CHINA EM FOCO

China condena liberação de ajuda militar dos EUA a Taiwan e promete resposta firme

Pequim critica decisão do governo Trump de destinar US$ 870 milhões a Taiwan, acusa Washington de violar o princípio de "Uma Só China" e alerta para medidas de retaliação

China condena liberação de ajuda militar dos EUA a Taiwan e promete resposta firme.Pequim critica decisão do governo Trump de destinar US$ 870 milhões a Taiwan, acusa Washington de violar o princípio de "Uma Só China" e alerta para medidas de retaliação.Créditos: Shutterstock
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Um juiz federal dos Estados Unidos determinou nesta terça-feira (25) que o governo do presidente Donald Trump libere os US$ 5,3 bilhões em ajuda externa que estavam retidos, exigindo que os pagamentos sejam efetuados até a noite de quarta-feira (26). Do total, US$ 870 milhões são destinados à assistência militar a Taiwan, uma medida que acirrou ainda mais as tensões com a China.

O governo chinês reagiu com firmeza à decisão dos EUA de fornecer assistência militar a Taiwan. Durante coletiva regular de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China, em Pequim, nesta quarta-feira (26), o porta-voz Lin Jian condenou a medida e afirmou que a ajuda militar representa uma violação grave do princípio de "Uma Só China" e dos três comunicados conjuntos China-EUA.

"Estamos profundamente preocupados com esses relatos. A China sempre se opôs à assistência militar dos EUA à região de Taiwan, pois isso viola gravemente os acordos diplomáticos firmados entre os dois países e compromete a soberania e a segurança da China", declarou.

O porta-voz instou os EUA a cessarem o fornecimento de armas à ilha e acusou Washington de enviar um sinal errado às forças separatistas taiwanesas. A China reforçou que acompanhará a situação de perto e tomará medidas para garantir sua soberania e integridade territorial.

Impactos na USAID e protestos em Washington

A decisão do juiz Amir Ali, da Corte Distrital de Washington, aponta que a administração Trump não tomou nenhuma providência para cumprir ordens judiciais anteriores sobre a liberação dos fundos. A suspensão dos repasses foi imposta em janeiro de 2025, quando o governo bloqueou toda a ajuda externa por 90 dias, alegando necessidade de revisão dos gastos internacionais.

A retenção prolongada dos fundos gerou uma crise na Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). No último domingo (23), a agência anunciou que 1.600 funcionários serão demitidos e que a maioria dos servidores restantes será colocada em licença administrativa remunerada.

A notícia provocou protestos em frente ao Capitólio, onde manifestantes seguravam cartazes com mensagens como "A USAID salva vidas!" e "Cortar a ajuda global não resolverá a crise". Organizações que dependem da assistência externa alertam que podem fechar completamente caso os recursos não sejam liberados rapidamente.

A USAID, que em 2023 financiou projetos em 160 países, tornou-se um dos principais alvos do plano de corte de gastos do governo Trump, conduzido pelo bilionário Elon Musk, nomeado chefe do Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês).

Os cortes afetam diretamente ONGs internacionais, incluindo algumas que atuam no Brasil. Os principais beneficiários da ajuda externa dos EUA são: Ucrânia (US$ 17 bilhões), Israel (US$ 3,3 bilhões), Jordânia (US$ 1,7 bilhão), Egito (US$ 1,5 bilhão) e
Etiópia (US$ 1,6 bilhão).

Mesmo países que não mantêm relações diplomáticas com os EUA, como Irã e Coreia do Norte, já receberam investimentos da USAID em diferentes momentos.

Trump e o apoio a Taiwan

Desde seu primeiro mandato, Donald Trump adotou uma postura mais firme em relação a Taiwan, fortalecendo laços diplomáticos e ampliando a assistência militar à ilha. 

Em 2017, sua administração aprovou um pacote de vendas de armas para Taiwan no valor de US$ 1,4 bilhão, reforçando o compromisso com a defesa da ilha contra pressões militares da China. Em 2018, ele sancionou o Taiwan Travel Act, que permitiu encontros de alto nível entre funcionários dos governos de Washington e Taipei.

Mas nem todas as ações da Casa Branca foram bem recebidas em Taiwan. Em janeiro de 2025, Trump anunciou que imporia tarifas sobre semicondutores produzidos na ilha, medida que pode prejudicar severamente sua economia, uma vez que Taiwan é um dos maiores exportadores globais de chips eletrônicos.

Marco Rubio e a estratégia anti-China

A nomeação do senador Marco Rubio como Secretário de Estado em janeiro de 2025 consolidou uma política externa ainda mais rígida contra Pequim. Rubio, conhecido por sua posição crítica à China, colocou a defesa de Taiwan como uma prioridade estratégica dos EUA.

Em encontros com o chanceler chinês Wang Yi, Rubio declarou que os EUA têm "sérias preocupações" com as ações coercitivas da China contra Taiwan e reafirmou que Washington manterá seu compromisso militar e diplomático com a ilha.

"Não aceitaremos tentativas de coerção ou intimidação por parte da China. Taiwan é um parceiro estratégico, e continuaremos a garantir sua segurança", afirmou Rubio.

Entre as principais medidas adotadas sob sua liderança, destacam-se:

  • Reafirmação das "Seis Garantias" como pilares da política EUA-Taiwan.
     
  • Reforço da presença militar dos EUA no Indo-Pacífico.
     
  • Aprovação de novas vendas de armamentos defensivos para Taiwan.

Seis Garantias vs. Três Comunicados

A política dos EUA para Taiwan está ancorada em duas diretrizes aparentemente contraditórias: os Três Comunicados Conjuntos China-EUA e as Seis Garantias.

Os Três Comunicados (1972, 1979 e 1982) foram acordos diplomáticos nos quais Washington reconheceu o princípio de "Uma Só China" e se comprometeu a reduzir gradualmente as vendas de armas para Taiwan.

Por outro lado, as Seis Garantias, estabelecidas pelo governo Reagan em 1982, foram reafirmadas por Trump e Rubio como base da relação com Taipei. Essas diretrizes incluem:

  • Nenhuma data limite para encerrar a venda de armas a Taiwan.
     
  • Nenhuma consulta prévia a Pequim sobre assistência militar.
     
  • Nenhuma pressão para que Taiwan negocie com a China.
     
  • Nenhuma revisão da Lei de Relações com Taiwan.

Essas garantias desafiam diretamente os compromissos firmados nos Três Comunicados, pois reforçam que os EUA não aceitarão a soberania chinesa sobre Taiwan e continuarão a fornecer apoio militar à ilha.

Na prática, os EUA adotam uma política ambígua, equilibrando compromissos diplomáticos com Pequim e apoio militar a Taipei. Essa abordagem visa evitar um conflito direto no Estreito de Taiwan, mas, ao mesmo tempo, gera tensões constantes com a China.

O que esperar do futuro

A decisão do governo Trump de liberar fundos de assistência externa e intensificar o apoio militar a Taiwan amplia a crise diplomática entre Washington e Pequim. A nomeação de Marco Rubio como Secretário de Estado reforça uma postura mais confrontativa contra a China, fortalecendo a aliança dos EUA com Taiwan.

Diante desse cenário, a estabilidade na região do Indo-Pacífico segue incerta, e as relações sino-estadunidenses podem atingir novos níveis de tensão nos próximos meses.

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