A crise climática já não é mais só uma ameaça, é uma realidade. Nas últimas semanas, estamos vendo o país ser tomado por queimadas e incêndios, a qualidade do ar atingir níveis preocupantes para a saúde e os rios enfrentarem uma seca sem precedentes.
O cenário preocupa e gera pânico para muitas pessoas. Uma série de fatores, como aponta o secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, nos trouxeram a essa realidade. O negacionismo climático que ignorou estudos e avisos nos últimos anos e impediu que a pauta do clima tivesse mais importância nas agendas políticas em todas as esferas (federal, estadual e municipal) foi o principal fator que impulsionou a crise climática que enfrentamos hoje.
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Além disso, a consolidação do crime ambiental, que veio se tornando mais influente nos últimos anos, a incapacidade dos governos de lidar com o novo quadro climático, a impunidade e a falta de instrumentos jurídicos para que as pessoas tenham medo de praticar infrações ambientais somaram forças e resultaram na série de desastres que vemos hoje de Norte ao Sul do país.
Apesar de parecer não ter saída, Astrini destaca que é justamente agora que precisamos agir para impedir que a situação piore. "Vivemos uma amostra grátis de como será a vida daqui pra frente. Ou a gente para agora, ou vamos caminhar para um momento em que não haverá mais possibilidade de implementar soluções", diz.
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Astrini afirma que a questão central nesse momento é se vamos aprender com o que estamos vivendo agora e assim não repetir os mesmos erros no futuro. "É preciso traçar planos para abandonar a dependência dos combustíveis fósseis, parar o desmatamento e mudar nosso estilo de produção e consumo. Ainda estamos num momento em que podemos minimizar e fazer escolhas", afirma. "E a gente vai ter que se adaptar, porque não vai retroceder disso", acrescenta.
As últimas notícias sobre a situação climática do país podem gerar um pânico paralisador em que as pessoas perdem a esperança em acreditar que ainda é possível impedir o completo colapso climático. Porém, Astrini reforça que esse é o momento de usar os sentimentos de revolta e indignação para cobrar mudanças políticas.
"A gente não vai ter boas notícias para que baseadas nelas a gente pegue fôlego e vá para a batalha. A gente não pode ficar à espera disso porque não virá. Nós precisamos nos indignar com o que está acontecendo e denunciar, batalhar e cobrar de quem tem o poder de mudar isso", declara Astrini.
"Nós não temos a alternativa de desistir. Ela não pode ser uma opção porque desistir é se condenar e parar de tentar. Estamos numa jornada de oportunidade, as coisas não estão perdidas. A gente ainda tem possibilidade durante essa próxima década. Enquanto houver possibilidade, temos que lutar", completa.
Solução do clima é estatal
Astrini também reforça que a solução do clima é estatal e é fundamental mobilizar os governos, seja federal, estadual ou municipal. Além disso, também é preciso falar para as pessoas que elas precisam escolher bem seus governantes de olho na pauta climática. Hoje temos um Congresso de maioria ruralista e defensora do agronegócio, o principal causador da crise climática, e Astrini destaca que esses parlamentares não vão mudar suas formas de agir.
"Nós precisamos mesmo é mudar de político. Pensar bem na hora do voto. A gente tem um instrumento concreto que é de escolher quem vai girar a máquina estatal", diz.
Mais do que eleger, é necessário também cobrar e pressionar os parlamentares. "Se indignar, fazer escândalo, denunciar, expor e criar constrangimento. Por mais que não pareça, elas sabem que estão fazendo as coisas erradas. E é assim que a gente trata um Congresso tão atrasado e tão antiambiental", afirma Astrini.
Em outubro, acontecem as eleições municipais, que têm um papel importante no combate à crise climática. "A eleição para prefeito tem uma importância local de preparar e adaptar as cidades para eventos extremos. Os prefeitos têm a função de preparar o plano para encarar vulnerabilidades e tornar a população mais resiliente", diz Astrini.
Além disso, a eleição municipal também tem sua importância devido à influência nas eleições federais. "Os prefeitos são base para eleições que a gente tem no Congresso Nacional, pois normalmente se engajam e apoiam candidatos que vão se eleger para a política federal posteriormente. Se a gente eleger prefeitos ruins agora, a gente vai continuar caminhando para eleição de políticos a nível nacional também muito ruins", destaca.
"Não adianta a gente eleger um monte de negacionista que quer destruir o meio ambiente e depois ficar somente se perguntando como mudar as pessoas que foram escolhidas", complementa Astrini.
"A gente precisa verificar bem a quem a gente está dando a caneta, porque essa caneta pode desenhar dias melhores para gente ou pintar o céu de poluição", finaliza.
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