Em 2023, o ano mais quente já registrado, pesquisadores internacionais observaram um colapso temporário na capacidade da Terra de absorver carbono. Florestas, plantas e solos, que normalmente capturam uma quantidade significativa de carbono, praticamente não conseguiram realizar essa função, destacando a fragilidade desses ecossistemas em meio à crise climática.
O fenômeno não se restringe à terra. Nos oceanos, o derretimento acelerado das geleiras na Groenlândia e no Ártico está afetando a Corrente do Golfo, diminuindo a capacidade dos mares de absorver carbono. O zooplâncton, que desempenha um papel crucial no sequestro de carbono no fundo dos oceanos, também sofre com a maior exposição à luz solar, causada pela diminuição do gelo marinho, o que pode alterar sua migração e agravar o problema.
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Ainda que o colapso na absorção terrestre de carbono seja temporário e possa melhorar na ausência de secas ou incêndios, o cenário de 2023 demonstra o quanto os ecossistemas estão sob ameaça. Sem alternativas tecnológicas em larga escala para remover o carbono da atmosfera, florestas, pastagens, turfeiras e oceanos permanecem a única linha de defesa para neutralizar as emissões humanas, que atingiram 37,4 bilhões de toneladas em 2023.
Atualmente, pelo menos 118 países dependem dos ecossistemas naturais para cumprir suas metas climáticas. No entanto, o aumento das temperaturas globais e os eventos climáticos extremos estão levando a Terra a um ponto de instabilidade. O rápido colapso do sumidouro de carbono terrestre observado em 2023 não foi previsto nos principais modelos climáticos, o que aumenta a chance de um aquecimento global ainda mais acelerado do que o previsto.
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Equilíbrio perdido
Nos últimos 12.000 anos, a Terra manteve um equilíbrio climático que permitiu o desenvolvimento da agricultura e o crescimento da população para mais de 8 bilhões de pessoas. Com o aumento das emissões, a natureza também aumentou sua capacidade de absorção de carbono, mas esse equilíbrio está se deteriorando com o aquecimento global. Atualmente, apenas a bacia do Congo ainda funciona como um grande sumidouro de carbono. Em contrapartida, a bacia amazônica, impactada pelo El Niño, desmatamento e aquecimento, enfrenta uma seca recorde, enquanto as florestas do sudeste asiático passaram de absorvedoras a emissoras de carbono.
Estudo publicado em julho revelou que, entre 1990 e 2019, a absorção de carbono pelas florestas foi relativamente estável, mas com grandes variações regionais. As florestas boreais, que contêm um terço do carbono terrestre, sofreram uma queda drástica na absorção devido a surtos de besouros, incêndios e desmatamento. Isso, combinado com a fragilidade da Amazônia, contribuiu para o colapso do sumidouro de carbono em 2023, provocando um aumento na concentração de carbono atmosférico.
“O acúmulo de CO2 na atmosfera em 2023 é extremamente elevado, enquanto a absorção terrestre está muito baixa”, afirma Philippe Ciais, pesquisador do Laboratório Francês de Ciências Climáticas. Ele ressalta que a tendência de declínio na absorção de carbono no hemisfério norte já dura oito anos e que há poucas razões para acreditar em uma recuperação.
Além disso, os oceanos, que absorveram 90% do calor gerado pela queima de combustíveis fósseis, também estão perdendo eficiência na captura de carbono, conforme estudos indicam um enfraquecimento progressivo desse sumidouro vital.