Mais da metade dos países do mundo ainda não elaborou planos concretos para garantir a proteção de 30% das áreas terrestres e marinhas, mesmo após terem aderido a um pacto global com esse objetivo há menos de três anos. A constatação vem de uma análise conduzida pelo Carbon Brief e pelo jornal The Guardian.
No final de 2022, praticamente todas as nações assinaram um compromisso da ONU voltado para conter a degradação dos ecossistemas do planeta. Entre os pontos centrais do acordo, destaca-se a meta de proteger um terço do planeta até 2030, conhecida como “30 por 30”. Contudo, com a realização da Cop16 em Roma, onde líderes mundiais debatem estratégias para a preservação ambiental, o levantamento revela que muitos países não estão cumprindo o compromisso. Mais da metade das nações analisadas fixou metas inferiores a 30% de proteção territorial ou sequer estipulou um percentual objetivo.
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Entre os 137 países que apresentaram planos, 70 deles – o equivalente a 51% – não mencionam a intenção de atingir a meta de 30% de áreas protegidas, enquanto outros 10 deixam o compromisso indefinido. Além disso, 61 países ainda não submeteram qualquer proposta para alcançar os objetivos do pacto global.
Embora a meta da ONU seja de alcance mundial, a ausência de compromissos claros por parte de países com vastas áreas naturais pode comprometer sua efetivação. Os países que não estabeleceram metas numéricas correspondem a cerca de 34% da superfície terrestre global, incluindo nações megadiversas como México, Indonésia, Malásia, Peru, Filipinas, África do Sul e Venezuela.
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Especialistas ressaltam que a estratégia de proteção deve priorizar regiões de alta biodiversidade para que o plano seja eficaz no combate à perda da natureza. No caso da Finlândia, por exemplo, autoridades alegam que cumprir a meta de 30% é um grande desafio, pois demandaria um acréscimo de mais de 700 mil hectares de áreas protegidas a cada ano. Já a Indonésia, que abriga uma das maiores florestas tropicais do planeta, não especificou um percentual de proteção, argumentando que a meta deve ser tratada como um compromisso global, sem impor encargos desproporcionais a países em desenvolvimento.
Outro exemplo é a Noruega, que, apesar de suas extensas indústrias de pesca e petróleo, não incluiu áreas marinhas na meta de conservação. Segundo representantes do governo, ainda há discussões sobre quais áreas marítimas poderão ser consideradas protegidas segundo os critérios da ONU, e o status final dessas regiões será determinado posteriormente.
A análise reforça preocupações sobre a possibilidade de mais uma década de fracasso na preservação ambiental. Até hoje, nenhum dos objetivos estabelecidos nos tratados internacionais de biodiversidade foi integralmente alcançado.
Brian O'Donnell, diretor da Campanha pela Natureza, alertou que o progresso na implementação da meta de 30% está aquém do necessário, e atribuiu essa defasagem à falta de financiamento das nações mais ricas e ao baixo engajamento de líderes políticos. Segundo ele, proteger um terço do planeta não é um luxo, mas uma necessidade urgente para evitar a extinção em massa de espécies e manter serviços essenciais fornecidos pela natureza, como a polinização, a purificação da água e a defesa contra desastres ambientais.
Inger Andersen, diretora do Programa Ambiental da ONU, reconheceu que já há avanços, com 17,6% das terras e 8,4% dos oceanos sob algum tipo de proteção. No entanto, reforçou que os esforços precisam ser ampliados para garantir resultados efetivos. Segundo ela, a meta de 30% deve ser encarada como um incentivo para ações concretas e não pode ser tratada isoladamente, pois a preservação ambiental é indispensável para que os países consigam atingir seus compromissos climáticos e de desenvolvimento sustentável.