A árvore que evoluiu para matar seus 'inimigos' com raios

Associadas à destruição nas florestas, as descargas elétricas provocadas por raios podem, surpreendentemente, favorecer uma espécie de árvore tropical

Créditos: Foto: Evan Gora/Cary Institute of Ecosystem Studies
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Comumente associadas à destruição nas florestas, as descargas elétricas provocadas por raios podem, surpreendentemente, favorecer uma espécie de árvore tropical no Panamá. Segundo um estudo publicado em 26 de março na revista New Phytologist, a Dipteryx oleifera, conhecida como fava tonka, parece tirar proveito dos efeitos do raio para se desenvolver.

Pesquisadores descobriram que, enquanto muitas árvores sofrem danos graves ou morrem após serem atingidas, a fava tonka permanece praticamente ilesa. Mais que isso: o raio frequentemente elimina seus competidores próximos e também lianas — trepadeiras parasitas que comprometem a saúde das árvores. A descoberta foi feita por uma equipe liderada pelo ecologista Evan Gora, do Cary Institute of Ecosystem Studies, que estuda os impactos dos raios nas florestas tropicais há uma década.

Nas regiões tropicais, os raios são uma das principais causas de morte de árvores, afetando especialmente as maiores e mais antigas — fundamentais para o equilíbrio ecológico e o armazenamento de carbono. No entanto, a equipe identificou que a Dipteryx oleifera se destaca por resistir aos impactos elétricos e, ainda, evoluir após eles.

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Utilizando sensores de alta resolução e câmeras especiais para monitorar as descargas no Monumento Natural Barro Colorado, no Panamá, os cientistas acompanharam quase 100 eventos de raios e observaram o comportamento da vegetação afetada. Aliada a imagens de drones e décadas de registros florestais, a análise revelou que árvores vizinhas à fava tonka têm maior probabilidade de morrer após um raio.

Estima-se que uma única árvore dessa espécie seja atingida pelo menos cinco vezes ao longo da vida. Cada impacto, segundo os autores, contribui para a eliminação de competidores e parasitas, permitindo maior acesso à luz e ampliando sua capacidade reprodutiva. O estudo estima um aumento de até 14 vezes na produção de sementes ao longo da vida da árvore.

A resistência da fava tonka pode estar relacionada à sua estrutura interna altamente condutiva, que permite a dissipação da energia elétrica sem gerar calor excessivo — funcionando, na prática, como um fio elétrico natural.

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*Com informações de Lives Science 

 

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