CHINA EM FOCO

Guerra dos Chips: China acelera corrida tecnológica global com novo processador do Alibaba

Semicondutores de arquitetura aberta desenvolvidos pela big tech chinesa desafiam hegemonia ocidental e reforçam autonomia tecnológica da potência asiática

China acelera corrida tecnológica global com novo processador da Alibaba.Semicondutores de arquitetura aberta desenvolvidos pela gigante chinesa desafiam hegemonia ocidental e reforçam autonomia tecnológica da potência asiáticaCréditos: Alibaba
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A disputa pela supremacia tecnológica entre China e Estados Unidos ganhou um novo capítulo com o lançamento do processador XuanTie C930, desenvolvido pelo Alibaba Group Holding.

A novidade representa um avanço estratégico para a indústria de semicondutores chinesa, ao utilizar a arquitetura RISC-V, um padrão open-source (arquitetura aberta), visto como uma alternativa viável às restrições tecnológicas impostas por Washington.

Em meio às tensões geopolíticas e à intensificação da disputa tecnológica, o governo chinês tem investido na independência do setor de chips, impulsionando o desenvolvimento de processadores domésticos que possam competir globalmente.

O C930, projetado pela unidade de semicondutores T-Head do Alibaba, é um marco nesse esforço, sendo voltado para aplicações de computação de alto desempenho, como servidores de data centers e veículos autônomos.

O chip foi apresentado em 28 de fevereiro, em Pequim, pela Damo Academy, braço de pesquisa do Alibaba. Ele começará a ser distribuído a clientes ainda neste mês e terá seu design disponível para licenciamento por desenvolvedores de circuitos integrados (ICs).

O analista de dados e ouvidor da Revista Fórum, Edgard Piccino, avalia que a novidade pode mudar a dinâmica na disputa pela hegemonia tecnológica entre as duas superpotências globais.

"É um avanço tecnológico que pode mudar o jogo no campo da guerra dos chips e dos data centers, e interessa muito ao Sul Global, pois é uma arquitetura aberta, um hardware livre. No campo do hardware, é tão importante quanto o DeepSeek para a IA", observou.

Estratégia de Pequim contra restrições de Washington

O lançamento do XuanTie C930 ocorre em um momento crítico para a indústria de semicondutores da China, que enfrenta restrições comerciais impostas pelos Estados Unidos, bloqueando o acesso de empresas chinesas a chips avançados e equipamentos de fabricação.

Como resposta, Pequim tem acelerado o desenvolvimento de tecnologias open-source, e a arquitetura RISC-V surge como uma solução promissora.

Diferente das arquiteturas x86 da Intel e ARM da britânica Arm Holdings, que dominam os mercados de PCs e smartphones, o RISC-V é um padrão aberto, permitindo que empresas chinesas desenvolvam chips sem depender de patentes ocidentais.

"O modelo open-source ajudará a construir um ecossistema global RISC-V mais inclusivo e colaborativo, tornando-se o novo motor de transformação da indústria de chips", afirmou Ni Guangnan, acadêmico da Academia Chinesa de Engenharia, durante o evento de lançamento.

Antes restrita a dispositivos de baixo custo, como fones de ouvido sem fio, a tecnologia RISC-V está agora sendo aplicada a servidores e laptops, representando uma mudança significativa no mercado global de semicondutores.

DeepSeek, IA Open-Source e o futuro da inovação chinesa

Analistas da Guotai Junan Securities, uma das principais corretoras de valores mobiliários da China, destacaram que, assim como o DeepSeek rompeu o monopólio da OpenAI com suas vantagens de código aberto, baixo custo e alto desempenho, o RISC-V demonstra um potencial significativo na era da inteligência artificial.

Essa observação foi feita em uma nota de pesquisa publicada em 5 de março e divulgada pelo jornal chinês South China Morning Post (SCMP).

A avaliação contextualiza o avanço do DeepSeek no desenvolvimento de modelos de IA de código aberto, como o V3 e o R1, que operam com uma fração do custo e poder de processamento geralmente exigidos por grandes empresas de tecnologia em projetos de modelos de linguagem de grande escala (LLM).

Os LLMs são a base de serviços de IA generativa, como o chatbot do DeepSeek, o Ernie Bot da Baidu e o ChatGPT da OpenAI.

A adoção de tecnologias de arquitetura aberta, como o RISC-V, tem sido um fator significativo no avanço da indústria tecnológica chinesa nas últimas décadas.

A análise da Guotai Junan Securities enfatiza o potencial do RISC-V na era da inteligência artificial, destacando a importância de tecnologias de código aberto para a inovação e competitividade no setor de semicondutores.

Alibaba impulsiona o mercado de chips chineses

De acordo com a Damo Academy, o XuanTie C930 superou 15 pontos por gigahertz nos testes SPECint2006, um índice que mede o desempenho de CPUs. Esse resultado confirma que o RISC-V pode competir com as arquiteturas tradicionais em computação de alto desempenho.

O Alibaba tem sido um dos principais atores no avanço do RISC-V na China, lançando diversos processadores da linha XuanTie, incluindo os modelos C920 (2023) e C910 (2019).

Além disso, a empresa anunciou planos para novos chips voltados para inteligência artificial (AI Plus), veículos autônomos e interconexão de alta velocidade, como os modelos C908X, R908A e XL200.

O crescimento da produção doméstica de chips reforça a estratégia da China de reduzir a dependência de semicondutores ocidentais e expandir sua influência no setor tecnológico global.

Projeções para o mercado global de semicondutores

A adoção global da arquitetura RISC-V está crescendo rapidamente. Um relatório da SHD Group projeta que as remessas globais de chips RISC-V alcançarão 16,2 bilhões de unidades até 2030, um salto expressivo em relação a 1,3 bilhão de unidades em 2023.

O valor de mercado dos semicondutores baseados em RISC-V pode atingir impressionantes US$ 92,7 bilhões na próxima década.

Esse crescimento indica que o RISC-V pode se tornar um padrão global, à medida que países buscam reduzir a dependência de fornecedores ocidentais e fortalecer suas cadeias de suprimentos tecnológicas.

China e o Sul Global: um novo paradigma na geopolítica tecnológica

O avanço da China no setor de semicondutores não é apenas uma questão econômica ou industrial, mas um fator geopolítico de grande impacto.

Com o fortalecimento do RISC-V, Pequim não apenas busca sua autossuficiência tecnológica, mas também oferece uma alternativa viável para países do Sul Global, que frequentemente enfrentam dificuldades para acessar tecnologia avançada devido a sanções ou barreiras comerciais impostas pelo Ocidente.

A cooperação com mercados emergentes, impulsionada por iniciativas como a Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI), permite à China expandir sua influência tecnológica em regiões como América Latina, África e Sudeste Asiático.

Esse movimento não apenas desafia o domínio dos EUA no setor de semicondutores, mas também cria novas alianças estratégicas, remodelando a ordem tecnológica global.

A China redefine a indústria global de chips

O lançamento do XuanTie C930 e o avanço do RISC-V representam um ponto de inflexão na indústria de semicondutores.

Se Pequim continuar investindo na produção nacional de semicondutores, combinando open-source, inteligência artificial e colaboração com o Sul Global, o RISC-V poderá se tornar o novo padrão da indústria, consolidando a China como uma superpotência tecnológica independente.

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