CRISE AMBIENTAL

As duas maiores ameaças das mudanças climáticas à saúde na América Latina

Novo relatório aponta como as mudanças climáticas devem afetar a saúde das populações latino-americanas; saiba quais são os dois principais impactos esperados

Imagem Ilustrativa.Créditos: Pixabay
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De acordo com o novo relatório ambiental Lancet Countdown,  ("Contagem Regressiva Lancent", em tradução livre), elaborado por 122 especialistas de 57 instituições acadêmicas de todo o mundo, em conjunto com a Organização das Nações Unidas (ONU), as mudanças climáticas têm intensificado duas espécies de ameaças à saúde de maneira particular no continente latino-americano.

Em países como Brasil, Argentina e Uruguai, os efeitos das mudanças climáticas podem ser vistos no aumento considerável de casos de dengue e de quadros de seca intensa — que, no Brasil, atingiram os piores indicadores já registrados na história.

As secas da região amazônica e em outras partes da América Latina, como no Uruguai, causaram perda de recursos hídricos de subsistência e, na Argentina, condenaram pelo menos 15% da produção de cereais, diz o relatório.

Crescimento nos casos de dengue

Já a carga global de dengue foi impulsionada pelas condições ambientais adversas, associadas ao surgimento de novas epidemias e pela descoberta de novos vírus em todo o mundo. As mudanças climáticas são favoráveis para os mosquitos que transmitem o vírus da dengue, apontam os especialistas. 

No ano passado, foram mais de cinco milhões de novos casos da doença registrados em todo o mundo, e as condições ambientais extremas avistadas na América Latina, causadas pelo cenário de avanço das mudanças climáticas e vistas como propícias para uma disseminação dos mosquitos, podem estar por trás dessa incidência global.

O aumento das temperaturas e a maior frequência de eventos climáticos extremos, como ondas de calor e secas, ampliam a área de distribuição e a atividade do Aedes aegypti (principal vetor da doença).

Este ano, houve um aumento reportado de até 215% dos casos de pessoas afetadas pela dengue, de acordo com dados da Organização Panamericana da Saúde (OPS).

Não por acaso, a incidência de secas acontece de maneira simultânea ao aumento dos casos de dengue, sugere o relatório. 

Consequências das secas extremas 

Além de favorecer a reprodução do mosquito, o cenário de seca extrema tem afetado a saúde das populações da região com a dificuldade de acesso a recursos de subsistência (tanto pelas perdas na agricultura como, de maneira direta, pela diminuição de água potável disponível para consumo). 

Doenças relacionadas à contaminação hídrica, como diarreias e infecções intestinais, infecções parasitárias e intoxicações do tipo têm aumentado, comentam os especialistas, bem como o estresse climático e a ansiedade das pessoas cada vez mais afetadas por essas condições.

Agricultores de todos os países latino-americanos já têm informado dificuldade no plantio das principais culturas, tanto para produção independente como na produção em larga escala.

No Peru, estudos realizados com comunidades indígenas retratam o efeito das condições climáticas na saúde e no bem-estar das populações locais, e ressaltam a importância de utilizar o conhecimento oferecido pelas comunidades originárias na promoção de estratégias de adaptação às mudanças em curso.

O relatório indica que, para evitar os principais efeitos das mudanças climáticas sobre a saúde das populações, é preciso se atentar às metas globais estabelecidas pelo Acordo de Paris, mas ele pode não ser suficiente.

É preciso incentivar, de maneira definitiva e emergencial, uma transição completa das bases energéticas para fontes limpas e não poluentes, além de investir recursos financeiros concretos na transição industrial — especialmente dos países menos desenvolvidos.

A economia global deve ser reformada a fim de evitar o cenário mais drástico dessas mudanças — uma meta que deve ser pensada em conjunto, ou não poderá ser realizada a tempo.