CHINA EM FOCO

A dura resposta da China aos novos ataques dos EUA: 'ilusório e arrogante'

Washington justifica ações contra o Partido Comunista chinês para conter ‘agressão’ de Pequim, que critica discurso com viés ideológico e mentalidade de Guerra Fria

Washington justifica ações contra o Partido Comunista chinês para conter ‘agressão’ de Pequim, que critica discurso com viés ideológico e mentalidade de Guerra Fria
A dura resposta da China aos novos ataques dos EUA: 'ilusório e arrogante'.Washington justifica ações contra o Partido Comunista chinês para conter ‘agressão’ de Pequim, que critica discurso com viés ideológico e mentalidade de Guerra FriaCréditos: iStock
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O congressista republicano John Moolenaar diz que as recentes medidas dos Estados Unidos contra a China têm como objetivo conter a “agressão do Partido Comunista Chinês” (PCCh). 

Durante coletiva de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China nesta sexta-feira (30), o porta-voz Lin Jian observou que as declarações de Moolenaar exalam viés ideológico e uma mentalidade de soma zero típica da Guerra Fria

“Qualquer tentativa de difamar e atacar o Partido Comunista da China, vilipendiar o caminho e o sistema da China, e incitar divisão e hostilidade entre o Partido e o povo chinês é ilusória e arrogante, e só encontrará a firme oposição de mais de 1,4 bilhão de chineses — estando, portanto, fadada ao fracasso”, afirmou.

Nova Guerra Fria

John Moolenaar, congressista republicano de Michigan e presidente do Comitê Seleto da Câmara dos EUA sobre o PCCh, defendeu em entrevista à Bloomberg uma redefinição nas relações entre Washington e Pequim. 

Com uma visão marcada pela mentalidade de Guerra Fria, ele ressaltou a necessidade de os EUA adotarem uma postura firme para proteger seus interesses nacionais diante da crescente influência chinesa.

Moolenaar acusou a China de usar sua posição econômica, especialmente por meio da Iniciativa do Cinturão e Rota, para pressionar países em desenvolvimento — alegação negada por Pequim. 

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O político trumpista também destacou os riscos enfrentados por nações dependentes de minerais críticos controlados pela potência asiática, que, segundo ele, podem sofrer retaliações caso contrariem os interesses do governo chinês.

Além disso, expressou preocupações sobre a apropriação chinesa de tecnologias ocidentais em áreas como inteligência artificial e vigilância, alertando para ameaças diretas à segurança nacional dos Estados Unidos.

Assista aqui a entrevista completa (em inglês)

Comitê Seleto do Congresso dos EUA sobre o PCCh

O Comitê Seleto da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos sobre a Competição Estratégica com o PCCh foi criado em 10 de janeiro de 2023, com o propósito de investigar e propor políticas relacionadas à economia, tecnologia e segurança nacional em face da China. Desde 20 de abril de 2024, o colegiado é presidido pelo congressista John Moolenaar.

Composto por 12 membros republicanos e 11 democratas, o comitê concentra seus esforços em temas como a concorrência econômica e tecnológica entre EUA e China; espionagem e roubo de propriedade intelectual; cibersegurança; direitos humanos; disputas territoriais; além da influência do PCCh em instituições estadunidenses e internacionais.

Desde sua criação, o comitê tem atuado em diversas frentes. No âmbito da tecnologia e segurança nacional, investigou como colaborações entre universidades dos EUA e da China podem ter impulsionado avanços tecnológicos militares chineses, destacando áreas sensíveis como armas hipersônicas, inteligência artificial e semicondutores.

No campo das parcerias acadêmicas, o colegiado avaliou riscos associados à transferência de tecnologia sensível para o setor de defesa chinês por meio dessas colaborações. Também propôs o "Chip Security Act", legislação que visa implementar mecanismos para detectar e prevenir o contrabando de semicondutores para países não autorizados.

Além disso, o comitê condenou a deportação forçada de refugiados uigures pela Tailândia, ressaltando preocupações com a repressão transnacional promovida pelo PCCh.

Em fevereiro de 2024, uma delegação bipartidária do comitê realizou visita a Taiwan, onde se reuniu com líderes locais para reafirmar o apoio dos EUA à ilha, especialmente diante do aumento das tensões com a China.

Além do Comitê Seleto da Câmara dos EUA dedicado ao PCCh, o Congresso estadunidense tem outros comitês que tratam de questões específicas de países ou regiões, embora seja raro haver comitês permanentes focados exclusivamente em um único país.

O Comitê de Relações Exteriores, presente na Câmara e no Senado, conduz políticas externas e audiências sobre nações como Rússia, Irã e Coreia do Norte, com subcomitês regionais que abrangem várias nações, mas sem o status de comitê seleto exclusivo. 

