CHINA EM FOCO

China-EUA: primeira rodada sobre tarifaço de Trump não tem acordo

Vice-premiê He Lifeng e secretário do Tesouro Scott Bessent discutem tarifas e perspectivas de um novo acordo comercial

China-EUA: primeira rodada sobre tarifaço de Trump não tem acordo.Emissários de Xi Jinping e Donald Trump iniciam negociações para novo acordo comercial, que não avançam.Créditos: Fotomontagem Xinhua e Shutterstock
Escrito en GLOBAL el

O vice-premiê da China, He Lifeng, e o novo secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, realizaram uma videoconferência nesta sexta-feira (20), em meio às expectativas de retomada das negociações comerciais entre as duas potências. 

O encontro, a pedido de Washington, teve como foco a implementação do consenso alcançado durante uma ligação telefônica recente entre os presidentes Xi Jinping e Donald Trump. A reunião foi marcada por divergências em relação às tarifas impostas pelos EUA, segundo informou o Grupo de Mídia da China (CMG, da sigla em inglês).

Durante a conversa, He Lifeng expressou “sérias preocupações” sobre as recentes medidas restritivas dos EUA, incluindo a sobretaxa de 10% aplicada a produtos chineses. 

O representante de Pequim ressaltou que essas ações prejudicam a estabilidade das relações bilaterais e violam as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC). Apesar das diferenças, ambos os lados reconheceram a importância do relacionamento econômico e concordaram em manter o diálogo sobre temas de interesse mútuo.

Antes da reunião, Bessent declarou à Bloomberg TV que esperava “uma discussão muito produtiva” e afirmou que o principal objetivo dos EUA era demonstrar disposição para colaborar com a China. O secretário também mencionou a crise de opioides nos Estados Unidos, atribuindo a origem de muitos ingredientes do fentanil ao território chinês, o que, segundo ele, justificaria as tarifas adicionais.

O encontro sinaliza uma possível retomada das negociações, agora sob o governo Trump, que busca replicar o acordo comercial assinado durante seu primeiro mandato. 

Em declaração recente, o presidente dos EUA afirmou que “é possível” alcançar um novo entendimento e relembrou que, no acordo anterior, a China se comprometeu a adquirir cerca de US$ 50 bilhões em produtos americanos. 

Em resposta, o Ministério do Comércio da China classificou as ameaças de tarifas recíprocas como uma manifestação de “protecionismo e unilateralismo”, destacando que a postura dos EUA desrespeita o equilíbrio alcançado pelo sistema multilateral de comércio.

Histórico da Guerra Comercial

A disputa comercial entre China e EUA teve início em 2018, durante o primeiro governo de Donald Trump. As tarifas impostas pelos EUA buscavam conter o que Washington considerava práticas comerciais desleais de Pequim, incluindo o roubo de propriedade intelectual e subsídios estatais.

Em 2018, as tarifas estadunidenses atingiram produtos chineses no valor de US$ 34 bilhões, levando a China a retaliar com medidas semelhantes. O impasse se agravou em 2019, quando Washington aumentou as tarifas para 25% sobre US$ 200 bilhões em bens chineses. 

Apesar das tentativas de negociação, as tensões persistiram até a assinatura da “Fase Um” do acordo comercial, em janeiro de 2020. Nesse pacto, a China concordou em aumentar as importações de produtos agrícolas, energéticos e manufaturados dos EUA em US$ 200 bilhões ao longo de dois anos.

Com a pandemia de Covid-19 e a transição para o governo Biden, as interações diretas entre os líderes dos dois países foram limitadas. Biden manteve grande parte das tarifas herdadas da gestão Trump, embora tenha buscado fortalecer alianças internacionais para pressionar Pequim em áreas como direitos humanos e tecnologia.

A reeleição de Trump em 2024 reacendeu as expectativas de uma nova rodada de tarifas e restrições comerciais, com o presidente dos EUA sugerindo medidas semelhantes às adotadas em seu primeiro mandato. Em resposta, o governo chinês reforçou sua estratégia de autossuficiência tecnológica e criticou a postura protecionista de Washington.

Encontros entre Xi Jinping e Donald Trump

Desde 2017, Xi Jinping e Donald Trump mantiveram uma série de encontros e telefonemas que moldaram as relações bilaterais. O primeiro encontro ocorreu em abril de 2017, na Flórida, seguido pela visita de Trump à China em novembro do mesmo ano. 

Em 2018, durante a cúpula do G20 na Argentina, os líderes concordaram em uma trégua temporária para as tarifas, enquanto, em 2019, na cúpula do G20 no Japão, retomaram as negociações comerciais.

Em janeiro de 2020, Xi e Trump participaram da assinatura da “Fase Um” do acordo comercial em Washington. Após um período de menor interação direta devido à pandemia, o diálogo foi retomado em janeiro de 2025, com uma ligação telefônica em que discutiram comércio, TikTok e a crise do fentanil. Em fevereiro de 2025, Trump mencionou a expectativa de uma visita de Xi aos EUA para aprofundar as discussões.

Principais impactos da Guerra Comercial

Para os EUA:

  • Aumento dos custos para consumidores e empresas devido às tarifas sobre produtos chineses.
     
  • Impacto negativo no setor agrícola, especialmente para produtores de soja.

Para a China:

  • Redução nas exportações para os EUA e desaceleração do crescimento econômico.
     
  • Aceleração da estratégia de autossuficiência tecnológica, especialmente em semicondutores.

Globalmente:

  • Desestabilização das cadeias de suprimentos globais.
     
  • Reorganização de investimentos em países do Sudeste Asiático, México e outros mercados alternativos.

O que esperar agora

Com a retomada do diálogo sob a nova administração Trump, a China busca consolidar seu papel como protagonista nas negociações comerciais, defendendo a importância do comércio multilateral e a necessidade de cooperação econômica global. 

A expectativa é de que os próximos encontros determinem os rumos das relações sino-estadunidenses nos próximos anos, impactando não apenas os dois países, mas também a economia global.

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar