 de junho, dia do aniversário de ambos, Thiago foi ao gabinete dela por volta do horário do almoço, acompanhado por outros dois vereadores, Cirineu Barbosa (PMN) e Cesar Silva (Cidadania), para parabenizá-la. O trio presenteou a prefeita com chocolates e um cartão.

Depois disso, os três saíram da sala, mas Thiago retornou sozinho e encostou a porta do gabinete. Conforme declarações da prefeita, o presidente da Câmara tentou beijá-la três vezes à força, segurando seu queixo e empurrando o corpo contra o dela.

“Eu já fiquei próximo da porta, não quis sentar e ficar à vontade com ele. Eu estava já nervosa. Ele começou a pegar na minha mão, falar que eu era muito importante para ele e a chegar perto. Eu falei que, para mim, ele era um amigo muito especial", contou, em entrevista ao G1 e à TV TEM.

“Daí fui me despedir, ele tentou me beijar e eu virei o rosto. Depois da terceira tentativa, ele começou a pegar no meu queixo, encostar o corpo e forçar para me beijar realmente. Eu consegui soltar e apertar um botão da minha porta. Ele soltou, falou ‘calma’ e saiu bem nervoso”, revelou.

Poucos minutos depois, ainda segundo Fabíola, Thiago fez contato com ela, via WhatsApp, enviando uma foto que havia tirado com ela e os outros dois vereadores no local, seguida da mensagem “Me perdoa”.

No mesmo dia, a prefeita contou o que havia ocorrido à secretária, ao assessor de governo e a um primo. Ela bloqueou Thiago no celular e nas redes sociais para impedir que ele voltasse a procurá-la. A partir daí os dois não tiveram mais contato pessoalmente, o que, inclusive, prejudica o andamento de projetos municipais.

É muito difícil trabalhar assim. Eu estou com um monte de projeto parado na Câmara e eu não consigo ter diálogo. Tem evento que eu não posso participar porque... Como que eu vou ficar do lado de uma pessoa que aconteceu uma coisa dessa? Fica difícil o trabalho nesse sentido. Não é fácil externar isso”, acrescentou ela.

Denúncia seis meses depois

Fabíola só resolveu denunciar o caso, registrado como estupro na delegacia, seis meses depois, por causa de um processo de cassação que estava enfrentando na Câmara.

“Primeiro, que não é fácil essa exposição. Eu faço isso também em nome das mulheres. Segundo, que eu estava no meio de um processo de cassação e, se eu externasse algo nesse sentido, ia parecer que eu estava fazendo para desviar alguma atenção de alguma coisa. Eu queria que esse processo fosse arquivado. Eu queria provar que eu era inocente naquele processo para eu poder, então, ficar livre para realmente denunciar tudo o que eu senti naquele momento”, destacou.

Fabíola foi investigada por uma Comissão Espcial de Inquérito (CEI) por supostas irregularidades no aumento do próprio salário e no salário dos secretários municipais. Ela obteve uma liminar na Justiça que suspendeu a sessão que poderia cassar seu mandato.

O juiz entendeu que o processo administrativo já tinha ultrapassado o prazo de 90 dias e um julgamento fora do prazo seria nulo. O caso foi arquivado.

Para Fabíola, o fato dela ter rejeitado Thiago pode ter relação com a articulação do presidente da Câmara para instalação da CEI.

“É muita coincidência ter acontecido o que aconteceu. Até então, ele me elogiava na parte administrativa nas redes sociais, estava sempre externando apoio. E, dias depois do ocorrido, a conduta começa a ser completamente outra. Através de outros secretários, ele andou insinuando coisas para tentar me calar, querer me desqualificar como mulher”, disse.

Fabíola também contou que desenvolveu uma amizade com Thiago ainda na adolescência. Ela, inclusive, é madrinha de casamento do vereador, que tem uma filha.

Porém, a prefeita, que também foi casada, mas se separou há cerca de dois anos e meio, contou que observou que Thiago tinha o costume de confundir os sentimentos por ela.

“Com um pouco de frequência, ele externava ter um sentimento por mim que era um pouco mais do que amizade. Ele falava que eu era muito importante, que eu era uma mulher muito especial para ele. No WhatsApp ele chegou a escrever que estava comigo para a vida toda e chegou a falar mesmo ‘eu te amo de um jeito que você jamais vai entender, embora você me esnobe’. Mas, da minha parte, sempre 100% foi estritamente amizade mesmo”, garantiu ela.

Vereador nega acusações

Thiago negou as acusações. O vereador disse que não fez nenhuma investida contra a prefeita, mesmo por mensagem.

“Vejo isso como um grande absurdo, essa denúncia. Sem cabimento nenhum. Eu e a prefeita sempre tivemos amizade. A prefeita é uma amiga de infância, é madrinha de casamento meu. A gente teve sempre uma amizade muito próxima", disse, também em entrevista à TV TEM e ao G1.

“Eu vejo como uma surpresa. Como que uma pessoa pode postar uma foto de agradecimento de aniversário, mandar no meu WhatsApp pessoal, como sempre mandou com muito carinho, muita amizade, felicitações pelo aniversário, de repente, vem com uma mensagem absurda e irreal dessa, visando somente política. Tudo isso para ser uma questão… Politicagem mesmo, suja e baixa”, ressaltou. 

Thiago também negou que tenha tocado no rosto e no pescoço dela. “Essa história de que eu cheguei e toquei, por exemplo, no rosto, no pescoço dela… Se eu tivesse feito isso, qualquer mulher do mundo teria gritado, pedido socorro, ligado à polícia, ameaçado. Não, o que ela fez? Mandou mensagens no fim dia desejando felicitações, ‘que a espiritualidade te proteja, que você é muito querido’. Então, não tem cabimento nenhum, é infundada essa denúncia”, acrescentou.

“Eu segui o que tinha que fazer. Levei o processo ao plenário. A partir dali, começou uma campanha contra mim. Não contra mim, mas contra o vereador Cirineu (Cirineu Barbosa - PMN). Nós fomos vítimas de pressão, de ameaças. Eu tenho aqui, e agora vou buscar os meus direitos, inúmeras ameaças da prefeita e do grupo da prefeita a mim. Ameaças, inclusive, sérias de ‘vou acabar com a sua vida’, ‘se você botar para votar a consciência é sua, mas vai ter consequências’. Uma perseguição que não parou. Se encerrou o processo e continua essa perseguição a mim, politicamente e pessoalmente, chegando a ter mensagens da prefeita, onde ela diz que existe um grupo dentro da prefeitura que estaria perseguindo eu, para cuidar da minha vida pessoal”, afirmou.

Temas