CHINA EM FOCO

Para China, EUA expõem hipocrisia sobre liberdade ao barrar universitários estrangeiros

Pequim comenta medida de Donald Trump de revogar agressivamente vistos de estudantes, principalmente chineses

Pequim comenta medida de Donald Trump de revogar agressivamente vistos de estudantes, principalmente chineses
Para China, EUA expõem hipocrisia sobre liberdade ao barrar universitários estrangeiros.Pequim comenta medida de Donald Trump de revogar agressivamente vistos de estudantes, principalmente chinesesCréditos: Flickr Donald Trump
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O governo de Donald Trump começou a revogar agressivamente os vistos de universitários estrangeiros, principalmente chineses. Para Pequim, a medida escancara a hipocrisia dos Estados Unidos em relação à liberdade e à abertura.

Durante coletiva de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China nesta quinta-feira (29), a porta-voz Mao Ning afirmou que a decisão de Washington de revogar vistos de estudantes chineses é totalmente injustificável.

Ela observou que a medida utiliza ideologia e segurança nacional como pretextos, prejudicando seriamente os direitos e interesses legítimos dos estudantes internacionais da China, além de perturbar os intercâmbios interpessoais entre os dois países.

“A China se opõe firmemente a essa medida e apresentou protesto aos EUA quanto a essa decisão. Essa ação politicamente motivada e discriminatória expõe a hipocrisia dos EUA em relação à liberdade e à abertura. Ela vai prejudicar ainda mais a imagem e a reputação dos próprios Estados Unidos”, afirmou.

Questionada se Pequim considera que a política de vistos pode ter efeitos mais amplos ou colaterais em outras áreas das relações bilaterais, incluindo o comércio, Mao reforçou que a posição da China sobre suas relações com os Estados Unidos é consistente.

“Esperamos que os EUA caminhem na mesma direção, façam mais coisas construtivas e contribuam mais para o desenvolvimento saudável, estável e sustentável das relações bilaterais”, concluiu.

Censura para proteger a liberdade

A revogação dos vistos de estudantes chineses foi anunciada pelo secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, nesta quarta-feira (28), por meio das redes sociais.

“Os Estados Unidos começarão a revogar os vistos de estudantes chineses, incluindo aqueles com ligações com o Partido Comunista Chinês ou que estejam estudando em áreas consideradas críticas”, escreveu.

O anúncio de Rubio integra uma política mais ampla que restringe vistos de autoridades estrangeiras envolvidas, segundo ele, em ações que censuram cidadãos estadunidenses na internet.

Segundo o secretário de Estado de Trump, a medida busca impedir a entrada de indivíduos “cúmplices na censura de estadunidenses”, especialmente em casos nos quais postagens feitas por cidadãos dos EUA em plataformas do próprio país motivam ações legais de autoridades estrangeiras.

“A liberdade de expressão é essencial para o modo de vida americano — um direito inalienável sobre o qual governos estrangeiros não têm autoridade”, declarou Rubio na rede X.

Rubio afirmou que autoridades estrangeiras não devem exigir que empresas de tecnologia dos EUA adotem regras globais de moderação de conteúdo que afetem usuários dentro dos Estados Unidos. Ele também criticou tentativas de aplicar mandados judiciais a cidadãos ou residentes no país com base em postagens feitas em território nacional.

Aliados europeus também foram alvo das críticas. “Seja na América Latina, Europa ou em qualquer outro lugar, os dias de tratamento passivo para aqueles que minam os direitos dos americanos acabaram”, publicou Rubio.

Combate ao “antissemitismo”

A nova diretriz de vistos de Washington também ocorre em meio à repressão a estudantes estrangeiros nos EUA — principalmente ativistas pró-Palestina —, dentro da alegada política de combate ao antissemitismo nos campi universitários.

A administração Trump tem alegado que determinadas manifestações ultrapassam os limites da liberdade de expressão e configuram incitação ao ódio.

Pelas redes sociais, Rubio compartilhou a declaração enviada para a Conferência de Ministros das Relações Exteriores sobre o Combate ao Antissemitismo.

"Não pode haver compromisso com o antissemitismo", destacou.

A proposta surge na esteira de crescentes críticas republicanas às regulamentações digitais da União Europeia, com figuras como o vice-presidente JD Vance, o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, e o deputado republicano por Ohio, Jim Jordan, entre os principais porta-vozes. O Comitê Judiciário da Câmara elogiou a decisão de Rubio, classificando-a como um avanço no combate às tentativas de censura internacional.

Restrições como instrumento diplomático

O uso de restrições de visto tem se intensificado nas últimas administrações em Washington. Tradicionalmente, essas medidas miram indivíduos acusados de corrupção ou violações de direitos humanos e, com frequência, afetam também os familiares diretos dos sancionados.

Embora os nomes dos atingidos não sejam divulgados — em parte devido à confidencialidade dos registros consulares —, autoridades do Departamento de Estado admitem que a incerteza sobre quem está na lista pode funcionar como um elemento de pressão indireta, levando potenciais alvos a modificar seu comportamento para manter o acesso ao território dos EUA.

Essa nova diretriz se insere no contexto de endurecimento da política externa dos EUA sob o segundo mandato de Trump. Um dos primeiros gestos deste novo ciclo foi o discurso de Vance na Conferência de Segurança de Munique, no qual acusou países europeus de adotar políticas restritivas à liberdade de expressão.

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