ALERTA DE CICLONE

Novo ciclone extratropical pode atingir litorais de Rio Grande do Sul e Santa Catarina

Região já foi afetada em junho e em setembro por fenômenos semelhantes; Previsão é de vendavais e tempestades

Ciclone no RS.Cidade de Muçum, no Rio Grande do Sul, ficou debaixo d'água no começo de setembro por conta de outro cicloneCréditos: Reprodução/RBS TV
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A Defesa Civil gaúcha anunciou que um novo ciclone extratropical em formação no Oceano Atlântico deve atingir o litoral norte do Rio Grande do Sul e também o estado de Santa Catarina entre a noite da próxima terça-feira (26) e a manhã de quarta (27). De acordo com o órgão, a região sofrerá com fortes ventos e chuvas nos próximos dias.

Nesta segunda-feira (25) um sistema de baixa pressão se formou no Rio Grande do Sul sobre as cidades de Passo Fundo, Erechim, Caxias do Sul (na Serra Gaúcha), Santa Maria e Porto Alegre, e avança na direção do oceano. Ao encontrar-se com o ciclone extratropical, e todo o fluxo de umidade do oceano, a tendência é a formação da frente com suas chuvas e ventos.

“Esta baixa pressão reforçará muito a instabilidade durante a terça, com chuva intensa em muitos locais e temporais que localmente podem ser fortes e até severos, com risco de vendavais e granizo, potencialmente médio a grande em alguns pontos, com danos”, diz nota da MetSul, empresa que monitora e divulga dados de meteorologia.

De acordo com as previsões da MetSul e da Defesa Civil, as chuvas e ventos devem ser mais intensos na primeira metade da quarta-feira (27). O oeste de Paraná e de Santa Catarina podem ter temporais com vento e granizo isolados nos próximos dias, mas a região mais afetada será, novamente, o litoral norte do Rio Grande do Sul, juntamente com a Serra Gaúcha e a Região Metropolitana de Porto Alegre. Nessas regiões, os ventos podem atingir até 90 km/h.

No começo de setembro, um outro ciclone extratropical causou uma tragédia humanitária em 79 cidades gaúchas, na mesma região que está prevista para ser afetada novamente. Foram 41 mortes confirmadas em decorrência da tragédia. Em junho ocorreu outra vez.

O ciclones são mais comuns nas regiões Sul e Sudeste no inverno, quando o ar frio advindo do sul da Argentina e da Antártida cruza com o ar quente proveniente do Centro-Oeste. No verão, no entanto, seriam menos comuns. Mesmo com as suspeitas nesse sentido, ainda não há um consenso entre especialistas para confirmar um aumento da frequência dos eventos, seria necessário maior tempo de observação para que a conclusão seja tirada. De qualquer forma, haja vista os danos causados no Rio Grande do Sul nos últimos meses, já se fala em uma maior severidade dos fenômenos, o que, de acordo com o Painel de Cientistas da ONU, pode estar relacionado às mudanças climáticas, mas não apenas a elas.

Sobre as mudanças climáticas, cientistas apontam que devido a sua ocorrência poderemos ver mais eventos extremos, como ciclones, tsunamis, secas, entre outros, ocorrendo de maneira cada vez mais severa e intensa.

“Existem evidências de que os eventos extremos de forma geral, desde secas a períodos de chuvas muito intensas e em diversas escalas de tempo e concentração, estão em tendência de aumento. Imediatamente, sem fazer análise alguma, o que podemos associar é que além do que é natural, teremos a adição de algo que não é natural e está associado a mudanças antrópicas. Sejam mudanças no clima atmosférico com emissão de gases ou as relacionadas ao uso da terra. Existe também a expectativa de que isso seja mais frequente e intenso. É uma situação muito preocupante, mas mesmo com uma evidência muito forte, ainda é preciso um tempo para ‘batermos o martelo’ com as técnicas que temos disponíveis”, explicou em março a professora Marina Hirota, da meteorologia da UFSC, à Revista Fórum, em entrevista que falou sobre as fortes chuvas que vitimaram 60 pessoas no litoral de São Paulo naquele mês.

Mas além das mudanças climáticas, os especialistas apontam outras três causas para a ocorrência de tantos ciclones na região. Uma delas é o fenômeno El Niño, que deixa as águas do Pacífico mais quentes, causando um contraste térmico na atmosfera, que acelera processos de chuvas e instabilidades climáticas na região Sul do Brasil.

Outra razão seria a oscilação negativa da circulação de ar na Antártida, o que faz as correntes ficarem mais onduladas e amplificadas, o que facilita a chegada de massas de ar quente a regiões temperadas e polares e de ar frio em regiões quentes. Por fim, o aquecimento do Atlântico Sul, sobretudo próximo às costas de Brasil, Argentina e Uruguai, também contribui com o fenômeno.