A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) reduziu sua previsão de crescimento global para 2025, apontando um cenário de desaceleração econômica e aumento da incerteza política e comercial.
Durante uma coletiva regular de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China, nesta quinta-feira (20), a porta-voz Mao Ning comentou o relatório da OCDE.
Te podría interesar
Ela afirmou que barreiras comerciais, incluindo tarifas, não beneficiam ninguém e não contribuem para a prosperidade e estabilidade da economia mundial. Comentou ainda que divergências sobre comércio e negócios devem ser resolvidas por meio do diálogo e da consulta, sem que a economia global pague o preço por isso.
"Independentemente de como o ambiente externo possa evoluir, a China continuará comprometida com a abertura, apoiando firmemente o princípio do livre comércio e o sistema multilateral de comércio. A China está empenhada em promover uma globalização econômica inclusiva e benéfica para todos, buscando o desenvolvimento comum e resultados vantajosos para todos os países", finalizou.
O que diz o relatório da OCDE
O relatório "OECD Economic Outlook, Interim Report – March 2025" destaca que o Produto Interno Bruto (PIB) mundial deverá crescer 3,1% neste ano, abaixo da estimativa anterior de 3,3%, com novas revisões para 3,0% em 2026.
A desaceleração é atribuída, em grande parte, ao aumento das barreiras comerciais e às tensões geopolíticas, especialmente devido às medidas protecionistas dos Estados Unidos sob o governo de Donald Trump.
A administração Trump impôs um aumento de 20 pontos percentuais nas tarifas sobre importações chinesas e elevou tarifas sobre aço e alumínio de diversos países. Além disso, anunciou um aumento adicional de 25 pontos percentuais sobre produtos do Canadá e do México. A China reagiu com medidas retaliatórias direcionadas, intensificando a disputa comercial.
Segundo o relatório, essas restrições comerciais elevam os custos globais, impactando diretamente o investimento e o consumo, além de pressionar a inflação. No cenário projetado, o crescimento do PIB dos EUA cairá de 2,8% em 2024 para 2,2% em 2025 e 1,6% em 2026. No Canadá e no México, as economias devem ser ainda mais afetadas, com o México podendo entrar em recessão.
A China, por sua vez, segundo a OCDE, verá um enfraquecimento gradual do crescimento, de 4,8% em 2025 para 4,4% em 2026, refletindo os desafios impostos pelas tarifas dos EUA e a desaceleração do consumo doméstico. Embora Pequim tenha adotado incentivos para impulsionar o consumo interno, a recuperação econômica tem sido desigual, com setores estratégicos ainda enfrentando dificuldades.
A OCDE alertou que a continuidade das tensões comerciais pode resultar em uma fragmentação maior da economia global, reduzindo o potencial de crescimento a longo prazo. Além disso, a incerteza política pode prejudicar os investimentos privados, ampliando a volatilidade nos mercados financeiros.
O relatório sugere que medidas de cooperação internacional para reduzir barreiras comerciais e restaurar a estabilidade econômica poderiam reverter parte da desaceleração projetada. Caso os EUA e seus parceiros optassem por diminuir tarifas e buscar maior alinhamento regulatório, haveria um efeito positivo na confiança dos mercados e um impulso ao crescimento global.
Em meio a esse cenário, a OCDE recomenda que os países mantenham políticas monetárias flexíveis, evitando ações que possam restringir ainda mais o crescimento. No entanto, com a inflação ainda acima das metas em várias economias, os bancos centrais devem equilibrar os cortes nas taxas de juros com a necessidade de conter pressões inflacionárias.
A tendência de crescimento global moderado reforça os desafios econômicos para os próximos anos, exigindo uma abordagem coordenada para evitar uma escalada ainda maior das tensões comerciais e garantir maior estabilidade econômica.
Previsão de crescimento da China
Durante as "Duas Sessões" realizadas no início deste mês em Pequim, o governo chinês estabeleceu uma meta de crescimento do PIB de aproximadamente 5% para este ano. Essa previsão foi anunciada pelo primeiro-ministro Li Qiang durante a sessão anual da Assembleia Popular Nacional.
Para alcançar essa meta, o governo chinês planeja implementar medidas para estabilizar o crescimento econômico, com foco no fortalecimento da demanda interna e na criação de 12 milhões de novos empregos urbanos. Essas iniciativas visam mitigar os impactos das tensões comerciais com os Estados Unidos e outros desafios econômicos enfrentados pelo país.
Além disso, a China pretende emitir 300 bilhões de yuans (cerca de 41,430 bilhões de dólares) em títulos especiais do tesouro para apoiar programas de renovação de bens de consumo, o dobro do valor emitido no ano anterior, e concentrar-se no desenvolvimento de indústrias de alta tecnologia, como inteligência artificial e redes 6G.
Números mostram que a China cumpre metas
Economistas ocidentais consideram essa meta ambiciosa, especialmente diante das tarifas comerciais adicionais impostas pelos EUA sobre produtos chineses e das medidas de retaliação da China sobre produtos agrícolas americanos. Esses fatores aumentam a pressão sobre a economia chinesa, tornando o cumprimento da meta de crescimento um desafio significativo.
A despeito do ceticismo de economistas ocidentais, nos últimos anos, o governo chinês estabeleceu metas de crescimento econômico que, em sua maioria, foram alcançadas, embora com algumas variações.
- 2024: Meta de crescimento de 5,0%. O PIB da China cresceu 5,4% no quarto trimestre de 2024 em relação ao mesmo período do ano anterior, permitindo que o governo atingisse a meta anual de 5,0%.
- 2023: Meta de crescimento de 5,0%. A economia chinesa cresceu 5,2% em 2023, alcançando a meta estabelecida pelo governo.
- 2022: Meta de crescimento de 5,5%. O crescimento real do PIB foi de 5,0%, ligeiramente abaixo da meta.
- 2021: Meta de crescimento de 6,0%. A economia chinesa cresceu 8,1%, superando significativamente a meta, impulsionada pela recuperação pós-pandemia.
- 2020: Devido à pandemia de Covid-19, o governo não estabeleceu uma meta específica. Ainda assim, a China registrou um crescimento de 2,3%, sendo uma das poucas grandes economias a apresentar crescimento naquele ano.
- 2019: Meta de crescimento entre 6,0% e 6,5%. O crescimento real foi de 6,1%, dentro da faixa estabelecida.
- 2018: Meta de crescimento de 6,5%. A economia cresceu 6,6%, ligeiramente acima da meta.
- 2017: Meta de crescimento de 6,5%. O crescimento real foi de 6,9%, superando a meta.
- 2016: Meta de crescimento entre 6,5% e 7,0%. A economia cresceu 6,7%, dentro da faixa estabelecida.
- 2015: Meta de crescimento de 7,0%. O crescimento real foi de 6,9%, ligeiramente abaixo da meta.
De maneira geral, a China tem conseguido atingir ou se aproximar de suas metas de crescimento econômico nos últimos anos, demonstrando resiliência e capacidade de adaptação às condições econômicas globais.