Donald Trump, ex-presidente e atual candidato à presidência dos EUA, foi condenado na última quinta-feira (30) em tribunal de Nova York por falsificação de registros a fim de encobrir um escândalo sexual envolvendo a ex-atriz pornô Stormy Daniels que poderia ameaçar sua eleição em 2016, aquela que o levou à Casa Branca. E o líder da extrema direita mal foi declarado o primeiro presidente criminoso da história daquele país e uma onda de ódio direcionado aos 12 membros do júri tomou conta da internet e das redes sociais americanas.
O fato foi noticiado pela CNN dos EUA, que ouviu uma série de iniciativas que mapeiam discursos de ódio online. O mais perturbador das informações divulgadas é que publicações envolvendo os nomes dos jurados foram registradas em fóruns de discussão e páginas que já discutiram ataques a escolas em outras ocasiões.
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Os números também superaram, e muito, a reação da extrema direita à operação do FBI na mansão de Trump na Florida - à época muito criticada pela forma como divulgada nos meios de comunicação.
As publicações em questão basicamente divulgam (ou pedem a divulgação) dados privados dos jurados - como nomes completos, endereços etc. - e pedem que “ações” sejam tomadas em “retribuição” ao júri. Ou seja, enquanto Trump acusa a Justiça dos EUA de agir politicamente para minar suas chances de retornar à Casa Branca, seus apoiadores mais radicalizados querem uma espécie de vingança contra os jurados que o condenaram.
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Alguns supostos nomes e endereços desses jurados chegaram a ser divulgados nas publicações. No entanto, não há confirmação acerca das identidades do júri. As identidades dos mesmos foi mantidas em sigilo pela Justiça com a concordância da defesa de Trump.
De acordo com o levantamento do Instituto para o Diálogo Estratégico, uma das ONGs dedicadas a monitorar conteúdos considerados ‘extremistas’ nos EUA e ouvidas pela CNN, foram 9,3 mil publicações somente fazendo apologia de “distúrbios civis” nas cidades americanas por conta da condenação de Trump.
Condenação e sentença
Trump foi condenado em todas as 34 acusações de falsificação de registros comerciais por um júri de 12 nova-iorquinos, que deliberaram por dois dias para chegar a uma decisão em um caso repleto de descrições de acordos secretos, escândalos de tabloides e um pacto no Salão Oval da Casa Branca. O ex-presidente permaneceu em grande parte inexpressivo, com um olhar sombrio no rosto, após o júri emitir seu veredicto.
O júri concluiu que Trump falsificou registros para ocultar a finalidade do dinheiro dado ao seu antigo advogado, Michael Cohen. Os registros falsos disfarçavam os pagamentos como despesas legais comuns, quando, na verdade, Trump estava reembolsando Cohen por um acordo de silêncio de 130 mil dólares feito com a estrela de filmes adultos Stormy Daniels para silenciar seu relato de um encontro sexual com o republicano.
A sentença foi marcada para 11 de julho. A condenação por crime pode resultar em uma sentença de até quatro anos de prisão, mas Trump pode nunca ver o interior de uma cela. Ele pode receber liberdade condicional quando for sentenciado e certamente apelará do veredicto, o que pode prolongar o caso por anos. Ainda assim, a decisão do júri é um momento indelével na história dos EUA, concluindo o único dos quatro casos criminais contra Trump que provavelmente iria a julgamento antes do Dia da Eleição.
Um relatório pré-sentença será elaborado, levando em conta o histórico criminal (Trump não tinha antecedentes antes deste caso), a história pessoal e os detalhes do crime. Este relatório pode incluir depoimentos de defesa e informações sobre se ele está em um programa de aconselhamento ou tem um emprego estável.
Na entrevista pré-sentença, um psicólogo ou assistente social que trabalha para o departamento de liberdade condicional também pode falar com Trump, durante a qual o réu pode “tentar causar uma boa impressão e explicar por que merece uma punição mais leve”, de acordo com o Sistema Judiciário Unificado do Estado de Nova York. O relatório também pode incluir submissões da defesa.
No caso de Trump, provavelmente será obrigado a relatar regularmente a um oficial de liberdade condicional, e regras sobre viagens podem ser impostas.
Segue candidato e pode servir como presidente
Como a Constituição dos EUA não prevê um caso tão bizarro quanto o de Trump, ele não está legalmente proibido de seguir na corrida eleitoral. Na hipótese de vencer Biden, ele também poderá servir como presidente.
Mas a condição de Trump como eleitor é diferente. Para votar — nele mesmo, presumivelmente — seria mais complicado: ele está registrado na Flórida, que exige que criminosos completem toda a sua sentença, incluindo liberdade condicional, antes de recuperar os direitos de voto. Com o Dia da Eleição se aproximando, parece improvável que o republicano possa cumprir sua sentença antes disso.
Trump dobra a aposta
Como o capitão do Titanic diante do iceberg, Trump resolveu pagar para ver e subiu o tom após ser considerado culpado em 34 crimes de que é acusado. Pouco após o veredito do júri, já havia manifestado seu desagrado numa rápida coletiva, quando ofendeu juiz, promotor e acusou o presidente Joe Biden de usar o julgamento politicamente para prejudicá-lo na corrida presidencial.
Só não explicou o que Biden tem a ver com a atriz pornô Stormy Daniels que acusou Donald Trump de ter pago 130 mil dólares por seu silêncio em 2016, para que ela não revelasse que os dois tiveram relacionamento sexual extraconjugal. Não explicou também o que Joe Biden tem a ver com o ex-advogado de Trump Michael Cohen que foi o intermediário do "cala boca" milionário.
Tampouco explicou o que Biden tem a ver com a verba do suborno ser declarada como despesa maquiada da campanha de Trump em 2016. Nem com os 34 documentos essenciais ao processo: 11 notas fiscais, 12 comprovantes de pagamento e 11 cheques. Para cada um deles, Trump foi acusado, e agora declarado culpado, de um crime.
Não satisfeito, Trump publicou em sua rede social um vídeo raivoso, pré-gravado, direcionado a seus fanáticos eleitores, com ameaça de vingança: “A batalha final com você ao meu lado, demoliremos o estado profundo, expulsaremos os fomentadores da guerra do nosso governo, expulsaremos os globalistas, expulsaremos os comunistas, marxistas e fascistas, expulsaremos a classe política doente que odeia o nosso país, acabaremos com a mídia de notícias falsas e libertaremos a América desses vilões de uma vez por todas”, escreveu.
O juiz do caso, Juan Merchan, atacado por Trump antes, durante e após a decisão do júri, ainda vai determinar a pena. A sentença deve sair em 11 de julho. Na pior das hipóteses, Trump pode pegar 4 anos de prisão. Tudo vai depender da boa vontade do juiz, que, definitivamente, Trump não está conquistando.
O juiz é considerado linha dura e chegou a ameaçar Trump de prisão durante o julgamento. Provocando-o, talvez Trump deseje uma condenação à prisão para se vitimar ainda mais e colocar mais dramaticidade numa campanha que pode, em última instância, implodir o sistema democrático dos Estados Unidos.
Absurdo? Bem, muitos consideravam absurda a eleição de Trump em 2016, que ela nunca aconteceria. Assim como no Brasil com Bolsonaro. Os outsiders esticam a corda para ver até onde o sistema aguenta. Um dia pode não aguentar.