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Julgamento de Trump: Republicano se compara a Madre Teresa de Calcutá

Uma dúzia de cidadãos de Nova York, sete homens e cinco mulheres, vão selar o destino do primeiro ex-presidente dos EUA a sentar no banco dos réus; júri podem levar horas, dias e até semanas para chegar ao veredicto

Créditos: Fotomontagem - Donald Trump (Britannica) e Madre Teresa de Calcutá (Canção Nova)
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O destino de Donald Trump está nas mãos de 12 nova-iorquinos, que decidirão se ele será considerado um criminoso no primeiro julgamento criminal de um ex-presidente dos EUA.

Após sete semanas de disputas legais e testemunhos sensacionalistas, essa dúzia de cidadãos e cidadãs da maior cidade daquele país recebeu a missão de deliberar sobre o destino do pré-candidato à presidência dos EUA pelo Partido Republicano.

Ainda nos corredores do Tribunal de Manhattan, onde ocorre o julgamento, fiel ao seu impulso por declarações polêmicas, Trump criticou o processo e se comparou a uma santa.

"Madre Teresa não poderia vencer essas acusações. As acusações são manipuladas. Tudo isso é manipulado", afirmou Trump.

O júri pode levar horas, dias ou até semanas para chegar a um veredicto, uma decisão que pode remodelar os panoramas legal e político do país. Enquanto a sociedade estadunidense aguarda ansiosamente o que dirão os jurados, Trump segue sua campanha para retornar à Casa Branca em novembro deste ano.

Sete homens e cinco mulheres que vão selar o futuro do republicano da extrema direita vêm de diferentes bairros de Nova York, têm uma grande variedade de empregos e representam uma amostra diversificada de Manhattan. Muitos têm diplomas avançados, e podem ter a ajuda de dois integrantes que são advogados, embora nenhum pareça ter experiência criminal, e um tenha dito durante a seleção do júri que sabia “praticamente nada sobre direito penal.”

Essas 12 pessoas começaram nesta quarta-feira (29) a deliberar sobre as 34 acusações criminais contra Trump. Elas foram dispensadas no final do dia após pedirem para ouvir novamente alguns testemunhos e as instruções do juiz. O republicano é acusado de falsificar registros comerciais em conexão com um pagamento a uma estrela de filmes pornográficos.

Júri no centro das atenções

Antes de se reunirem para decidir o destino de Trump, os jurados foram orientados pelo juiz Juan M. Merchan. O magistrado forneceu uma série de instruções legais ao júri, explicou o significado legal de “intenção” e o conceito de presunção de inocência. Ele ressaltou a importância de os jurados deixarem de lado qualquer preconceito e não considerarem a decisão de Trump de não testemunhar contra ele.

Trump enfrenta 34 acusações de falsificação de registros comerciais, cada uma relacionada a documentos específicos, incluindo faturas, entradas no livro-razão da Trump Organization e cheques. Em Nova York, falsificar registros é um delito, a menos que os documentos sejam falsificados para ocultar outro crime. Os promotores alegam que Trump violou a lei eleitoral estadual ao conspirar para ajudar sua campanha usando meios ilegais.

Os jurados pediram para ouvir novamente os testemunhos de David Pecker, ex-editor do The National Enquirer, e Michael Cohen, ex-advogado pessoal de Trump. Pecker testemunhou sobre seu acordo para suprimir histórias prejudiciais a Trump, enquanto Cohen detalhou o pagamento de 130 mil dólares à atriz de filmes adultos Stormy Daniels dias antes da eleição de 2016, seguindo ordens de Trump.

As instruções legais complexas e a quantidade de provas tornam o caso desafiador. Se condenado, Trump enfrentaria uma sentença que varia de liberdade condicional a quatro anos de prisão, embora ele certamente apelaria.

Quem foi Madre Teresa de Calcutá

Canção Nova - Madre Teresa de Calcutá

Ao se comparar a uma santa, Trump aumenta a sua coleção pessoal de declarações polêmicas e, em muitos casos, descabidas. Mas, no caso de remeter à memória de Madre Teresa de Calcutá, o ex-presidente abriu um flanco também para críticas.

Nascida Anjezë Gonxhe Bojaxhiu em 26 de agosto de 1910, Madre Teresa de Calcutá, foi uma freira e missionária católica de origem albanesa que dedicou sua vida ao cuidado dos pobres, doentes e desamparados, especialmente em Calcutá, na Índia. Ela fundou a ordem religiosa das Missionárias da Caridade em 1950, que se tornou mundialmente conhecida pelo trabalho humanitário realizado.

