TRAGÉDIA

Deserto do Saara foi inundado por tempestade Daniel, com lagos que podem ser vistos do espaço

Chuvas deixaram mais de 6 mil mortos na Líbia e transformaram deserto em mar

Imagens mostram tamanho das chuvas no deserto líbioCréditos: Reprodução/X/Copernicus
Escrito en MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE el

A tempestade Daniel, que matou mais de 6 mil pessoas na cidade na Líbia, gerou lagos no deserto do Saara que são visíveis do espaço.

As imagens foram registradas pelo satélite Sentinel 2 do programa europeu Copernicus que compara as imagens do deserto no dia 2 e no dia 12.

Na primeira imagem, o território desértico ao sul da Cirenaica, parte leste líbia, aparece completamente coberto de areia do deserto, com apenas alguns traços de caminhos de água. 

Na segunda, tirada após a passagem da tempestade, é possível ver esses canais inundados cruzando o deserto e lagos ao longo do deserto, com quilômetros de extensão. 

Imagens do Copernicus mostram enchentes no deserto

Confira a postagem:

Mais de 93% da área da Líbia é desértica e não recebe chuvas anualmente, mostrando a gravidade da tempestade que quebrou as barragens da cidade de Derna, que sofre com uma guerra civil congelada e com ausência de um governo central.

As autoridades esperam que o número de mortos ainda aumente significativamente, já que há mais de 11 mil pessoas desaparecidas e existem cidades que simplesmente não foram acessadas pelas equipes de resgate. A situação é tão grave que estimam que pode haver um problema de saúde pública por conta do número de cadáveres na cidade de Derna.

Enchentes no Saara

O Saara é uma das regiões mais secas do mundo e recebe poucas quantidades de chuva ao longo de suas terras que se estendem por todo o continente africano.

Quando isso acontece, geralmente é resultado de condições climáticas extremamente anômalas. Essas chuvas podem ser desencadeadas por fenômenos climáticos excepcionais, como sistemas de baixa pressão atmosférica ou como o próprio ciclone Daniel.

No ano de 2015, o Saara Ocidental, porção de território ocupada pelo Marrocos e reivindicado pela Frente Polissário, sofreu com enchentes de grandes proporções no deserto. 

Enchentes no Marrocos em 2021

Aproximadamente 2,5 milhões de pessoas vivem no Deserto do Saara, sendo a maioria composta predominantemente composta por nômades tamazight e berberes, que se deslocam de um lugar para outro no meio das dunas dependendo das estações. Além disso, outras comunidades vivem em comunidades permanentes perto de fontes de água, como oásis permanentes.

Enchentes repentinas no Saara podem causar sérios problemas, uma vez que a região não está preparada para lidar com grandes volumes de água. Isso pode resultar em inundações, erosão do solo e outros danos às comunidades locais e à infraestrutura desses povos.

A criação de um mar no Saara

O Saara possui diversos locais com altitude abaixo do nível do mar porque já foi povoado de lagos, o que faz com que seja um solo capaz de ser inundado. Essas inundações não são frequentes por conta do baixo nível pluviométrico do local.

Desde o século XIX, cientistas estudam a criação de um mar interior no Deserto do Saara. A ideia já foi proposta várias vezes por diferentes cientistas e engenheiros e é um tema de debate até os dias de hoje.

O objetivo seria trazer ar úmido, chuva e agricultura para as profundezas do deserto, reduzindo a dependência do Nilo e do Mediterrâneo. Nos últimos anos, a ideia de inundar o deserto do Saara para combater as alterações climáticas ressurgiu na comunidade científica para combater a questão do aumento do nível do mar.

Vale ressaltar que diversas comunidades enxergam o deserto (ou téneré) ou como seu modo de vida e como seu local de vida há milhares de anos, como os tamazight e berberes.