A disputa econômica entre China e Estados Unidos se intensificou no segundo mandato de Donald Trump. Enquanto Washington adota uma postura cada vez mais protecionista, elevando tarifas e restringindo investimentos estrangeiros, Pequim reforça sua estratégia de abertura e integração ao mercado global.
O lançamento do Plano de Ação 2025 para a Estabilização do Investimento Estrangeiro reflete esse compromisso da China em atrair capital estrangeiro e consolidar sua posição como centro industrial e tecnológico global.
Nesse cenário, o governo chinês rebateu alegações sobre uma suposta tendência de saída de investimentos estrangeiros do país. Dados atualizados indicam um cenário positivo para o capital externo, reforçando que a China continua sendo um dos destinos mais atrativos para investidores globais.
O tema foi abordado durante a coletiva regular de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China, nesta quinta-feira (13). Questionada sobre a aparente contradição nos investimentos estrangeiros no país, a porta-voz Mao Ning apresentou estatísticas recentes que reforçam a posição da China como um dos destinos mais promissores para o capital global.
Ela destacou que projetos significativos já totalizam US$ 33 bilhões em novos investimentos este ano e que, até o final de 2024, empresas estrangeiras haviam estabelecido cerca de 1,24 milhão de companhias na China, com um capital estrangeiro total de US$ 2,9 trilhões.
Somente em 2024, foram registradas 60 mil novas empresas de capital estrangeiro, um crescimento de 9,9% em relação ao ano anterior. Nos últimos cinco anos, o retorno sobre o Investimento Direto Estrangeiro (IDE) na China foi de aproximadamente 9%, colocando o país entre os destinos mais rentáveis para investidores internacionais.
Esses números, segundo Mao, demonstram que a China continua sendo um ambiente estratégico e favorável para negócios globais, contrariando alegações de uma fuga de capital estrangeiro.
A porta-voz também ressaltou que parcerias comerciais com a China continuarão trazendo novas oportunidades para investidores internacionais.
"A China sempre acolherá empresas de todos os países para investirem no país e explorarem o mercado chinês, desfrutando juntas dos benefícios e do desenvolvimento", declarou Mao Ning.
Plano de Ação 2025 para a Estabilização do Investimento Estrangeiro
Para reforçar a atratividade do país, a China lançou, em fevereiro deste ano, o Plano de Ação 2025 para a Estabilização do Investimento Estrangeiro, que prevê 20 novas medidas para expandir a abertura econômica de forma ordenada e aprimorar os mecanismos de promoção de investimentos.
Inclusive, o Relatório de Trabalho do Governo de 2025, que acaba de ser aprovado durante o principal evento político anual da China, as Duas Sessões, destaca que as empresas estrangeiras terão garantido tratamento nacional em áreas como:
- Acesso a fatores de produção, como terras, crédito e energia;
- Processo de licenciamento e aprovação regulatória;
- Definição de padrões industriais e regulatórios;
- Participação em licitações governamentais.
O objetivo é assegurar que empresas estrangeiras tenham igualdade de condições no mercado chinês, ampliando as oportunidades para expansão e crescimento.
Compromisso com a abertura e expansão do mercado
O Plano de Ação 2025 faz parte da estratégia da China para fortalecer a confiança do mercado global e consolidar o país como polo de inovação, produção e crescimento econômico sustentável.
A porta-voz Mao Ning reforçou que Pequim mantém seu compromisso com a abertura econômica de alto padrão, independentemente das mudanças no cenário global.
"A China segue firme no compromisso de manter uma economia aberta e de alto nível, sempre dando boas-vindas às empresas estrangeiras que desejam explorar o mercado chinês e compartilhar do crescimento conjunto", afirmou.
O plano inclui novos incentivos ao capital estrangeiro, especialmente em setores estratégicos, como tecnologia, semicondutores, manufatura avançada e energia verde. Além disso, o governo pretende expandir a cooperação internacional, fortalecendo o comércio e a integração de empresas estrangeiras no mercado chinês.
Com essas medidas, a China busca consolidar-se como um dos principais destinos para investimentos globais, em um momento de crescente fragmentação econômica mundial.
Plano de Ação 2025 e o isolacionismo dos EUA sob Trump
O Plano de Ação 2025 para a Estabilização do Investimento Estrangeiro deve ser analisado no contexto das mudanças geopolíticas globais, especialmente diante do isolacionismo econômico dos Estados Unidos sob o segundo mandato de Donald Trump.
A administração Trump tem adotado uma postura protecionista, restringindo investimentos chineses nos EUA, aumentando tarifas sobre importações e incentivando a repatriação da produção industrial para reduzir a dependência das cadeias globais de suprimentos. Esse cenário leva muitas multinacionais a buscarem novos mercados para expansão, e a China se apresenta como a principal alternativa.
China como principal destino alternativo para investimentos
Diante do recuo dos EUA em sua política comercial global, empresas multinacionais precisam realocar seus investimentos. A China, com sua infraestrutura industrial avançada, mercado consumidor de 1,4 bilhão de pessoas e incentivos regulatórios, se posiciona como um dos destinos mais estratégicos para o capital estrangeiro.
O Plano de Ação 2025 tem como objetivo manter a atratividade da China para investidores internacionais, especialmente em um ambiente global cada vez mais fragmentado. As medidas de Pequim - abertura de setores estratégicos; facilitação de investimentos estrangeiros; e incentivos a parcerias tecnológicas - visam contrabalançar os efeitos da saída de algumas empresas ocidentais que passaram a diversificar suas cadeias de suprimentos, em parte devido às restrições impostas pelo governo Trump.
Concorrência entre modelos econômicos: China vs. EUA
A disputa econômica entre China e EUA, já intensa no primeiro governo Trump, se aprofundou no segundo mandato. Washington busca isolar economicamente a China, restringindo o acesso chinês a semicondutores avançados, limitando investimentos em empresas chinesas e pressionando aliados a reduzirem sua dependência da economia chinesa.
O Plano de Ação 2025 é uma resposta estratégica a essa ofensiva, garantindo que a China continue sendo um centro industrial e tecnológico global, atraindo investimentos e consolidando sua posição na economia mundial.
China como polo de investimento em um mundo multipolar
O Plano de Ação 2025 reflete a estratégia da China para manter sua liderança como destino de investimentos estrangeiros, mesmo diante das restrições impostas pelos EUA.
Com Washington adotando um isolacionismo econômico mais acentuado, Pequim tem a oportunidade de consolidar-se como o principal polo de atração de capital global.
O sucesso do plano dependerá da capacidade da China de equilibrar a abertura econômica com sua agenda de autossuficiência tecnológica, garantindo que, mesmo sob pressões externas, o país continue sendo um centro vital para a economia mundial.