Entenda por que o maior campo de 'espelhos alienígenas' no deserto será desativado

Em operação desde 2004, projeto já foi tido como futuro para geração de energia

Créditos: Reprodução: Youtube The Timken Copany
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No meio do deserto de Mojave, a usina solar Ivanpah se destaca como um gigantesco campo cintilante, refletindo o sol através centenas de milhares de espelhos voltados para três torres imponentes, mais altas que a Estátua da Liberdade. Quando entrou em operação em 2014, na divisa entre Califórnia e Nevada, foi celebrada como um marco para a energia solar. No entanto, pouco mais de uma década depois, está prestes a ser desativada.

A NRG Energy, uma das proprietárias da usina, anunciou em janeiro que rescindiria contratos com empresas de energia e, caso obtenha aprovação regulatória, começará a desativar Ivanpah a partir de 2026. O local poderá ser reaproveitado para um novo modelo de geração solar.

Para críticos, a usina se tornou um símbolo de desperdício de recursos públicos e impactos ambientais, especialmente devido às preocupações com a vida selvagem local. Já para outros, o encerramento reflete o processo natural de avanços tecnológicos e seleção de soluções mais viáveis para a transição energética.

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No início dos anos 2000, a energia solar concentrada — tecnologia adotada em Ivanpah — parecia promissora. O sistema utiliza heliostatos, espelhos controlados por computador que direcionam a luz para torres onde caldeiras aquecem a água, gerando vapor para movimentar turbinas e produzir eletricidade. Um dos diferenciais desse modelo era a capacidade de armazenar calor para continuar gerando energia mesmo após o pôr do sol.

O projeto recebeu apoio governamental, incluindo garantias de empréstimos de US$ 1,6 bilhão do Departamento de Energia dos EUA, além de contratos de fornecimento com as concessionárias Pacific Gas & Electric Company e Southern California Edison. Em sua inauguração, foi considerada a maior usina solar térmica do mundo, ocupando aproximadamente 13 quilômetros quadrados de terras federais.

Apesar do entusiasmo inicial, a tecnologia revelou desafios operacionais significativos. Jenny Chase, analista de energia solar da BloombergNEF, explica que esse modelo combina a complexidade das usinas movidas a combustíveis fósseis com os desafios de sistemas solares descentralizados. Os espelhos precisam rastrear o sol com extrema precisão, e pequenas variações afetam a eficiência da usina. Além disso, a manutenção de equipamentos mecânicos sofisticados mostrou-se dispendiosa e complexa.

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Barateamento de painéis  

O fator decisivo para o declínio de Ivanpah, no entanto, foi a queda vertiginosa dos custos da energia fotovoltaica, baseada em painéis solares. Atualmente, módulos solares são vendidos a preços muito inferiores aos de uma década atrás, tornando essa alternativa mais competitiva e acessível. As baterias também evoluíram, resolvendo o problema do armazenamento de energia sem necessidade de tecnologias térmicas complexas.

Diante desse cenário, a NRG Energy optou por negociar o fim antecipado dos contratos de fornecimento. A Pacific Gas & Electric Company aceitou a rescisão, o que, segundo a empresa, reduzirá custos para os consumidores da Califórnia. A Southern California Edison, por sua vez, segue em negociações com os proprietários e o governo.

Ambientalistas criticam modelo

Além das questões econômicas, Ivanpah enfrentou resistência de ambientalistas. A construção da usina alterou ecossistemas do deserto, impactando a fauna local, incluindo tartarugas. Outra preocupação foi a morte de pássaros, incinerados ao sobrevoarem os feixes de calor intenso refletidos pelos espelhos.

Para alguns, o encerramento da usina reforça a necessidade de avaliar melhor investimentos em energia renovável. No início do governo Trump, houve uma pausa na aprovação de novos projetos do setor em terras federais, refletindo um ceticismo sobre incentivos públicos para tecnologias emergentes. Por outro lado, especialistas argumentam que o desenvolvimento de fontes limpas exige investimentos diversificados, e que a experiência de Ivanpah, apesar de seus desafios, contribuiu para o avanço da energia solar como um todo.

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