Nas eleições de 2020, as denúncias não comprovadas de fraudes eleitorais foram fundamentais não só para que ocorresse o episódio da invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021, como também acabaram consolidando uma descrença de boa parte da população no processo eleitoral dos Estados Unidos.
Segundo pesquisa do jornal Washington Post e da Universidade de Maryland, divulgada em janeiro deste ano, aproximadamente 38% dos eleitores dos EUA acreditam que a vitória de Joe Biden foi ilegítima, percentual que chega a 69% entre os republicanos.
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Parte das teorias da conspiração surge de um movimento normal na apuração que foi base para trumpistas dizerem que havia evidências, não comprovadas, de fraudes em alguns estados.
Trata-se da "miragem vermelha", um fenômeno recente pelo qual uma aparente liderança republicana logo após o fechamento das urnas e no início da apuração começa a se reduzir pela contagem de votos enviados pelo correio ou por locais com apuração mais lenta predominantemente democratas, o que provocou, em 2020, uma "virada azul", com a vitória de Joe Biden. As cores fazem referência às legendas: os republicanos usam o vermelho e os democratas, azul.
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Da apuração à teoria da conspiração
"Agora, há muitas maneiras de votar nos EUA – pessoalmente no dia da eleição, votação antecipada antes do dia da eleição ou por cédula de correio. E o tempo que leva para contar essas diferentes cédulas pode variar. Então, pode parecer que um candidato está ganhando no início da noite (digamos, quando os votos presenciais são contados) apenas para que seu oponente lentamente vire a maré (quando as cédulas de correio são contadas)", explica a pesquisadora e historiadora Emma Shortis, em artigo no The Covnersation.
Ela lembra que Trump e pessoas próximas a ele, como Steve Bannon, exploraram os diferentes tempos necessários para contar os votos para descredibilizar o sistema de votação e incitar a agitação.
"Ao declarar vitória sem fundamento em 2020 nas contagens iniciais de 'miragem vermelha' em estados-chave antes que todos os votos fossem contados, Trump foi capaz de criar o que Bannon descreveu como uma 'tempestade de fogo' - que eventualmente levou à insurreição de 6 de janeiro de 2021", aponta. "Isso pode muito bem acontecer de novo. Bannon, na verdade, acaba de ser solto da prisão após cumprir quatro meses por desacato ao Congresso, e pode mais uma vez ser uma força motriz em quaisquer desafios pós-eleitorais da campanha de Trump."