Calor extremo pode continuar depois do Carnaval e se estender até o outono

Apesar de chuvas isoladas poderem trazer alívio momentâneo, o verão de 2025 promete ser mais quente e seco que o habitual

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As altas temperaturas que têm marcado o verão no Brasil devem continuar além do Carnaval e se prolongar até o início do outono, em 20 de março, segundo especialistas. O calor acima da média histórica, que já afeta grandes regiões do país, pode persistir devido a condições atmosféricas específicas, surpreendendo até mesmo a comunidade científica. Apesar de chuvas isoladas poderem trazer alívio momentâneo, o verão de 2025 promete ser mais quente e seco que o habitual, especialmente no Sudeste, Sul e Centro-Oeste.

De acordo com o climatologista José Marengo, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a falta de frentes frias intensas deve manter as temperaturas elevadas nas próximas semanas. Ele ressalta que, mesmo em uma estação tradicionalmente chuvosa, as precipitações têm sido breves e localizadas, sem resolver o problema da seca. No Rio de Janeiro, por exemplo, o volume de chuvas até o dia 24 de fevereiro foi de apenas 11 mm, equivalente a 7% do esperado para o período, segundo dados do Climatempo.

— Sem a chegada de uma frente fria significativa, o que é improvável no momento, o calor vai continuar. O risco de incêndios florestais aumenta, e as chuvas, quando ocorrem, são intensas e rápidas, causando estragos sem aliviar a seca. A esperança de um alívio mais consistente está na transição para o outono — explica Marengo.

O Sudeste, especialmente as capitais São Paulo e Rio de Janeiro, segue sob temperaturas elevadas, enquanto o Sul enfrenta novas ondas de calor. Marengo é um dos autores de um estudo publicado na revista Frontiers in Climate, que aponta o aumento na duração, intensidade e frequência dos sistemas de alta pressão responsáveis por essas ondas de calor na América do Sul. Antes dos anos 2000, esses eventos duravam em média cinco dias, mas agora podem se estender por 15 a 20 dias, com tendência de crescimento a cada década.

Esses sistemas de alta pressão, também chamados de bloqueios, cúpulas ou domos de calor, são zonas onde os ventos giram no sentido anti-horário, inibindo a formação de nuvens e chuvas. Tradicionalmente, eles se mantinham sobre o Atlântico Sul durante o verão, mas, neste ano, estacionaram sobre o continente, agravando o calor e a seca.

O deslocamento de um anticiclone para o interior do continente tem alterado a circulação de ventos, impedindo a dissipação do ar quente e criando uma barreira contra a entrada de frentes frias. Esse fenômeno intensifica tanto o calor quanto a aridez, agravando os efeitos das mudanças climáticas.

O oceano Atlântico também sofre com o aquecimento, impactando diretamente o litoral do Sudeste. No Rio de Janeiro, as temperaturas em fevereiro superaram regularmente os 35ºC, enquanto a falta de ressurgência — processo de afloramento de águas frias — reduz o alívio nas áreas costeiras.

A ausência de chuvas durante o período tradicionalmente mais úmido do ano preocupa, pois pode comprometer a disponibilidade hídrica nos próximos meses, agravando os desafios já impostos pelas mudanças climáticas.

*Com informações de O Globo

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