No último dia 12 de março uma mulher indígena moradora da aldeia Jaguapiru, localizada na periferia de Dourados (Mato Grosso do Sul), passou mal e morreu momentos depois que uma fazenda vizinha à comunidade realizou uma aplicação de agrotóxicos. A vítima estava grávida de dois meses e chegou a ser hospitalizada, mas não resistiu.
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), principal organização indígena do país, denunciou o caso ao público recentemente e relatou que familiares da vítima também adoeceram por conta da aplicação dos chamados ‘defensivos agrícolas’.
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Já a denúncia da ocorrência às autoridades, feita no mesmo dia, motivou longas fiscalizações dos órgãos ambientais em todas as terras indígenas da região: Jaguapiru e Panambizinho em Dourados e Guyraroká em Caarapó (MS). Foram 4 dias de buscas até que numa delas foi encontrado um depósito com 750 litros de agrotóxicos vencidos.
Para piorar, as investigações acerca do caso ainda descobriram que parte dos produtos eram adquiridos sem receitas agronômicas ou contrabandeados do Paraguai. As operações de fiscalização e investigação do caso envolveram Ibama, Funai, PRF e Iagro/MS (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal).
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Dado esse contexto, o Ministério Público Federal (MPF) acredita que a contaminação dos indígenas pode, de fato, estar relacionada com o uso dos agrotóxicos, exatamente como aponta a denúncia feita pelos povos atingidos e pela Apib.
“No pedido feito aos órgãos e que resultou na ação de conscientização, o MPF salientou que a fiscalização se faz necessária diante do incremento das áreas destinadas ao plantio de lavouras comerciais nas terras indígenas, em especial de soja e milho, com impacto à saúde e ao meio ambiente das comunidades”, diz um informe do órgão para a imprensa.
A fazenda foi multada em R$ 1 milhão e as autoridades planejam outra operação da mesma natureza no segundo semestre, como meio de prevenir novas tragédias como a dos indígenas da aldeia Jaguapiru.
O caso deveria despertar a atenção da opinião para expansão do agronegócio predador, marcado pelas monoculturas que retiram toda a fertilidade do solo e pelo abuso de agrotóxicos que contamina águas e solo. Trata-se de modelo que avança sobre as áreas indígenas, as últimas reservas climáticas da humanidade. Além disso, é de conhecimento público que essas substâncias são altamente perigosas para a saúde humana e que cada brasileiro ingere cerca 7 litros delas por ano sem perceber.