Gripe aviária: especialistas alertam para expansão de doenças zoonóticas nos próximos anos

Risco reflete mudanças causadas pelas atividades humanas como desmatamento e a perda de biodiversidade; atualmente, três quartos das doenças emergentes são transmitidas entre animais e humanos.

Créditos: Arquivo/Agência Brasil
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A gripe aviária, causada pela cepa H5N1, está sendo descrita por especialistas como uma "panzoótica" – um fenômeno inédito capaz de ultrapassar barreiras de espécies e afetar uma ampla gama de animais, além de representar riscos significativos à saúde humana. 

Desde que começou a circular de forma mais agressiva, o vírus tem causado infecções em fazendas leiteiras e já foi identificado em mais de 48 espécies de mamíferos, como ursos, vacas e leões-marinhos. Recentemente, a primeira morte humana pela doença foi registrada nos Estados Unidos.

Segundo Janet Daly, professora da Universidade de Nottingham, essa característica torna o H5N1 único e altamente imprevisível. “Nunca vimos algo assim. A capacidade do vírus de infectar diversas espécies e causar surtos massivos é um fenômeno sem precedentes”, explica.

Populações inteiras de aves marinhas entram em declínio massivo, com milhões de mortes registradas. Só na América do Sul, mais de 20 mil leões-marinhos morreram no Chile e no Peru, enquanto na Argentina, 96% dos filhotes de elefante-marinho-do-sul não sobreviveram em 2023. Essa mortalidade em massa gera preocupações sobre o impacto na biodiversidade e o potencial de transmissão para humanos.

Embora até agora os casos humanos tenham sido esporádicos e sem transmissão entre pessoas, especialistas seguem vigilantes. Desde o ano passado, 66 infecções humanas foram confirmadas nos Estados Unidos, a maioria associada ao contato direto com aves infectadas. Autoridades de saúde da ONU alertam que o risco de o vírus evoluir para uma forma mais transmissível entre humanos não pode ser ignorado.

A gripe aviária não é um caso isolado. Três quartos das doenças emergentes têm origem zoonótica, ou seja, são transmitidas entre animais e humanos. A pandemia de Covid-19, por exemplo, infectou mais de 58 espécies não humanas, embora, diferente do H5N1, não tenha provocado surtos mortais entre elas. Cientistas afirmam que uma vigilância mais ativa em animais poderia ter acelerado o desenvolvimento de vacinas e estratégias de prevenção.

A expansão de doenças zoonóticas reflete mudanças causadas pelas atividades humanas. O desmatamento, a perda de biodiversidade e a intensificação da agricultura criam condições favoráveis para a propagação de patógenos. “A transformação do uso da terra e a proximidade crescente entre humanos e animais são fatores-chave”, aponta o historiador médico Mark Honigsbaum.

Além disso, o aquecimento global e a destruição de habitats forçam espécies selvagens a ocupar territórios cada vez menores, intensificando o contato com humanos. Vetores como mosquitos e carrapatos, que se proliferam em climas mais quentes, também ampliam os riscos de novas pandemias.

Apesar do cenário preocupante, os cientistas destacam que medidas podem ser adotadas para mitigar os riscos. “Compreendemos cada vez mais os mecanismos dessas doenças. Agora, precisamos de ações práticas para reduzir as ameaças”, conclui Ed Hutchinson, pesquisador da Universidade de Glasgow.

*Com informações de The Guardin 


 

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