Uma análise inédita do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), divulgada nesta terça-feira (27), apontou que 81,29% dos 2,6 mil focos de incêndio em São Paulo entre quinta (22) e sábado (24) estavam localizados em áreas de uso agropecuário, principalmente de plantação de cana de açúcar e de pastagem.
Além disso, o estudo também mostrou que os focos surgiram quase que simultaneamente, dentro de um intervalo de apenas 90 minutos. O caso chamou a atenção pelo estado ter registrado, em apenas um dia, 23, mais focos de calor do que a Amazônia inteira.
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Para os pesquisadores, esses dados reforçam a suspeita de que os incêndios foram planejados, assim como no "Dia do Fogo", quando produtores rurais realizaram uma série de incêndios criminosos na Amazônia.
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“Não é natural surgirem tantos focos de calor em um curto período, ainda mais em uma região como São Paulo. É como se fosse um Dia do Fogo exclusivo para a realidade do estado, evidenciado pela cortina de fumaça simultânea que surge visualmente a oeste”, afirmou Ane Alencar, diretora de Ciência do Ipam.
A análise foi feita com base em informações de satélites de referência para focos de calor com dados de cobertura e uso da terra, referentes a 2023, produzidos pela Rede MapBiomas, da qual o IPAM faz parte. Também foram utilizadas imagens do satélite GOES para visualização da fumaça e anomalia térmica.
De acordo com a análise, do total de focos de calor em áreas produtivas registrados no estado de São Paulo no período, 44,45% (ou 1,2 mil focos de calor) ocorreram em áreas de cultivo de cana de açúcar; 19,99% (ou 524 focos) em “mosaico de usos” – áreas agropecuárias, nas quais não é possível a distinção entre pasto e agricultura; 9,42% (ou 247 focos) em pastagens; e 7,43% (ou 195 focos) em áreas de silvicultura, soja, citrus, café e outras lavouras.
Em relação às localidades, cinco cidades concentraram 13,31% dos focos de calor ocorridos nos três dias: Pitangueiras (3,36%); Altinópolis (3,28%); Sertãozinho (2,4%); Olímpia (2,17%); e Cajuru (2,1%), todas na região de Ribeirão Preto, com exceção de Olímpia, que fica no polo de São José do Rio Preto.
Para a diretora de Ciência, independentemente do que venham a resultar as investigações do governo federal sobre os incêndios, é preciso transformar a relação do Brasil com o fogo.
“Seja uma ação orquestrada ou não, é urgente reduzir o uso do fogo no manejo agropecuário, e ser muito responsável no controle do fogo quando ele estiver sendo utilizado. O uso indiscriminado e irresponsável do fogo pode causar danos não só ao meio ambiente, mas também à propriedade e à vida das pessoas que, mesmo distantes, recebem o impacto da fumaça”, conclui Alencar.
Ação humana causou 99,9% dos incêndios
O secretário nacional de Proteção e Defesa Civil, Wolnei Wolff, afirmou, nesta segunda-feira (26), que 99,9% dos incêndios que ocorreram no final de semana em São Paulo foram provocados pela ação humana.
Em coletiva de imprensa, Wolff comentou sobre os 31 inquéritos abertos pela Polícia Federal (PF) para apurar a conduta criminosa nos incêndios após o presidente do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rodrigo Agostinho, afirmar que praticamente todos os incêndios registrados são criminosos.
"O que se tem nesse momento é que não houve raio nem acidente de torre que justificasse esses incêndio. 99,9% deles foi atividade humana, o ser humano que por algum motivo acha que o fogo resolve o problema dele, mas ele não ideia de que isso pode perder o controle", disse Wolff.
O secretário também informou que serão utilizadas imagens de satélite na identificação da causa do início dos focos. “Quando a Polícia Federal acha que há alguma coisa de provocação humana, esse inquérito é aberto e o processo corre”, explicou. “Quem vai decidir [o resultado de cada inquérito] é a investigação”,disse.
Até o momento, 48 cidades de São Paulo estão sob alerta de queimadas, duas pessoas morreram, dezenas ficaram feridas e três foram presas; duas em flagrante.
Wolff classificou como motivo de “surpresa” o fato de praticamente 50 municípios paulistas registrarem focos de incêndio ao mesmo tempo, o que reforça a suspeita de terem sido criminosos.