Estilos de vida solitários são comuns no mundo animal. Entre os mamíferos, 22% das espécies estudadas são consideradas solitárias, passando a maior parte do tempo dormindo, forrageando ou caçando sozinhos. No entanto, esses animais têm recebido menos atenção científica, possivelmente porque os humanos, como seres sociais, tendem a se interessar mais por espécies que vivem em grupos.
Por muito tempo, a solidão foi vista como um estado primitivo, associado a comportamentos antissociais e baixa inteligência. No entanto, pesquisas recentes, como a revisão sobre a vida solitária em mamíferos publicada em 20204 pelo Centre National de Recherche Scientifique em Estrasburgo, França, mostram que a vida solitária pode ser uma estratégia evolutiva vantajosa, evitando competição e estresse. De acordo com o estudo, muitos animais solitários são inteligentes e mantêm interações sociais complexas, mesmo que esporádicas.
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O rato-toupeira cego do Oriente Médio é um exemplo notável de solidão no reino animal. Vivendo cerca de 30 centímetros abaixo do solo, ele passa a maior parte de sua vida escavando túneis e coletando raízes, tubérculos e bulbos. Cada indivíduo mantém seu próprio território, e qualquer invasão acidental pode resultar em confrontos violentos, muitas vezes fatais.
A interação entre esses roedores é rara, ocorrendo principalmente durante a temporada de acasalamento. Mesmo nesses momentos, o processo é cauteloso: o macho cava em direção à fêmea, mas para antes de entrar em seu túnel. Por dias, eles trocam sinais vibracionais, tamborilando com a cabeça no teto dos túneis. Somente quando a fêmea demonstra interesse, o macho avança, acasala e retorna à sua vida solitária.
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Benefícios da solidão
Viver em grupo tem suas vantagens, como proteção contra predadores e cooperação na caça. No entanto, também traz desvantagens, como a competição por recursos e parceiros. Para espécies como tigres e tatus, a solidão facilita a caça e a forragem em ambientes onde os recursos são escassos.
No caso dos ratos-toupeira cegos, a solidão evita conflitos por espaço e reduz o risco de doenças. Além disso, fêmeas solitárias podem dedicar toda sua energia aos próprios filhotes, sem precisar cuidar dos filhotes de outros.
Interações sociais sutis e aprendizado
Apesar de sua natureza solitária, muitos animais mantêm interações sociais significativas. Por exemplo, ratos Karoo, do sul da África, compartilham áreas de forrageamento com parentes e, ocasionalmente, tocas. Até mesmo polvos, conhecidos por sua solidão, podem se reunir em locais com recursos abundantes, como a "cidade dos polvos" na Baía de Jervis, na Austrália, onde indivíduos coexistem e interagem de maneiras complexas.
Animais solitários também demonstram habilidades cognitivas impressionantes. Tartarugas de patas vermelhas, por exemplo, são capazes de aprender observando outras, uma habilidade antes considerada exclusiva de espécies sociais. Essas descobertas desafiam a ideia de que a solidão está associada à falta de inteligência.
Estudar animais solitários pode oferecer insights valiosos para os humanos, especialmente em um mundo onde a solidão está se tornando mais comum. Pesquisas com ratos-toupeira cegos, por exemplo, podem ajudar a entender condições neurológicas que afetam o comportamento social. Além disso, esses animais nos lembram que a solidão não é necessariamente negativa e que viver sozinho pode ser uma escolha vantajosa.