Europa se apoia em energia limpa da África para parecer mais sustentável, diz relatório

Iniciativas estariam beneficiando mais o continente europeu do que os próprios países africanos, que continuam dependentes de combustíveis poluentes

Créditos: Reprodução Youtube The New AfricaChannel
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Enquanto a Europa busca diversificar suas fontes de energia e reduzir sua dependência de combustíveis fósseis, países como Marrocos e Egito têm sido alvos de investimentos em projetos de energia renovável.

No entanto, um relatório do Greenpeace revela que essas iniciativas, apoiadas por nações europeias, estão beneficiando mais o continente europeu do que os próprios países norte-africanos, que continuam dependentes de combustíveis poluentes e arcam com os custos ambientais e sociais desses projetos.

Marrocos e Egito, com seu vasto potencial solar e eólico, têm sido vistos como peças-chave para a transição energética europeia. No entanto, o Greenpeace argumenta que os projetos de energia limpa financiados pela Europa são voltados principalmente para a exportação, deixando as economias locais ainda amarradas a combustíveis fósseis importados, como petróleo e gás.

Enquanto isso, as populações locais enfrentam deslocamentos e a escassez de recursos hídricos, agravada pelo uso intensivo de água em projetos de energia renovável.

A guerra na Ucrânia acelerou os investimentos europeus no Egito, especialmente no setor de gás natural, como alternativa ao fornecimento russo.

Empresas europeias injetaram bilhões para explorar as reservas egípcias, mas o Greenpeace alerta que a perfuração excessiva tem causado erosão do solo, contaminação da água e poucos benefícios para a população local. Além disso, o Egito tem aumentado o uso doméstico de combustíveis altamente poluentes, como o mazut, para liberar mais gás para exportação.

No Marrocos, grandes investimentos em hidrogênio verde e amônia, como os US$ 10,6 bilhões da TotalEnergies e os € 300 milhões da Alemanha, também têm como foco principal a exportação para mercados europeus. Esses projetos, embora promovam a energia renovável, não contribuem significativamente para a descarbonização das economias locais, segundo o relatório.

Hanen Keskes, líder de campanhas do Greenpeace no Oriente Médio e Norte da África, critica a abordagem europeia: “O norte global deve reduzir seu próprio consumo e desenvolver capacidade renovável internamente, em vez de transferir os custos socioambientais para o sul global. É essencial descolonizar e transformar a arquitetura financeira global para garantir uma transição energética justa.”

O relatório sugere que, para que países como Egito e Marrocos possam se tornar verdadeiros hubs de energia limpa, é necessário investimento internacional em infraestrutura e políticas voltadas para o desenvolvimento sustentável local. Parcerias estratégicas e políticas inteligentes poderiam permitir que essas nações não apenas exportassem energia limpa, mas também reduzissem sua própria dependência de combustíveis fósseis, beneficiando suas populações e o meio ambiente.

 

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