Um estudo conduzido por uma equipe internacional de cientistas a partir de dados de observação de satélites da NASA e do Centro Aeroespacial da Alemanha traz dados alarmantes sobre a disponibilidade de água doce no planeta e o futuro do recurso em países como o Brasil.
De acordo com os cientistas, no estudo publicado na revista Surveys in Geophysics, a Terra pode estar entrando numa fase de seca prolongada impulsionada pelos efeitos das mudanças climáticas.
Te podría interesar
Entre 2015 e 2023, a média de água doce armazenada na terra, contando com a água em forma líquida das superfícies de lagos e rios e com a água subterrânea dos aquíferos, teve uma redução de até 1.200 km³.
Isso equivale a uma diminuição de duas vezes e meia o volume do Lago Erie, entre Estados Unidos e Canadá, considerado o maior lago do mundo em extensão territorial.
Te podría interesar
O impacto dessa redução pode ser visto na agricultura, no fornecimento de água para as populações e na ameaça a ecossistemas globais, e indica uma mudança brusca nos "padrões de armazenamento de água" do planeta.
De acordo com Matthew Rodell, hidrologista da NASA, essa mudança foi primeiro avistada a partir das observações dos satélites GRACE (Gravity Recovery and Climate Experiment), que identificaram alterações sutis no campo gravitacional da Terra e na flutuação das massas de água do solo.
A queda nos níveis de água são aparentes: no último ano, houve uma série de secas severas no mundo inteiro, cerca de 30 das mais intensas já registradas. No Brasil, a seca extrema do Rio Negro fez com que o corpo d'água atingisse seu menor nível em 122 anos, e a seca do rio Paraguai levou ao menor nível de água desde 1900.
De acordo com um relatório de outubro da Global Commission on the Economics of Water, a crise hídrica já afeta cerca de 3 bilhões de pessoas em todo o mundo, e a produtividade de culturas em diferentes regiões é ameaçada pelo fenômeno de "afundamento do solo" causado pelo esgotamento de águas subterrâneas.
Os eventos climáticos extremos coincidem com um dos El Niños mais extremos já registrados desde a década de 1950, ocorrido entre os anos de 2014 e 2016.
As mudanças atmosféricas causadas pelo aquecimento global são capazes de alterar também o padrão das precipitações, o que se traduz em mudanças no ciclo de distribuição e no balanço hídrico do planeta, responsável por controlar a quantidade de água doce disponível no mundo.
Para Michael Bosilovich, da NASA, o aumento das temperaturas faz com que a terra retenha mais vapor d'água, o que leva a chuvas mais intensas (embora menos frequentes) e a padrões climáticos mais extremos.
Nos períodos de seca prolongada, por outro lado, o solo se compacta e perde a capacidade de absorção de água quando ela finalmente chega em forma de chuva.
Isso significa, ademais, que grande parte da água das chuvas acaba escoando para os oceanos ao invés de ser absorvida pelos solos para recarregar os aquíferos subterrâneos.
Desde 2015, os níveis globais de água doce decaíram continuamente, sem alcançar seus volumes anteriores. Foram nove dos anos mais quentes já registrados, e o cenário pode persistir, desafiando a gestão de recursos hídricos e a segurança alimentar em todo o mundo.