Um estudo realizado pela Universidade de Princeton trouxe à tona o impacto “invisível” que o consumo das nações de alta renda têm na perda global de biodiversidade ao explorar recursos naturais. Publicada na revista Nature no último dia 12, a pesquisa revela que esses países são responsáveis por uma grande parcela da redução global de habitats naturais, para além dos efeitos da crise climática.
Entre 2001 e 2015, o desmatamento relacionado ao consumo de produtos por meio de cadeias de suprimentos globais, pelos 24 países mais desenvolvidos, resultou em perdas significativas de ecossistemas ao redor do mundo. A pesquisa quantifica pela primeira vez o grau em que o consumo nos países ricos contribui para o declínio da biodiversidade em outras regiões, principalmente em países de renda média e baixa.
Ao transferirem os custos ambientais de suas cadeias produtivas para fora de suas fronteiras, essas nações estão promovendo a destruição de ecossistemas que são fundamentais para a manutenção da vida na Terra. O estudo “Perda Global de Biodiversidade devido ao Desmatamento Terceirizado” (Global Biodiversity Loss from Outsourced Deforestation, em inglês) analisou o impacto ambiental do consumo de bens e serviços, levando em consideração a forma como esses países adquirem produtos por meio de cadeias globais de suprimentos.
De acordo com o estudo, as nações mais ricas não apenas importam produtos de países com grandes áreas naturais, como também induzem mudanças no uso do solo em países em desenvolvimento, onde a demanda por commodities agrícolas, madeira e outros recursos naturais é alta. Isso gera um ciclo de desmatamento, expansão da agropecuária e urbanização, que impacta diretamente a fauna e a flora desses locais.
Em média, as perdas de biodiversidade causadas por esses países no contexto foram 15 vezes maiores do que seus efeitos domésticos, com os Estados Unidos, Alemanha, França, Japão e China como os principais responsáveis. Ao todo, 18 dos 24 países estudados tiveram um impacto maior fora de suas fronteiras do que dentro delas na perda de biodiversidade.
Foram 7.593 espécies de aves, mamíferos e répteis, dependentes de florestas, analisadas pelos pesquisadores.
“O comércio global dissemina os impactos ambientais do consumo humano, levando as nações mais desenvolvidas a obterem seus alimentos de países mais pobres e biodiversos nos trópicos, resultando na perda de mais espécies”, destaca David Wilcove, coautor do estudo.
“Ao importar alimentos e madeira, essas nações desenvolvidas estão essencialmente exportando a extinção”
Segundo o autor principal do estudo, Alex Wiebe, ao integrar dados de perda florestal com mapas abrangentes de distribuição de espécies, os pesquisadores foram capazes de identificar pontos críticos.
“É difícil rastrear os impactos que os países têm no meio ambiente fora de suas fronteiras”, afirmou.
Além disso, o estudo revelou que os países tendem a impactar mais as florestas tropicais localizadas em regiões geograficamente próximas. Os Estados Unidos, que lideram a destruição fora de suas fronteiras, têm uma influência maior sobre a América Central, enquanto China e Japão impactam principalmente as florestas tropicais do sudeste asiático. Países de menor renda consomem seis vezes menos materiais e geram 10 vezes menos impactos climáticos do que nações de renda elevada.
O estudo completo pode ser acessado por este link.
Parte da exploração dos recursos se deve à produção de tecnologias de alto custo. Uma reportagem da Fórum, inclusive, mostrou que a riqueza de milionários aumentou três vezes mais rápido em 2024, todos eles donos de empresas de tecnologia, segundo o relatório da Oxfam "As custas de quem? – A origem da riqueza e a construção da injustiça no colonialismo".
Outra reportagem também expôs como as grandes corporações de tecnologia, que atuam nas áreas de comunicações, informação, ações de mercado e tecnologia digital avançada, expõem claramente a face concentradora e oligopolista do capitalismo contemporâneo para além do que se chamou de “globalização”.
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O estudo do Climate Action Tracker (CAT) também expôs a ineficiência das políticas climáticas globais. Embora países ricos tenham reduzido suas emissões, o ritmo é insuficiente para evitar um aquecimento de 2,7°C até o final do século XXI. Essa falha coloca em risco o futuro do planeta, especialmente considerando que esses países são historicamente responsáveis pela maior parte das emissões.
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