PRÁTICAS INSUSTENTÁVEIS

Sob governo Trump, práticas de 'greenhushing' e 'greenwashing' devem aumentar

Relatório observa avanço de medidas contrárias ao meio ambiente por empresas, que devem ser impulsionadas por negacionismo climático trumpista

5 bilhões de pessoas podem viver em terras áridas nas próximas décadas, segundo a ONU.Créditos: Jirí Dockal/Pexels
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O termo "greenhushing" descreve o ato de empresas reduzirem ou omitirem suas ações ambientais, contrastando com o "greenwashing", onde ações sustentáveis são maquiadas.

Esse fenômeno tem crescido, especialmente após políticas do governo Trump, que atacam a sustentabilidade e favorecem a exploração de combustíveis fósseis. Além disso, deve aumentar o movimento anti-ESG, contra a governança ambiental, social e corporativa.

Empresas, embora reconheçam os benefícios de comunicar suas metas ambientais, optam por não fazê-lo, temendo críticas de investidores e a falta de apoio governamental no greeenhushing, levando a uma menor transparência quanto a suas políticas de sustentabilidade e responsabilização. O termo existe desde pelo menos 2017, quando foi criado.

De acordo com o relatório South Pole, da Suíça, publicado em janeiro de 2024, dez em cada 14 empresas estão reduzindo a sua comunicação sustentável com medo de serem acusadas de greenwashing ou com medo de represálias econômicas do mercado ou dos governos.

O relatório foi produzido com base em 1,4 mil empresas de 12 países diferentes, e apontou essa tendência como “preocupante”, destacando que compartilhar iniciativas ambientais pode inspirar e promover parcerias colaborativas, enquanto esconder pode promover ações negacionistas do clima.

Os Estados Unidos é considerado hoje o maior produtor de petróleo do mundo e o maior emissor de gases de efeito estufa per capita. Embora estejam adotando iniciativas para reduzir suas emissões, as medidas não serão suficientes para conter os gases de efeito estufa. A implementação da Lei de Redução da Inflação, sancionada pelo presidente Joe Biden, destaca-se como um exemplo, com foco na diminuição das emissões no setor energético. 

No entanto, o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos pode ter um impacto negativo nas políticas climáticas do país. Embora o efeito exato dessa mudança ainda seja incerto, uma estimativa preliminar do CAT sugere que o desmonte ambiental característico de sua gestão anterior poderia adicionar 0,04°C ao aquecimento global, que se projeta para alcançar 2,7°C até 2100.

Reconhecido negacionista da crise climática, o republicano prometeu durante sua campanha aumentar a produção de combustíveis fósseis e limitar os gastos de Biden com iniciativas de economia verde. Trump também declarou que retiraria os Estados Unidos do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, como fez por um período durante seu primeiro mandato. Ele ainda está cogitando a saída da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) de 1992, o tratado internacional que estabelece a estrutura para os países cooperarem no enfrentamento das mudanças climáticas.

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Prova do negacionismo ao colapso climático se explica diante dos incêndios florestais que começaram em 7 de janeiro na região de Los Angeles, na Califórnia, que já são considerados os mais devastadores da história da cidade. Até o momento, as chamas consumiram mais de 23,7 mil hectares (cerca de 237 km²). O desastre resultou em pelo menos 25 mortes e forçou a migração de aproximadamente 180 mil pessoas. Além da tragédia, a desinformação viral vem sendo um entrave para os estadunidenses.

Conforme mostrou reportagem da Fórum, a mídia trumpista e simpatizantes de extrema direita nas redes sociais dos Estados Unidos têm aproveitado os incêndios para disseminar fake news sobre as causas e responsabilidades da tragédia. O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, é o que mais propagou desinformação sobre os incêndios em Los Angeles até o momento.

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Outra reportagem da Fórum, baseada em informações do jornal Fast Company Brasil, mostrou que as big techs e as inteligências artificiais vão gerar alto custo ao meio ambiente e à saúde pública nos próximos anos, devido ao impacto da poluição atmosférica gerada por pesquisas em datacenters em todo o mundo. A maioria deles, em torno de 2,7 mil, estão hoje nos Estados Unidos e consomem grandes quantidade de água para funcionarem.

Estimativas do Departamento de Energia dos EUA indicaram que o consumo de energia pelos data centers pode aumentar de duas a três vezes até 2028. Em 2023, esses centros de dados produziram pelo menos 106 milhões de toneladas métricas de emissões, o que equivale a quase as 131 milhões de toneladas métricas de CO2 emitidas pela indústria de aviação comercial dos EUA anualmente, conforme a MIT Technology Review.

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Cresce repressão a protestos ambientais, mais comum em países desenvolvidos

Um dos problemas que vem crescendo paralelamente é, segundo um relatório publicado por pesquisadores da Universidade de Bristol, a criminalização e repressão de protestos ambientais e climáticos. O estudo identificou quatro mecanismos principais: introdução de leis antiprotesto, criminalização via tribunais, repressão policial (envolvendo violência física e intimidação), e assassinatos de ativistas, frequentemente realizados por forças estatais ou privadas. 

Os pesquisadores destacam como essas práticas despolitizam movimentos e ameaçam a democracia e os direitos humanos globais, especialmente em contextos de crescente crise ambiental e climática. Ao analisar dados de 14 países, os pesquisadores expõem estratégias estatais e privadas que vão desde legislações restritivas até assassinatos de defensores ambientais. 

O relatório "Criminalisation and Repression of Climate and Environmental Protests" destaca alguns pontos importantes para serem observados diante da crescente em países como Alemanha, França, Países Baixos, Suécia, Reino Unido, Austrália e EUA, como:

  • Leis antiprotesto: Países introduziram legislações que criam novos crimes ou aumentam penas para atividades de protesto, além de ampliar os poderes policiais.
  • Criminalização via tribunais: Leis antiterrorismo ou contra crime organizado têm sido usadas para enquadrar ativistas, despolitizando suas ações e dificultando defesas legais.
  • Repressão policial: Ativistas enfrentam violência, prisões arbitrárias, infiltrações e intimidações por forças policiais e atores privados.
  • Assassinatos e desaparecimentos: Entre 2012 e 2023, mais de 2.000 defensores ambientais foram mortos

Abaixo, a Fórum disponibiliza o relatório da Universidade de Bristol:

 

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