Um mistério ronda Gansbaai, uma cidade pesqueira e turística no município do distrito de Overberg, Western Cape, na África do Sul.
A primeira carcaça de um tubarão branco foi encontrada em 9 de fevereiro de 2017, uma fêmea de 2,6 metros que não apresentava sinais de captura humana. Até então, a causa de sua morte permanecia um mistério, assim como o destino dos tubarões brancos em Gansbaai, conforme observou a Alison Towner, bióloga marinha da Universidade de Rhodes. Nesse mesmo período, a pesquisadora relatou que três tubarões marcados acusticamente migraram para a Baía de Plettenberg e a Baía de Algoa, localizadas a mais de 500 km a leste.
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Os avistamentos dos tubarões brancos só voltaram a ocorrer em maio, após um período alarmante de oito semanas sem registros. A população de grandes tubarões brancos em Gansbaai, que era entre 800 e 1.000 na década de 2010, começou a diminuir à medida que mais carcaças eram encontradas. Quando uma sexta carcaça apareceu em junho de 2021, os tubarões não retornaram por mais um ano.
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Determinada a descobrir a causa dessas mortes, Towner e sua equipe realizaram necropsias nos tubarões encontrados. As análises revelaram que todos os corpos apresentavam ferimentos precisos na região das guelras e estavam sem fígado, indicando um padrão comum nas mortes. As evidências apontavam para orcas como as responsáveis.
Duas orcas machos conhecidas como Port e Starboard foram identificadas como suspeitas. Elas foram vistas na costa logo após cada descoberta de carcaça e também atacando tubarões sevengill nas proximidades. A confirmação veio em 16 de maio de 2022, quando um drone filmou Starboard atacando um tubarão branco em Mossel Bay.
A situação se agravou quando mais tubarões brancos foram mortos naquele dia, levando os sobreviventes a abandonarem a área. Em junho do ano seguinte, Port e Starboard retornaram a Mossel Bay, onde o cheiro do fígado de tubarão indicava novas mortes.
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Atualmente, os grandes tubarões brancos praticamente desapareceram da região. Desde o incidente em 2023, menos de dez avistamentos foram registrados em 2024. A ausência desses predadores tem consequências significativas para o ecossistema local; as populações de focas e tubarões-baleeiros aumentaram consideravelmente em Gansbaai.
A falta dos grandes tubarões brancos pode desencadear uma cascata trófica, desequilibrando o ecossistema. Towner observa que as focas tornaram-se mais ousadas e começaram a predar pinguins africanos ameaçados. A situação é ainda mais preocupante com o surto de raiva entre as focas no Cabo Ocidental.
Pesquisadores alertam que as populações de tubarões estão enfrentando uma extinção global devido à pesca excessiva. O professor Nicholas Dulvy da Universidade Simon Fraser destaca que a abundância global de tubarões foi reduzida pela metade desde 1970. Sem regulamentações eficazes, os danos observados na África do Sul podem se espalhar ainda mais.