As imagens falam por si e são inacreditáveis. Uma dramática busca pelo reconhecimento em Berna, na Líbia, mostra uma quantidade enorme de corpos espalhados pelas ruas. Segundo Hichem Abu Chkiouat, o ministro da Aviação Civil do país, já passam de 5.300 o número de mortos na tempestade Daniel. "O mar despeja constantemente dezenas de corpos", afirmou.
Cerca de dez mil pessoas ainda estão desaparecidas, de acordo com estimativas da Cruz Vermelha Internacional. Médicos e funcionários do governo local afirmam que a tragédia é muito maior do que se imaginava. "O número [de mortes] poderá duplicar porque milhares ainda estão desaparecidos." Os mortos podem chegar a 40 mil.
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Até a manhã de quarta-feira (13), mais de dois mil corpos haviam sido encontrados, metade deles foram enterrados em valas comuns.
Chkiouat disse ainda que 25% da cidade "desapareceu" na enxurrada. Pelo menos 400 estrangeiros, principalmente sudaneses e egípcios, estão entre as vítimas. Em todas as partes do mundo, crescem as perguntas sobre como a cidade pôde ser devastada desta maneira no final de semana pela tempestade Daniel.
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Em certos bairros, chegaram a morrer 30 pessoas da mesma família. Algumas áreas receberam instruções para tirar os moradores de casa, mas muitos não obedeceram.
Mudanças climáticas
A tempestade é mais um alerta das mudanças climáticas. As altas temperaturas no Mediterrâneo alimentam chuvas cada vez mais intensas, alternadas com períodos cada vez mais longos de seca. O fenômeno contribui para a impermeabilização de um solo já naturalmente seco. Os solos impermeabilizados não absorvem água.
Ajuda internacional
O ministro Chkiouat voltou a pedir ajuda à comunidade internacional, enfatizando que o país não está preparado para lidar com uma crise do tipo.
Os governos do Egito, do Qatar e da Turquia já enviaram ajuda à Líbia. O Kuwait, a Palestina e a Argélia auxiliam nas buscas. Outros países prometeram auxílio. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou que está enviando fundos de emergência para organizações de ajuda humanitária.
Nesta quarta-feira, o Ministério da Defesa da Itália disse que enviaria dois aviões com bombeiros e outras equipes especializadas em resgate. Já o governo britânico prometeu um pacote de ajuda inicial no valor de 1 milhão de libras (R$ 6,1 milhões).
Em nota, o Itamaraty disse que "o governo brasileiro lamenta a destruição provocada pelas tempestades e transmite suas mais sinceras condolências ao povo líbio".
"Catástrofe sem precedentes"
O premiê líbio, Abdulhamid al-Dbeibah, baseado em Trípoli, descreveu as inundações como uma "catástrofe sem precedentes". O governo não controla as áreas orientais do país, mais atingidas pelas inundações, mas já havia anunciado três dias de luto, além do envio de suprimentos e médicos.
A Líbia vive instabilidade política desde o levante apoiado pela Otan, a aliança militar ocidental, em 2011, que levou no mesmo ano à morte do ditador Muammar Gaddafi, na esteira da Primavera Árabe. A ação deu início a disputas entre milícias rivais. Os tumultos reduziram a produção de petróleo, principal riqueza nacional, e criaram regiões de refúgio para grupos extremistas como o Estado Islâmico.