O primeiro ex-presidente do Estados Unidos e ser condenado por um crime, Donald Trump pediu à Suprema Corte para intervir e anular o veredicto de culpado em um julgamento sobre compra de silêncio de uma ex-atriz de filmes adultos.
O presumível candidato republicano de 2024 fez seu apelo em uma postagem tipicamente florida em seu site Truth Social, no qual destaca que uma audiência de sentença marcada para 11 de julho cai apenas quatro dias antes da convenção nacional do Partido Republicano em Milwaukee, quando sua nomeação deve se tornar oficial.
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"A 'Sentença' por não ter feito nada de errado será, convenientemente para os fascistas, 4 dias antes da Convenção Nacional Republicana. Um promotor apoiado por Soros da extrema esquerda, que se candidatou com a plataforma 'Vou pegar o Trump', reportando-se a um 'juiz local interino', nomeado pelos democratas, que é ALTAMENTE CONFLITUOSO, tomará uma decisão que determinará o futuro da nossa nação?", escreveu Trump.
Estratégia vitimista repetida
Ao apelar para que a Suprema Corte intervenha em um caso que ele insiste ser abertamente político, Trump reprisa a estratégia legal implantada em sua defesa contra as acusações do conselheiro especial Jack Smith relacionadas ao ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio dos EUA, em uma tentativa de reverter o resultado da eleição presidencial de 2020 a seu favor.
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O caso está atualmente suspenso enquanto os nove juízes consideram as alegações dos advogados de Trump de que ele tinha imunidade completa de processo por decisões tomadas enquanto era presidente.
Mas sua invocação da corte – que tem uma maioria conservadora de seis a três após as nomeações judiciais de Trump enquanto ele estava na Casa Branca – também ocorre em um momento em que as questões sobre sua imparcialidade política estão no auge, após revelações de que uma bandeira dos EUA foi hasteada de cabeça para baixo na casa do juiz Samuel Alito na época do motim de 6 de janeiro. O gesto é idêntico ao usado por muitos participantes no ataque como um símbolo de protesto contra a vitória de Biden.
Pesquisa preocupantes para o republicano
O veredicto, que Trump prometeu apelar, elevou a atmosfera na campanha presidencial deste ano a um ponto febril, mais de cinco meses antes do dia da eleição, com os republicanos se unindo enquanto os democratas procuravam maneiras de explorar a situação.
Em um sinal preocupante para Trump, uma nova pesquisa da ABC/Ipsos mostrou que 50% dos eleitores achavam que o veredicto estava correto, quase o dobro da proporção, 27%, que acreditavam que estava errado. Quase metade dos entrevistados, 49%, achava que ele deveria encerrar sua campanha – uma medida que ele é altamente improvável de tomar.
Os números foram ainda mais marcantes entre os "duplos odiadores" – eleitores que igualmente não gostam de Trump e do presidente Joe Biden – 65% dos quais apoiaram o veredicto, com dois terços dizendo que o ex-presidente deveria encerrar sua campanha. Os pesquisadores preveem que esse grupo pode ser um componente crítico do eleitorado indeciso que acreditam que determinará o resultado em novembro.
Trump diz que não se importa em ir para a cadeia
Em uma entrevista à Fox, Trump fingiu não se incomodar com a possibilidade de ser condenado à prisão pelo juiz Juan Merchan em sua audiência de 11 de julho, dizendo: "isso pode acontecer" e que ele ficaria "OK" com uma sentença de prisão ou confinamento domiciliar.
Alvin Bragg, o promotor distrital de Manhattan que processou o caso de Trump, ainda não decidiu se vai pedir uma pena de prisão ou deixar a decisão a critério de Merchan.
Entenda o caso
Um júri em Manhattan considerou o ex-presidente culpado na última quinta-feira em todas as 34 acusações de falsificação de documentos para ocultar um relacionamento sexual com uma atriz de filmes adultos, Stormy Daniels, na corrida para a eleição presidencial de 2016, que Trump venceu contra Hillary Clinton.
Trump também enfrenta dezenas de outras acusações criminais em três outros casos, embora pareçam cada vez mais improváveis de ir a julgamento antes que os eleitores dos EUA irem às urnas em novembro.
Efeitos nas campanhas eleitorais
O efeito mais imediato é que o agora criminoso condenado Trump vai ter mais tempo para fazer campanha, pois não será obrigado a passar quatro dias por semana em um tribunal de Manhattan. Embora essa disponibilidade possa mudar quando for anunciada a sua sentença, em 11 de julho, apenas quatro dias antes da Convenção Nacional Republicana.
Por enquanto, ele parece estar agendando mais eventos de arrecadação de fundos do que eventos de campanha pública em seu tempo recém-liberado: ele tem um na quinta-feira, em São Francisco, e depois dois no sábado, em Las Vegas e Newport Beach, Califórnia. No domingo, ele realizará seu primeiro comício pós-condenação em Las Vegas – a menos que ele agende outro no último minuto.
Já o atual presidente, Joe Biden, participa de uma arrecadação de fundos em Greenwich, Connecticut, nesta segunda-feira (3), mas o maior evento em seu calendário é uma viagem à França no final da semana, na época em que os promotores começarão seus argumentos em um julgamento contra seu filho Hunter. (Neste caso, Hunter Biden é acusado de não divulgar seu uso de drogas enquanto comprava uma arma em 2018; não envolve alegações de irregularidades do presidente.)
A grande questão para o Biden e outros democratas é o quanto e quão enfaticamente fazer campanha em relação à condenação do Trump. As pesquisas sugerem que isso poderia levar alguns eleitores a mudar de voto do republicano condenado para o democrata – não necessariamente muitos, mas potencialmente o suficiente para importar em uma eleição apertada. Mas alguns democratas também estão cautelosos com o reforço inadvertido das falsas alegações dos partidários de Trump de que o governo Biden orquestrou as acusações por ganho político.
Não é possível prever como a próxima semana se desenrolará. Mas quando acabar, será possível saber um pouco mais do que se sabe agora sobre a dinâmica da corrida de 2024.