Brasil registrou uma das maiores perdas de corais em 2024, segundo cientistas

De acordo com relatório, mortandade superou os índices de 2019, quando o país registrou o primeiro branqueamento em massa.

Créditos: Divulgação/UFPE
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O balanço anual de 2024 do projeto Coral Vivo, divulgado  no final de dezembro do ano de 2024, traz à tona preocupações em relação aos efeitos da intensa onda de calor associada ao fenômeno El Niño.

Segundo o relatório, os recifes de coral brasileiros enfrentaram o segundo grande episódio de branqueamento, que resultou em elevada mortalidade. As regiões mais impactadas foram na porção norte do Nordeste, com danos mais evidentes no litoral de Maragogi (AL), Natal (RN) e Salvador (BA).

De acordo com Miguel Mies, oceanógrafo e pesquisador do Instituto Coral Vivo, em entrevista à Folha, os efeitos têm sido ainda mais devastadores do que em 2019, quando o país registrou o primeiro branqueamento em massa.  

No Sudeste e no sul da Bahia, os efeitos da onda de calor foram menos severos e de curta duração, ocasionando mortalidade reduzida. A área abriga os recifes mais extensos e biodiversos do país.

Apesar disso, as duas espécies mais afetadas no evento de branqueamento de 2019 voltaram a sofrer perdas significativas em 2024: o coral-de-fogo (Millepora alcicornis) e o coral-vela (Mussismilia harttii), sendo esta última uma espécie endêmica e ameaçada de extinção.

O branqueamento ocorre quando os pólipos dos corais expulsam as zooxantelas, organismos simbóticos que vivem em seus tecidos e garantem a pigmentação. Em troca de abrigo e nutrientes fornecidos pelo coral, as zooxantelas produzem substâncias essenciais à sobrevivência do hospedeiro por meio da fotossíntese. Com o aumento da temperatura, essa relação é interrompida, levando à perda de cor e, em muitos casos, à morte dos corais.

O relatório enfatiza ainda a necessidade de reforçar políticas públicas e criar áreas de conservação, visando proteger os ecossistemas coralíneos, especialmente no litoral sul da Bahia.

O monitoramento abrangeu 18 pontos da costa brasileira, reunindo informações cruciais para orientar estratégias de conservação.

Segundo dodos da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (Noaa, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, o mesmo processo recorde de branqueamento em massa foi observado em 2024 ao redor do mundo. 

Perda da biodiversidade e econômica 

Os pesquisadores alertam para as graves consequências da perda de corais para a biodiversidade e a economia. Além de protegerem as praias da erosão, os recifes fornecem alimento, abrigo e áreas de reprodução para diversas espécies, sustentando a pesca e o turismo, fundamentais para comunidades costeiras.

A principal preocupação é o aquecimento dos oceanos causado pelas mudanças climáticas, que tornam esses ecossistemas ainda mais vulneráveis. Em 2024, o fenômeno El Niño também desempenhou um papel crucial ao elevar a temperatura das águas do Oceano Pacífico Equatorial e alterar padrões climáticos globais. Esse fenômeno, que ocorre em intervalos de três a sete anos, influencia a dinâmica de transporte de umidade e altera a distribuição das chuvas em diversas regiões do mundo.

Segundo ainda Miles, para resolver esse problema, "o planeta precisa parar de esquentar. Isso envolve uma união global, não só dos brasileiros, mas do mundo inteiro, em torno da redução da emissão de gases de efeito estufa. E esse é o grande desafio", reforça" em entrevista à Folha, sublinhando a importância de ações coordenadas para mitigar os impactos das mudanças climáticas e preservar um dos ecossistemas mais importantes e ameaçados do planeta.

O projeto Coral Vivo iniciou suas atividades em 1996 no Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e desde então se consolidou como referência em pesquisa nacional e internacional. Com foco na compreensão dos ciclos de vida dos corais, a iniciativa tem contribuído para o desenvolvimento de técnicas eficazes de recuperação de recifes degradados. Atualmente o monitoramento do projeto é realizado em parceria com  15 universidades e institutos de pesquisa, com financiamento da Petrobras e Arraial d’Ajuda Eco Parque. 

*Com informações de Folha e Agência Brasil 

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