O Congresso também cria comitês seleto temporários para tratar de temas pontuais, como a crise na Síria ou a interferência russa nas eleições de 2016.

Atualmente, países como Rússia, Irã e Coreia do Norte são abordados por comissões permanentes, diferente do que ocorre com a China. Historicamente, durante a Guerra Fria, havia comitês específicos para a União Soviética, extintos após o fim do conflito.

Por que os EUA temem o Partido Comunista Chinês?

Os Estados Unidos encaram o PCCh com uma preocupação crescente, motivada por fatores estratégicos, econômicos e ideológicos. No âmbito geopolítico, a China emergiu como a principal rival global dos EUA, expandindo sua influência regional e mundial — especialmente na estratégica região do Indo-Pacífico — e desafiando a tradicional hegemonia estadunidense nesse território.

As profundas diferenças ideológicas entre os dois países também alimentam tensões: enquanto o PCCh sustenta um modelo socialista, os Estados Unidos defendem a democracia liberal.

Além disso, o acelerado crescimento econômico e tecnológico da China, com avanços expressivos em setores como 5G, inteligência artificial, semicondutores, infraestrutura por meio da Iniciativa do Cinturão e Rota, e militarização, intensificam as preocupações de Washington em relação à sua hegemonia global.

No campo da segurança nacional, os EUA acusam a China de envolvimento em práticas de espionagem industrial e cibernética, que ameaçam sua segurança tecnológica e militar, o que Pequim nega. A expansão da influência política, econômica e cultural do PCCh em diversas regiões do mundo é vista por Washington como uma tentativa de minar a presença estadunidense e seu modelo de democracia liberal.

Melhorias concretas na vida do povo chinês

O receio de Washington em relação ao PCCh está fortemente associado às entregas concretas e às transformações sociais e econômicas promovidas pela China nas últimas décadas, que contrastam com os desafios enfrentados pela democracia liberal nos Estados Unidos.

Nas últimas quatro décadas, a China retirou mais de 800 milhões de pessoas da pobreza absoluta, conforme dados oficiais do Banco Mundial e do governo chinês — o maior programa de redução da pobreza da história recente. A renda média per capita cresceu de forma significativa, acompanhada da ampliação do acesso a bens de consumo e serviços essenciais.

A expectativa de vida no país saltou de cerca de 68 anos em 1980 para mais de 77 anos em 2023, impulsionada pela expansão da infraestrutura hospitalar e melhorias no sistema público de saúde, incluindo a ampliação da cobertura do seguro saúde. A taxa de alfabetização entre os jovens ultrapassa 97%, enquanto a rápida urbanização elevou a qualidade de vida de centenas de milhões de pessoas, garantindo acesso a saneamento básico, eletricidade e transporte público em larga escala.

Projetos de infraestrutura de grande escala — como ferrovias de alta velocidade, habitação social e energia renovável — transformaram o cotidiano dos chineses. A liderança da China em tecnologias emergentes, como 5G e inteligência artificial, também impulsiona a inovação e a geração de empregos.

Desafios internos dos Estados Unidos

Em contrapartida, os Estados Unidos, apesar de manterem um dos maiores PIBs per capita do mundo e uma ampla oferta de bens e serviços, enfrentam desafios crescentes. Desde a adoção das políticas neoliberais nos anos 1980, a desigualdade de renda aumentou consideravelmente, dificultando o acesso equitativo a serviços básicos para parcelas significativas da população, segundo dados da OCDE.

A expectativa de vida nos EUA está em torno de 78,5 anos, mas apresenta estagnação e até queda recente, reflexo das desigualdades sociais, crises de saúde pública e aumento de doenças crônicas, conforme dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). O sistema de saúde é predominantemente privado, com custos elevados e acesso desigual, mesmo com programas públicos como Medicare e Medicaid.

Embora os EUA contem com educação pública universal e algumas das melhores universidades do mundo, o acesso e a qualidade do ensino variam significativamente conforme renda, raça e região, impactando negativamente a mobilidade social.

Na infraestrutura, apesar da liderança em tecnologia e inovação, áreas essenciais como transporte público e saneamento enfrentam desafios e desigualdades regionais.

Essa diferença na capacidade de promover avanços sociais e econômicos concretos explica, em parte, a apreensão dos EUA diante do modelo chinês, que combina crescimento acelerado, planejamento estratégico e inovação tecnológica sob um governo estável. Enquanto isso, os desafios internos dos EUA evidenciam as limitações e contradições da democracia liberal no contexto contemporâneo.

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