Os impactos da saída dos EUA do Acordo de Paris para a crise climática

Donald Trump assume novo governo com postura ainda mais radical para conter políticas de combate às mudanças climáticas

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos.Créditos: Gage Skidmore/Wikimedia Commons
Escrito en MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE el

Ao assumir a presidência dos Estados Unidos na segunda-feira (20), o extremista Donald Trump anunciou uma série de medidas em prol da sua política negacionista, como a retirada do país do Acordo de Paris, assim como fez em seu primeiro mandato em 2017. Na época, Trump afirmou que o acordo prejudicava a economia dos EUA e que outras nações se beneficiavam às custas de seu país. 

Além de anunciar a retirada dos EUA do pacto, Trump também afirmou que vai investir na produção de combustíveis fósseis, principais responsáveis pela crise climática, e declarou "emergência energética" no país para aumentar a exploração de petróleo. Enquanto o planeta caminha para uma realidade de fenômenos climáticos extremos cada vez mais frequentes, Trump busca atrapalhar os esforços globais para conter a crise climática. 

Como a maior economia do mundo e o segundo país que mais emite gases do efeito estufa, a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris representa diversos riscos para o meio ambiente, com o país se apresentando como um grande potencializador da crise climática. Em entrevista à Fórum, o coordenador de política internacional do Observatório do Clima, Claudio Angelo, aponta dois principais riscos da saída dos EUA do acordo. 

O primeiro é a influência que os Estados Unidos podem ter em outros países que possuem líderes com o mesmo pensamento anticlima de Trump, podendo resultar em um efeito manada de uma série de nações se retirando do acordo. "Isso seria o fim do processo multilateral de clima e um desastre completo para humanidade, porque o acordo de Paris, por pior que ele seja, é a única coisa que nos separa hoje de um aquecimento global de 3°C ou mais", afirma Claudio Angelo. 

Outro impacto é consequência do fato dos EUA emitirem cerca de 5 bilhões de toneladas de gases do efeito estufa e sua saída tornar impossível o alcance da meta climática de limitar o aquecimento global em 1,5°C, jogando a conta para outros países. 

"Hoje a gente precisa que todo mundo acelere muito as suas reduções de emissões, e ter um país fora do jogo basicamente mata a meta de 1,5° do Acordo de Paris. Não mata a ação climática, mas mata essa meta específica de um 1,5°, o que garante um futuro muito pior para toda a humanidade, infelizmente", explica o coordenador. 

Claudio ainda acrescenta que o pior não é a saída dos EUA do acordo, mas o fato do governo Trump também tentar interromper todas as outras políticas de redução de emissões. 

O que esperar do governo Trump em relação ao clima

Em seu primeiro mandato, Trump revogou uma série de medidas a favor do meio ambiente. Ao tomar posse, o presidente eliminou o Plano de Ação Climática adotado durante o governo de Barack Obama, revisou o Plano de Energias Limpas, que restringia usinas energéticas, liberou a exploração de petróleo e mineração em áreas federais, revogou decretos que exigiam análises sobre custo social das emissões de carbono, óxido nitroso e metano e autorizou um aumento em 30% da extração de madeira em parques nacionais.

Para esse novo governo, além de anunciar a saída do Acordo de Paris, Trump também declarou que vai revogar medidas de Joe Biden para incentivar carros elétricos, apoiar o aumento da produção de energia nuclear e bloquear projetos de energia eólica. O presidente também prometeu anular a proibição da exploração de petróleo e gás em áreas costeiras estratégicas dos EUA. Essa última medida protege cerca de 253 milhões de hectares de águas.

Neste segundo mandato, Trump assume o poder com uma postura ainda mais radical, extremista e autoritária não só em relação a pautas sociais, mas também ao debate ambiental. Esse cenário é uma forte preocupação para ambientalistas e defensores do meio ambiente. Em abril do ano passado, o secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, Simon Stiell, alertou que a humanidade tem apenas dois anos para "salvar o planeta" de uma crise climática ainda pior. Com os esforços de Trump para conduzir uma política totalmente contrária a esse alerta, tudo indica que a situação deve se agravar nos próximos meses.

Fundo Amazônia 

Uma das grandes preocupações do Brasil em relação à política anticlima de Trump é o Fundo Amazônia, que recebe investimentos de diversos países, como os Estados Unidos, para combater o desmatamento e garantir a preservação da Amazônia Legal. Em novembro de 2024, o ex-presidente Biden esteve em Manaus, tornando-se o primeiro presidente dos EUA a visitar a Floresta Amazônica, para anunciar investimento no Fundo. Porém, da promessa de US$ 500 milhões, Biden anunciou apenas US$ 50 milhões.

A perspectiva com Trump, de acordo com Claudio Angelo, é ainda pior. "O Trump vai suspender não só o dinheiro do Fundo Amazônia como toda ajuda americana aos países que ele acha que não merecem, a países que ele acha que 'deram o azar' de ser pobre, essa coisa bem extrema direita, de defender que se você é pobre é porque não se esforçou, ignorando completamente que se esses países são pobres, em parte é porque os Estados Unidos os explorou durante décadas", afirma o especialista. 

"Ele [Trump] está fazendo agora a crueldade final de cortar todo o financiamento e ajuda ao desenvolvimento climático", acrescenta Claudio.

Governo Trump e a COP30

Já em relação à COP30, que será realizada em Belém, no Pará, em novembro, Claudio defende que a melhor postura que Trump pode adotar é não comparecer ao evento, já que seu posicionamento é totalmente contrário aos avanços na proteção do clima e do meio ambiente. "É possível que a gente não tenha diplomacia americana em Belém e esse seria o melhor cenário, porque o medo é que os diplomatas americanos, instruídos pelo Trump e a mando do Marco Rubio, que é um psicopata, pudessem ir para Belém e bloquear tudo. E isso seria o pior dos piores cenários", afirma. 

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