Florestas do futuro: o experimento que pode mudar o que sabemos sobre as árvores e sobre o clima

Um experimento britânico de sete anos simula a atmosfera terrestre de 2050 em florestas a fim de entender "o papel que as árvores desempenham para manter a Terra fria"

Árvores.Créditos: Pixabay
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Pesquisadores do Instituto de Pesquisa Florestal da Universidade de Birmingham (BIFoR, na sigla em inglês), na Inglaterra, simularam um "ambiente futuro para florestas", que corresponderia ao ano de 2050, para entender como deve ser o funcionamento dos ecossistemas daqui a 25 anos.

Como informa uma reportagem da BBC britânica, que entrevistou Rob MacKenzie, cientista atmosférico diretor do BIFoR e coordenador da pesquisa, o experimento tem sido feito há pelo menos sete anos, e teve resultados surpreendentes.

McKenzie e os demais pesquisadores florestais têm bombeado altas quantidades de dióxido de carbono (CO2) ao redor dos carvalhos de uma pequena área florestal de Staffordshire, condado na região central da Inglaterra, conhecido por sua ampla área rural. 

Ali, "as raízes se emaranham na terra" e "canos e fios se entrelaçam" — é o sistema de "encanamento" responsável por bombear os gases e simular a atmosfera que deve ser a da Terra em 2050.

O processo, chamado "enriquecimento de CO2 ao ar livre", quer estudar os fluxos de carbono florestal, o funcionamento da absorção de nutrientes e uso da água e o efeito do CO2 nos ecossistemas.

"Os tubos transportam o CO2 pelo chão da floresta, onde canos de esgoto de oito andares de altura chegam ao topo do dossel. Esses tubos, escondidos entre os troncos das árvores e sustentados por torres de metal, têm orifícios simples, que permitem que o CO2 escape para a atmosfera."

Já há experimentos dessa espécie sendo feitos na Austrália e na Amazônia, informa a BBC, a fim de entender "o papel que as árvores desempenham para manter a Terra fria". Uma dessas funções é a captura de gás metano, responsável pelo efeito estufa e altamente prejudicial à atmosfera. 

McKenzie disse que o experimento de Staffordshire revelou algo inusitado: as árvores têm um outro serviço ainda mais inesperado além da captura de gases nocivos: é a hospedagem de micróbios importantes, capazes de "comer o metano da atmosfera"

Os gases do efeito estufa emitidos pelas atividades humanas, além disso, fazem as plantas crescerem mais rápido, processo conhecido como "fertilização com CO2".

Mas um efeito adverso está escondido aí: conforme aumentam os extremos climáticos, como são as condições de calor e seca extremos, incêndios florestais e desmatamento, derretimento de camadas de permafrost e aquecimento dos oceanos, os "sumidouros de carbono", como são as florestas, podem se transformar em "fontes de carbono" — uma espécie de 'psicologia reversa'. Isso significa que, em certo ponto, as florestas podem emitir mais CO2 do que absorvem.

O experimento de McKenzie mostrou que as árvores não só absorvem CO2, mas desenvolvem uma "casca extra" cheia dele, crescendo cerca de 10% a mais do que árvores normais. As árvores podem armazenar carbono por décadas, e as raízes e folhas se decompõem mais rápido, "liberando carbono de volta à atmosfera".

De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza, mais de um terço das árvores do mundo estão na lista vermelha de perigo de extinção devido às atividades de desmatamento e ao avanço do aquecimento global.

As árvores e os micróbios escondidos nas suas cascas são responsáveis por tornar o metano atmosférico "melhor para o clima", "comendo" até 50 milhões de toneladas de metano por ano.

"Não há quantidade de reflorestamento que possamos fazer que nos permita continuar queimando combustíveis fósseis na taxa em que os estamos queimando”, diz McKenzie. “Certamente há um papel para as florestas, mas não é uma bala de prata”. 

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