CHINA EM FOCO

Guerra dos Chips: China reage com crítica ácida à escalada de restrição dos EUA

Disputa tecnológica entre as duas superpotências se intensifica e ameaça o mercado global de semicondutores

Guerra dos Chips: China reage com crítica ácida à escalada de restrição dos EUA.Disputa tecnológica entre as duas superpotências se intensifica e ameaça o mercado global de semicondutores.Créditos: Responsible State Craft
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A administração de Donald Trump está elaborando novas medidas para endurecer as restrições ao setor de semicondutores da China, ampliando os esforços iniciados durante o governo de Joe Biden para conter o avanço tecnológico de Pequim.

Durante uma coletiva de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China nesta terça-feira (25), em Pequim, o porta-voz Lin Jian deu uma resposta contundente em nome do governo chinês.

Lin classificou as ações de Washington como uma “supressão maliciosa” da indústria chinesa de semicondutores. Segundo o porta-voz, os Estados Unidos têm politizado questões comerciais e tecnológicas ao ampliar o conceito de segurança nacional e usar tais temas como instrumentos de pressão.

Ele também acusou dos EUA de coagir outros países a seguir o mesmo caminho, o que, em sua visão, prejudica o desenvolvimento da indústria global de semicondutores.

“As ações dos EUA terão um efeito contrário, prejudicando não apenas a China, mas também os próprios Estados Unidos e outros países”, afirmou Lin Jian.

A informação foi divulgada pela Reuters nesta terça-feira. Segundo o relatório, autoridades de Washington realizaram recentemente reuniões com representantes do Japão e da Holanda para discutir formas de limitar o acesso da China à manutenção de equipamentos de semicondutores fornecidos por empresas como a Tokyo Electron e a ASML.

A medida visa impedir que engenheiros dessas companhias atuem em território chinês, restringindo a capacidade do país asiático de manter sua infraestrutura tecnológica.

Além disso, membros do governo Trump estudam impor novas restrições à exportação de chips da Nvidia para a China, ampliando o controle sobre a quantidade e os tipos de semicondutores que podem ser comercializados sem necessidade de licença.

Fontes familiarizadas com o assunto afirmaram que a iniciativa busca limitar o uso de processadores avançados em aplicações como inteligência artificial e supercomputação.

O objetivo da nova política é garantir que os principais aliados dos Estados Unidos acompanhem as restrições já impostas às empresas estadunidenses do setor de semicondutores, como a Lam Research, a KLA e a Applied Materials.

O endurecimento das medidas reflete a crescente disputa entre Washington e Pequim pelo domínio das tecnologias estratégicas, consolidando o uso de controles comerciais como ferramenta de política externa.

A Nvidia, o Ministério da Economia, Comércio e Indústria do Japão (METI) e o Ministério das Relações Exteriores da Holanda não comentaram o assunto. A Tokyo Electron, a ASML e a Casa Branca também não se pronunciaram.

A escalada nas restrições reflete o aprofundamento das tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China, com impactos significativos para a cadeia global de suprimentos de semicondutores.

Especialistas alertam que o endurecimento das regras pode agravar a escassez de chips em setores estratégicos e aumentar a volatilidade no mercado financeiro.

Histórico da Guerra dos Chips Entre EUA e China

A chamada “guerra dos chips” entre Estados Unidos e China é um dos principais capítulos da disputa tecnológica global, refletindo o crescente confronto entre as duas potências pela liderança em áreas estratégicas como inteligência artificial, computação de alto desempenho e telecomunicações. A seguir, um panorama dos principais eventos e medidas que moldaram esse embate:

1. Início da Disputa (2018-2019)

A tensão se intensificou durante o governo de Donald Trump (2017-2021), com o argumento de que a dependência da tecnologia chinesa representava um risco à segurança nacional dos EUA. Em 2018, os Estados Unidos impuseram tarifas sobre produtos tecnológicos chineses, marcando o início da guerra comercial.

Em 2019, a Huawei, gigante chinesa de telecomunicações, foi colocada na “Lista de Entidades” do Departamento de Comércio dos EUA, proibindo empresas estadunidenses de fornecerem componentes e softwares essenciais, como os processadores da Qualcomm e o sistema Android do Google. A medida afetou diretamente a capacidade da Huawei de competir no mercado global de smartphones e infraestrutura de redes 5G.

2. Escalada nas Restrições (2020-2021)

Em 2020, o governo Trump endureceu ainda mais as restrições ao proibir qualquer empresa global que utilizasse tecnologia estadunidense de fornecer chips avançados à Huawei sem uma licença especial. A Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), maior fabricante de chips do mundo, foi obrigada a suspender o fornecimento à Huawei, prejudicando o desenvolvimento de smartphones e equipamentos de rede da empresa chinesa.

Ainda em 2020, os EUA ampliaram as restrições a outras empresas chinesas, incluindo a SMIC (Semiconductor Manufacturing International Corporation), principal fabricante de semicondutores da China, alegando riscos à segurança nacional e laços com o exército chinês.

3. Continuidade Sob o Governo Biden (2021-2024)

Sob a administração de Joe Biden, a política de restrições não apenas continuou, mas foi ampliada. Em outubro de 2022, o governo dos EUA implementou um conjunto de restrições abrangentes, impedindo empresas estadunidenses de venderem semicondutores avançados e equipamentos de fabricação de chips para a China. A medida afetou diretamente setores como inteligência artificial, supercomputação e armamentos avançados.

Além disso, os EUA buscaram formar alianças estratégicas com países-chave no setor de semicondutores, como Japão, Coreia do Sul e Holanda e o território chinês de Taiwan, visando limitar o acesso da China às tecnologias mais sofisticadas. Empresas como a ASML, fabricante holandesa de equipamentos de litografia, foram pressionadas a não vender seus produtos mais avançados à China.

Em agosto de 2022, o governo Biden aprovou o CHIPS and Science Act, um pacote de incentivos de US$ 52,7 bilhões para fortalecer a produção doméstica de semicondutores e reduzir a dependência de fornecedores estrangeiros, especialmente da China.

4. Resposta da China e Impacto Global

A China respondeu intensificando seus investimentos em autossuficiência tecnológica. O governo chinês destinou bilhões de dólares para desenvolver sua indústria de semicondutores, com o objetivo de reduzir a dependência de fornecedores estrangeiros. Empresas como a SMIC avançaram na produção de chips de 7 nanômetros, embora ainda enfrentem limitações devido à falta de equipamentos de ponta.

O conflito gerou impactos globais, afetando a cadeia de suprimentos de semicondutores e contribuindo para a escassez de chips que atingiu setores como automóveis, eletrônicos e telecomunicações.

O que esperar da Guerra dos Chips

A guerra dos chips entre EUA e China reflete a crescente rivalidade tecnológica e geopolítica entre as duas superpotências. Enquanto os Estados Unidos buscam manter sua liderança restringindo o acesso da China a tecnologias avançadas, o país asiático investe em sua autossuficiência para contornar as barreiras impostas. O resultado desse embate terá implicações de longo prazo para a economia global, a inovação tecnológica e o equilíbrio de poder no século 21.

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