A religiosa ganhou reconhecimento internacional por seu trabalho e recebeu inúmeros prêmios, incluindo o Prêmio Nobel da Paz em 1979. Ela foi admirada por sua compaixão, dedicação e serviço aos necessitados. Faleceu em 5 de setembro de 1997, e foi canonizada como Santa Teresa de Calcutá pela Igreja Católica em 2016. Sua vida e trabalho continuam a inspirar muitas pessoas ao redor do mundo.

Apesar de ser amplamente admirada e respeitada, Madre Teresa também enfrentou críticas de diversos indivíduos e grupos. Biógrafos já levantaram polêmicas a respeito de seu fundamentalismo e também sobre a origem de parte do dinheiro arrecadado por sua instituição. Também há discussão sobre a qualidade do atendimento prestado aos pobres e até um questionamento sobre sua fé — com base em diários em que a religiosa afirmava não sentir a presença de Deus.

Um desses críticos foi a escritora e jornalista britânica Aroup Chatterjee, que em seu livro, "Mother Teresa: The Untold Story", sem tradução para o português, apresenta várias denúncias e críticas à vida e ao trabalho de Madre Teresa.

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Chatterjee alega que os abrigos administrados pelas Missionárias da Caridade, fundadas por Madre Teresa, eram abaixo dos padrões mínimos, com condições de higiene inadequadas, falta de cuidados médicos adequados e um ambiente geral que não proporcionava o alívio necessário aos pacientes.

O livro sugere que Madre Teresa acumulou grandes somas de dinheiro através de doações, mas que esses recursos não foram adequadamente utilizados para melhorar os serviços de caridade. Em vez disso, o dinheiro foi muitas vezes mantido em contas bancárias ou utilizado de maneiras que não beneficiavam diretamente os pobres.

Madre Teresa é criticada por sua visão de que o sofrimento era algo a ser abraçado como um meio de se aproximar de Cristo. Essa filosofia, segundo Chatterjee, resultou em uma falta de esforço para aliviar a dor e o sofrimento dos doentes e moribundos sob seus cuidados.

A obra destaca ainda as relações de Madre Teresa com figuras políticas e ditadores, como Jean-Claude Duvalier, também conhecido como "Baby Doc", um político haitiano que serviu como presidente vitalício do Haiti de 1971 a 1986, de quem ela aceitou doações. Essas associações levantam questões sobre a integridade e a ética de suas operações de caridade.

Além de ter sido um governo dele autoritário e repressivo, o período de "Baby Doc" foi marcado por corrupção desenfreada e desvio de recursos. Durante sua presidência, ele e sua família acumularam grande riqueza pessoal, desviando fundos públicos e recebendo subornos. A economia do Haiti deteriorou-se sob sua liderança, e a população enfrentou extrema pobreza e falta de serviços básicos.

Há ainda críticas de que a ordem de Madre Teresa focava mais na evangelização e na conversão ao catolicismo do que em fornecer cuidados práticos e de qualidade. Chatterjee argumenta que a ajuda oferecida era muitas vezes condicionada à aceitação da fé católica.

O livro argumenta que a imagem pública de Madre Teresa foi em grande parte construída por uma mídia acrítica, que não investigou profundamente suas práticas e aceitou a narrativa de sua santidade sem questionamento. Essas denúncias pintam um retrato controverso da religiosa, contrastando fortemente com a imagem amplamente aceita de sua santidade e caridade altruísta.

"Santo Trump": mais uma lorota

Donald Trump se comparou a Madre Teresa de Calcutá como uma estratégia retórica para ilustrar o que ele considera serem acusações injustas e perseguições políticas contra ele. Ao fazer essa comparação, ele busca projetar uma imagem de integridade moral e enfatizar que até mesmo figuras amplamente reconhecidas por sua bondade poderiam ser alvo de ataques injustos. Essa associação serve tanto para desviar a atenção das acusações específicas quanto para polarizar e mobilizar sua base de apoio.

Assim como Madre Teresa, Donald Trump, o 45º presidente dos Estados Unidos, é uma figura altamente controversa e polarizadora. Ao longo de sua carreira como empresário, celebridade e político, Trump esteve envolvido em diversas controvérsias que moldaram sua imagem pública.

Trump enfrentou várias acusações de assédio e má conduta sexual, negando repetidamente essas alegações, que persistem e foram amplamente discutidas na mídia. Ele também é conhecido por seus comentários polêmicos sobre imigrantes, mulheres e minorias, com declarações frequentemente vistas como racistas, sexistas e xenofóbicas.