O planeta vem enfrentando graves efeitos da crise climática nos últimos anos e caminha para atingir um ponto irreversível em relação aos eventos extremos. Somente este ano, no Brasil, as populações sentiram na pele as consequências da crise climática devido a enchentes, calor extremo, fortes temporais e outros acontecimentos.
O cenário reforça a urgência de adotar ações para mitigar os efeitos da crise climática e adaptar as cidades para os próximos anos, já que a previsão é que as coisas piorem e muito. De acordo com uma análise publicada na revista científica BioScience nesta terça (8), dos 35 parâmetros utilizados para monitorar as mudanças climáticas anualmente, 25 atingiram recordes extremos no último ano - ou seja, 70%.
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Esses parâmetros são, por exemplo, a temperatura média da superfície da Terra, a cobertura de gelo e a acidez do oceano.
O estudo, divulgado pela Agência Bori, foi elaborado por uma coalizão internacional liderada por cientistas da Universidade de Oregon, dos Estados Unidos, e conta com a participação de quatorze pesquisadores de doze instituições, incluindo a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
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Além de investigar o comportamento desses 35 sinais vitais da Terra ao longo dos últimos anos e identificar possíveis alterações, a equipe também sintetizou as principais tragédias ambientais que aconteceram nos últimos doze meses e que podem ter relação com o agravamento das mudanças climáticas – como as inundações no Rio Grande do Sul em maio.
Segundo o estudo, o número de mortes humanas relacionadas ao calor aumentou 117% nos Estados Unidos entre 1999 e 2023. Em 2022 e 2023, as altas temperaturas também contribuíram para a mortalidade em massa de animais marinhos em todo o globo. Na Amazônia, mais de 100 botos foram encontrados mortos por causa da seca extrema em setembro do ano passado.
Apesar disso, as políticas climáticas vigentes irão contribuir para um aquecimento de 2,7°C até 2100, e cada 0,1°C adicional deve colocar cerca de 100 milhões de pessoas sob temperaturas extremas inéditas.
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Em 2022, a queima de combustíveis fósseis, como gasolina, e os processos industriais representaram cerca de 90% das emissões de gases poluentes, enquanto mudanças no uso da terra, como o desmatamento, foram responsáveis por aproximadamente 10%. “Para atingir as metas de redução de emissões de gases de efeito estufa, é urgente substituir os combustíveis fósseis por fontes de energia mais limpas e renováveis“, recomenda Cássio Cardoso Pereira, um dos autores do estudo.
O pesquisador da UFMG observa que, no Brasil, a maior parte das emissões é oriunda do desmatamento e da agropecuária, então o foco do país deve ser frear o desmatamento, investir na agricultura e pecuária regenerativas e restaurar as áreas desmatadas. O levantamento também aponta que a perda anual de cobertura arbórea e o crescimento da população humana e de rebanhos contribuem para o aumento das emissões de gases de efeito estufa.
O cientista avalia que a atual situação é crítica e que, sem mudança no cenário atual, não será possível manter o limite de aumento da temperatura global em 1,5ºC até 2050. “Já estamos nos aproximando dessa temperatura e podemos passar de 2°C em poucos anos, o que seria catastrófico, gerando pontos de não retorno para a Amazônia, por exemplo, o que só pioraria a situação ao longo prazo por conta do aumento das emissões”, explica.
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O tema deve ser pauta da 29ª Conferência das Partes (COP-29) sobre Mudança Climática das Nações Unidas, que será realizada em novembro de 2024 em Baku, no Azerbaijão. O evento reúne autoridades do mundo todo para debater os efeitos e as ações de combate e mitigação da crise climática. Porém, é muito criticado por ambientalistas e ativistas do meio ambiente por não realizar pressão efetiva em cima dos países e sempre acabar sem que resoluções reais sejam colocadas em prática.
Pereira finaliza afirmando que ainda há tempo para governos e sociedade agirem. “Não devemos ser pessimistas. Se reduzirmos as emissões e investirmos em estratégias de remoção do gás carbônico, como a restauração dos ecossistemas, podemos sim alcançar um cenário de emissões líquidas zero até 2050”, defende. Para contribuir com os avanços nessa área, o pesquisador pretende seguir investigando o papel da conservação e da restauração da biodiversidade na mitigação das mudanças climáticas.
Fonte: Agência Bori
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