A região da Amazônia passa por uma seca histórica. Segundo dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), com base em medições da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), são 38 rios passando por estiagem na bacia amazônica.
Wilson Lima (União Brasil), governador do estado do Amazonas, que engloba boa parte do bioma, disse na última terça-feira (26) que essa é “a pior seca da história”. Impactos na população local já começam a ser registrados. A explicação para esse fenômeno está na junção das mudanças climáticas com fenômenos naturais.
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O que explica a seca na Amazônia?
Para o ambientalista Rodolfo Salm, professor na Universidade Federal do Pará (UFPA), a explicação para essa seca tão forte “sem dúvida está nas mudanças climáticas, no aquecimento global”.
No entanto, ele explica que fenômenos climáticos são multifatoriais. No caso da Amazônia, dois outros fatores influenciam no atual resultado catastrófico: o estado avançado dos desmatamentos e o El Niño.
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Impactos do aquecimento global
O El Niño é um fenômeno natural que causa um aquecimento anormal na superfície dos oceanos. Apesar de ser natural, o que tem acontecido é que ele está sendo impulsionado pelas mudanças climáticas, daí as consequências desastrosas observadas no meio ambiente, incluindo a seca na Amazônia.
“El Niño é um fenômeno periódico e natural, mas ele se torna mais intenso e frequente por consequência do aquecimento global. De fato, o El Niño tem sua importância, mas a força dele é modulada pelo aquecimento global”, explica Rodolfo.
É por conta das mudanças climáticas, também, que essa é a seca mais preocupante pela qual a região amazônica já passou. Rodolfo, PhD em Ciências Ambientais, esclarece que “já houve, ao longo da história, secas extremas na Amazônia”, mesmo em situações normais.
O preocupante é que, agora, esses “eventos extremos” são mais frequentes e mais aprofundados.
“É provável que a cada três, quatro anos volte a haver uma situação séria como essa ou mesmo pior. Os eventos extremos acontecem naturalmente, mas as mudanças climáticas fazem com que eles se tornem muito mais frequentes e profundos”, resume o ambientalista.
Seca no Norte, enchentes no Sul e uma onda de calor no Brasil central. O cientista alerta que todos esses fenômenos, por mais diferentes que sejam, estão relacionados. “O El Niño e as mudanças climáticas atuam de formas distintas em diferentes locais”, explica.
Consequências da seca
As principais consequências da estiagem, para o meio ambiente, são o aumento da probabilidade de incêndios florestais e a morte de animais nativos e de árvores.
Os incêndios aumentam pela maior temperatura e a diminuição extrema da umidade. Além dos incêndios naturais, Rodolfo explica que “quando uma pessoa faz uma pequena queimada, a chance da chama se espalhar fortemente é muito maior nessas situações”.
Animais como botos e peixes estão entre os mais afetados. Na vegetação, árvores da floresta preservada não escapam aos impactos, principalmente aquelas muito grandes e antigas. “Há uma mortalidade muito silenciosa, que é difícil de se notar, de árvores gigantescas da floresta”, alerta Rodolfo.
Para a população, há o incômodo com a fumaça excessiva das queimadas e os impactos sobre o cultivo e sobre a alimentação daqueles que vivem próximos de rios, pois dependem da pesca para sobreviver e os peixes estão morrendo.
Segundo Rodolfo, há também uma outra consequência, pouco falada, a chamada “ansiedade climática”.
“É um tipo de ansiedade, de depressão em função dos extremos climáticos causados pelas mudanças climáticas ligadas ao aquecimento global. É a depressão de ver o mundo se acabando,” disse.