Em 1815, o Monte Tambora, na Indonésia, protagonizou a maior erupção vulcânica já registrada. O evento lançou partículas na atmosfera, resfriou o planeta e desencadeou crises globais, como o “ano sem verão”, falhas nas colheitas, fome e até uma pandemia de cólera. Mais de dois séculos após o ocorrido, cientistas alertam para a possibilidade de um evento de magnitude semelhante no século XXI.
Markus Stoffel, especialista da Universidade de Genebra, aponta que há uma chance de 1 em 6 de que isso ocorra até 2100. Em um mundo mais aquecido e populoso, os impactos seriam ainda mais devastadores, agravados pelas mudanças climáticas e pela intensa urbanização.
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Erupções vulcânicas emitem dióxido de enxofre, que, ao atingir a estratosfera, forma partículas que refletem a luz solar e resfriam temporariamente o planeta. O Monte Pinatubo, por exemplo, reduziu as temperaturas globais em 0,5 °C após sua erupção em 1991. Eventos como o Tambora, entretanto, podem causar quedas de até 1,5 °C, com efeitos muito mais profundos.
Embora o resfriamento global possa parecer um alívio para o aquecimento atual, ele traria desastres como colapsos agrícolas e crises humanitárias. Segundo Alan Robock, especialista em clima, em entrevista à CNN, tais erupções afetam também sistemas de chuva, alterando monções em regiões cruciais como a Ásia e a África.
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Vulcão pode resfriar o planeta
Com o agravamento das mudanças climáticas, os efeitos de uma grande erupção podem ser ampliados. O aquecimento atmosférico e oceânico altera a dispersão de partículas, intensificando o resfriamento.
Apesar de parecer contraditório, um planeta mais aquecido pode intensificar o efeito de resfriamento causado por grandes erupções vulcânicas. Isso acontece porque o clima influencia diretamente a formação e o transporte das partículas de aerossol, conforme explica Thomas Aubry, especialista em vulcanologia física da Universidade de Exeter.
Com o aumento da temperatura global, os padrões de circulação do ar na atmosfera se tornam mais rápidos, o que acelera a dispersão dessas partículas e reduz o tempo para que elas cresçam. Aerossóis menores, por sua vez, são mais eficazes em refletir a luz solar do que partículas maiores, amplificando o efeito de resfriamento.
Além disso, o derretimento de calotas polares e chuvas intensas podem intensificar atividades vulcânicas, aumentando a frequência de eventos.
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Impacto econômico
Os impactos socioeconômicos seriam catastróficos. Estima-se que uma erupção comparável à de Tambora poderia gerar perdas econômicas de US$ 3,6 trilhões em seu primeiro ano, enquanto a segurança alimentar global seria colocada em risco. Cerca de 800 milhões de pessoas vivem em áreas vulcânicas ativas, tornando estratégias de evacuação e preparação indispensáveis.
Ainda que seja impossível prever quando e onde ocorrerá a próxima grande erupção, especialistas destacam a necessidade de ações preventivas. Avaliações de risco, planos de evacuação e auxílio humanitário podem mitigar os danos. Como Stoffel enfatiza, a probabilidade de um evento assim pode parecer remota, mas suas consequências, em um mundo despreparado, seriam imensuráveis.
Com informações de CNN