Irmanados na mentira: livro aponta semelhanças entre Trump e Hitler

Comparações entre o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, e o líder nazista do século 20 Adolf Hitler são controversas, mas um novo livro diz que ambos se assemelham como artistas performáticos políticos.

A obra "Trump and Hitler: A Comparative Study in Lying" ("Trump e Hitler: Um Estudo Comparativo sobre a Mentira", em tradução livre), do holandês Henk de Berg, professor de Alemão na Universidade de Sheffield, na Grã-Bretanha, compara e contrasta Hitler e Trump.

De Berg examina a ética de trabalho, o estilo de gestão e o narcisismo dos dois homens, além de peculiaridades como o bigode de escova de dentes de Hitler e o cabelo alaranjado de Trump.

Escritor de obras como "Freud’s Theory and Its Use in Literary and Cultural Studies"("A Teoria de Freud e Seu Uso em Estudos Literários e Culturais", em tradução livre) sem edição em português do Brasil, ele concedeu uma entrevista por videoconferência ao jornal britânico The Guardian.

De Berg, de 60 anos, contou ao periódico que renovava seu estudo sobre o Nacional-Socialismo e relia o manifesto autobiográfico de Hitler, "Mein Kampf", justamente quando Trump concorreu pela primeira vez à Casa Branca, em 2015.

O autor reconhece as diferenças entre ambos. “Obviamente, há diferenças enormes. Hitler era um antissemita ideologicamente comprometido que instigou a Segunda Guerra Mundial e foi responsável pelo Holocausto, no qual 6 milhões de judeus morreram".

“Mas então eu olhei para suas estratégias retóricas e suas operações de relações públicas e comecei a ver como eles são semelhantes em muitos aspectos. Então pensei, OK, por que não fazer um livro olhando para Hitler sob a perspectiva de Trump? Tendemos a ver Hitler como um assassino em massa genocida, o que, é claro, ele foi, mas não tanto como um populista. Achei que olhar para isso através da perspectiva de Trump pode nos ajudar a entender por que tantas pessoas realmente apoiaram Hitler e vice-versa.”

Performance e populismo

Para De Berg, Hitler e Trump foram e são artistas performáticos políticos que falam apenas vagamente sobre políticas – Fazer a Alemanha/América grande novamente – mas sabem como atrair atenção usando piadas, insultos e linguagem extrema.

“As declarações extremistas deles são muito deliberadamente feitas para provocar uma reação e para que eles apareçam na imprensa", observa.

Além de seu potencial de chamar a atenção, a linguagem extremista usada por ambos também agrada a muitos eleitores. De Berg ressalta que a maioria de eleitorado tanto de Trump está insatisfeita com o status quo por uma variedade de razões – globalização, automação – então eles querem mudar o sistema e aqui você tem um candidato anti-establishment que não é politicamente correto, que diz que vai resolver, que não vem com todos esses 'compromissos covardes e podres'.

Muitos desses eleitores estão prontos para culpar um bode expiatório, "o outro". Hitler culpou os judeus pela derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial; Trump lançou sua campanha de 2015 demonizando imigrantes do México e continua a colocar a segurança fronteiriça em destaque. “Isso simplifica o mundo. Em vez de estruturas sociais abstratas e desenvolvimentos históricos, você tem um grupo específico de pessoas a quem pode culpar por todos os seus problemas.”

Trump e seus afagos a Hitler

Para além desse estudo comparativo de De Berg, Trump por si só já fez algumas declarações e adotou ações que foram interpretadas como elogios ou referências positivas a Hitler, embora ele nunca tenha feito elogios diretos ao líder nazista.

• "Coisas Boas" sobre Hitler (2018): Em um livro publicado por Michael Bender do Wall Street Journal, intitulado "Frankly, We Did Win This Election: The Inside Story of How Trump Lost," há uma alegação de que Trump teria dito que Hitler "fez algumas coisas boas". O comentário teria sido feito durante uma viagem à Europa em 2018, e segundo o livro, o então chefe de gabinete John Kelly teria repreendido Trump por isso.

• Marcha de Supremacistas Brancos em Charlottesville (2017): Após a marcha de supremacistas brancos em Charlottesville, Virgínia, onde os manifestantes cantavam slogans nazistas, Trump afirmou que havia "pessoas muito boas dos dois lados". Embora essa declaração não seja um elogio direto a Hitler, foi vista como uma falha em condenar claramente o nazismo e a supremacia branca.

• Vídeo de "Reich Unificado": Em dezembro de 2021, Trump compartilhou e demorou quase um dia para remover um vídeo que sonhava com um “Reich unificado” se ele vencesse a eleição presidencial dos EUA. O uso do termo "Reich" neste contexto foi altamente controverso e interpretado por muitos como uma referência imprópria à era nazista.
  
  O vídeo de 30 segundos retratava uma visão positiva para o país caso o ex-presidente Trump derrote Biden na eleição de novembro. Eram exibidas manchetes hipotéticas de jornais sobre uma economia em expansão e uma repressão à imigração na fronteira sul dos EUA. Em dois momentos do vídeo, o texto abaixo de uma manchete diz: "A força industrial aumentou significativamente impulsionada pela criação de um Reich unificado".

Confira as semelhanças entre Hitler e Trump

• Política de Performance: Ambos atuam como artista performático político com uso de piadas, insultos e linguagem extrema para atrair atenção.
• Estilo de Gestão: Hitler, Rigoroso, centralizador, forte ética de trabalho. Trump, caótico, incoerente, centrado na imagem pessoal.
• Narcisismo: Os dois demonstram grande senso de superioridade e autoimportância.
• Visual: Hitler, bigode de escova de dentes. Trump, cabelo loiro implausível.
• Relação com a mídia: Ambos fazem uso de declarações extremistas para provocar reação e obter cobertura da mídia.
• Apelo ao Eleitorado: Os dois atraem eleitores insatisfeitos com o status quo, oferecendo um inimigo claro para culpar. Hitler, os judeus; e Trump, imigrantes e opositores políticos.
• Relação com os Partidos: Tanto um quanto outro atuaram para manipular os políticos conservadores que pensavam que poderiam controlá-lo.
• Comícios: Hitler criava um sentimento de solidariedade e comunidade entre os participantes, muitos dos quais estavam insatisfeitos economicamente. Trump cria um sentimento de solidariedade e comunidade entre os participantes, especialmente em pequenas cidades.
• Retórica Extremista: Hitler chamava seus oponentes de "vermes", culpava os judeus pela derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial. Trump chama seus oponentes de "vermes", demoniza imigrantes, promove a "grande mentira" de que venceu a eleição de 2020.
• Manipulação e Propaganda: Hitler utilizava a grande mentira para enganar e mobilizar as massas. Trump utiliza a grande mentira para enganar e mobilizar as massas, com milhares de declarações falsas durante sua presidência.