Na noite da última quinta-feira (25), a entrevista do ex-presidente Lula (PT) no Jornal Nacional já se encaminhava para 'os finalmentes' quando a apresentadora questionou o candidato petista sobre o agronegócio e a relação de seu partido com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Após algum debate, Lula revelou o dado que o MST é o maior produtor de arroz orgânico da América Latina e fez as buscas do Google sobre o tema dispararem nas horas subsequentes.
“Presidente, vamos falar de Agronegócio. No seu governo esse setor contribuiu muito com o crescimento econômico do Brasil, e os preços das commodities estavam em alta. O seu ministro da Agricultura era um grande produtor rural, mas hoje, grande parte do setor agro não o apoia. O senhor atribui esse afastamento com as desconfianças geradas pela relação do seu partido com o MST?”, perguntou a apresentadora.
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“Não. Eu queria que você trouxesse aqui o mais reacionário representante do agronegócio e perguntasse pra ele o que Bolsonaro fez para o setor que chegou perto daquilo que nós fizemos. Não tem nenhum governo que tratou do agronegócio como nós. Nós impedimos que muitos produtores tivessem quebrado (...) É a nossa política contra o desmatamento na Amazônia, no Pantanal e na Mata Atlântica que faz com que alguns desses produtores sejam contra nós”, disse Lula. Em seguida explicou que não são todos os agropecuaristas que querem devastar o meio ambiente, mas a facção próxima ao bolsonarismo. Lula disse que para o produtor que faz negócios com a Europa e a China, o interesse é de preservar os biomas brasileiros.
Mas a apresentadora insistiu na pergunta sobre o MST. Em sua resposta, Lula criticou o fomento ao armamento no campo pelo atual presidente e contou que certa vez eu perguntou para um produtor qual foi a terra improdutiva que o MST invadiu. “Porque o sem terra entra em terras improdutivas, quem fiscaliza a terra é o Incra e quem paga é o governo. Parece que era um favor que o sem terra fazia para o fazendeiro, que acabava recebendo por uma terra improdutiva”, argumentou.
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Sobre o papel do MST, Lula foi direto: “O MST está fazendo uma coisa extraordinária. Ele tem várias cooperativas e hoje ele é o maior produtor de arroz orgânico do Brasil. Você tem que visitar uma cooperativa do MST para ver que aquele MST de 30 anos atrás não existe mais”, declarou.
A produção de arroz do MST
É verdade a declaração do ex-presidente Lula. O MST calcula uma colheita de 15,5 mil toneladas de arroz orgânico esse ano. A projeção é para a colheita 2021-2022 que já foi realizada, mas os números finais ainda não foram divulgados pelo movimento. A produção é feita por cooperativas gaúchas e envolve cerca de 20 assentamentos e 600 famílias.
O Instituto Riograndense do Arroz (Irga) coloca o MST como o maior produtor de arroz orgânico da América Latina há dez anos. A estimativa de colheita da safra 2021/2022 era de 310 mil sacas de arroz de 50 kg cultivados – o que equivale a 15,5 mil toneladas. Os números são de Martielo Webery, do setor de comercialização da Cootap (Cooperativa de Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre).
Em março desse ano, as famílias produtoras de arroz ligadas ao MST no Rio Grande do Sul promoveram a 19a Festa da Colheita. A celebração popular, realizada na Cooperativa de Produção Agropecuária (Coopan) de Nova Santa Rita, na região metropolitana de Porto Alegre, festejou a maior colheita de arroz orgânico, sem agrotóxicos, do continente. A maior desse ano, pois em outros anos, como na colheita 2016-2017, os números foram superiores.
Naquela ocasião, cinco colheitas atrás, os números do MST superaram em muito os atuais. De acordo com reportagem da BBC Brasil, foram colhidas cerca de 27 mil toneladas de arroz orgânico produzidas naquela temporada por 22 assentamentos distribuídos entre 616 famílias. Além do arroz propriamente dito, também foram produzidas cerca de 22 mil sacas de sementes não transgênicas.