POVOS INDÍGENAS

VÍDEO - Retomada Avá-Guarani é cercada por ruralistas no PR; “Rumo à barbárie”, diz cacique

Força Nacional tem dificuldades em conter ruralistas; "Podem mandar matar todos nós, pelo menos nossos corpos serão enterrados aqui”, declarou liderança

Homens da Força Nacional (esq), ruralistas (cen) e indígenas Avá-Guarani (dir).Créditos: Vídeo cedido à Fórum
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Os indígenas Avá-Guarani da retomada tekoha Tatarendy, localizada entre os municípios Terra Roxa e Guaíra, no oeste do Paraná, próximo à fronteira com o Paraguai, foram cercados durante a tarde desta sexta-feira (19) por fazendeiros da região.

Uma fonte da Fórum ligada ao Conselho Indigenista Missionário (Cimi) compartilhou com a reportagem um vídeo do momento, gravado pelos Avá-Guarani. Os indígenas, postados atrás das câmeras, estão frente a frente com os ruralistas, que são filmados. Ao lado, homens da Força Nacional aparecem de relance, aparentemente sem reagir à situação apresentada. Representantes do Ministério dos Povos Indígenas (MPI) também estavam no local tentando uma mediação.

De acordo com as imagens e com os relatos das testemunhas, os ruralistas estavam agressivos e trocam provocações com os Avá-Guarani. Em certo momento da gravação, se revoltam com o fato de estarem sendo filmados.

“A retomada em Terra Roxa está cercada por fazendeiros, que estão alvoroçados, dando tiros mesmo com a presença da Força Nacional. Não estão conseguindo conter a situação. Com tudo isso acontecendo a gente está caminhando rumo a uma barbárie”, declarou o cacique Ilson, morador de uma outra retomada da região.

Segundo as últimas informações que chegaram do território, as animosidades registradas nesta tarde aparentemente cessaram, com a saída dos fazendeiros. No entanto, os indígenas temem novos ataques.

“Diante de todas essas ameaças, a comunidade resistiu e continua resistindo. Os fazendeiros dispersaram ao cair da noite. O MPI ficou até umas 19h nessa retomada Tatarendy e tentou um acordo para uma trégua de sete dias, mas as comunidades recusaram a proposta e os fazendeiros se dispersaram. Não sabemos como vai ser durante a noite e amanhã cedo. O MPI já saiu de lá, ficaram só duas viaturas da Força Nacional. Interceptamos algumas mensagens nos grupos de WhatsApp de que eles vão tentar passar por cima da polícia”, relatou a fonte.

O cacique Izaías, da retomada Tatarendy, informou que a Polícia Federal visitou a comunidade mais cedo para entregar uma ordem de reintegração de posse.

“Esse juiz não conhece a nossa cultura e a nossa vivência como povo Guarani. Essa é a nossa terra, estamos aqui e, se precisar seremos mortos aqui. Não vamos sair e não vamos desistir. Podem mandar todos nós e, pelo menos, nossos corpos serão enterrados aqui”, declarou.

Retomadas Avá-Guarani

As retomadas são uma ferramenta de reivindicação de território ancestral para diversos povos indígenas, e não apenas do Brasil. São ocupações de pequenas porções de terras por comunidades ou aldeias – os tekoha, no caso dos Guarani. Podem estar adjacentes a terras indígenas e servir a um processo de ampliação ou podem estar isoladas. Geralmente são territórios em que os povos foram expulsos nas últimas décadas.

Na região de Guaíra e Terra Roxa há uma série de retomadas, como a Guavirá Guasu, que sofreu ataques de fazendeiros no último sábado (13). Os agressores dispararam suas armas de fogo contra os indígenas e atearam fogo em barracos utilizados como abrigo e no estoque de alimentos da comunidade.

Nos últimos dias, quatro novas retomadas foram instaladas na região. Uma delas, a tekoha Tatury, acabou expulsa. “Os fazendeiros queimaram o mato e os indígenas tiveram de sair para não serem queimados”, relatou o cacique Ilson.

Em outro território, o tekoha Y’Hovy, a tensão começou na última quarta-feira (17), horas depois de os indígenas fazerem a ocupação, com os fazendeiros cercando o território. Localizada numa fazenda de soja, a comunidade foi um alvo preferencial dos ruralistas nos últimos dias. Todas as quatro novas retomadas já têm processos de reintegração de posse em andamento.

“Precisamos articular os movimentos que possam nos apoiar, até mesmo internacionalmente, porque agora veio um mandado de reintegração de posse para essas comunidades que estão em processo de ampliação e retomada. Estamos sendo atacados judicialmente e essas reintegrações de posse estão com prazo de 10 dias. A ‘fazendeirada’ está comemorando”, conclui o cacique Ilson.