MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Inpe: crise climática reduziu número de chuvas nos últimos 60 anos no Brasil; média de dias secos subiu 25%

Ondas de calor por ano também se tornaram quatro vezes mais frequentes no país ao longo de três décadas, revela estudo

Vista aérea de rio e seca no Amazonas.Créditos: Ricardo Stuckert/PR
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Um estudo recente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelou um cenário preocupante para o Brasil: o período de seca no país está se intensificando. Segundo os dados analisados, o número de dias consecutivos sem chuva aumentou em 25% nos últimos 60 anos, passando de uma média de 80 para 100 dias. Além disso, nos últimos 30 anos, o número de dias com ondas de calor mais que quadruplicou.

A pesquisa, que comparou dados climáticos entre os períodos de 1961 a 1990 e de 1991 a 2020, indica que a estiagem está se tornando cada vez mais frequente e prolongada em diversas regiões do Brasil. Essa tendência, segundo especialistas, é mais um forte indicativo dos impactos das mudanças climáticas no país.

A prolongada ausência de chuvas traz diversas consequências negativas, como a diminuição dos níveis dos reservatórios, a redução da produção agrícola, o aumento dos riscos de incêndios florestais e a intensificação da crise hídrica em diversas cidades, como vem sendo observado desde junho. A chegada da primavera de 2024 reforça essa tendência, com a previsão de uma estação quente.

O estudo ainda revela que as regiões Nordeste, Centro-Oeste e partes do Sudeste são as mais atingidas pela seca prolongada, evidenciando uma mudança nos padrões climáticos. Estados como Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí, Maranhão, Bahia, Tocantins, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e parte de São Paulo concentram os índices mais críticos de estiagem.

Foto: Reprodução / INPE

As precipitações nos últimos anos reduziram em uma média de 10% a 40% no Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste, contribuindo para a severa seca de 2024. Por outro lado, o Sul e parte de São Paulo e Mato Grosso do Sul apresentaram um aumento de 10% a 30% nas chuvas, o que explica as grandes enchentes de maio. Essa distribuição irregular das precipitações, combinada com outros fatores, intensificou os incêndios florestais em mais de 60% do território nacional nos últimos meses.

O número de ondas de calor também registrou uma mudança significativa, passando de 7 para 32 ocorrências. Esses dados, que analisam o período entre 1961 e 2020. A secura, medida pelo índice CDD (dias consecutivos secos), passou de cerca de 80-85 dias na década de 1960 para aproximadamente 100 dias na última década. Segundo o pesquisador Lincoln Alves, "quase todas as regiões do país experimentaram um aumento na frequência de dias consecutivos secos, indicando períodos de seca mais prolongados".

“Havia previsões do aumento da estiagem nesse nível, mas isso deveria acontecer até 2050. O que estamos vendo é que muito antes do tempo já estamos passando por esses efeitos”