Pequim não aprovou as mudanças promovidas pela gestão de Marco Rubio na página do Departamento de Estado dos Estados Unidos sobre o país asiático. Sob a liderança do ex-senador, o órgão revisou a ficha informativa sobre a China, ampliando a seção dedicada aos laços econômicos sino-estadunidenses.
A nova versão enfatiza o déficit comercial entre os dois países, as supostas práticas de concorrência desleal da China e as preocupações das empresas dos EUA em operar no país. Além disso, foram retiradas todas as referências à assistência à China e à cooperação com aliados em relação ao país.
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Durante uma coletiva de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China nesta quinta-feira (20), em Pequim, o porta-voz Guo Jiakun afirmou que as mudanças feitas pelo Departamento de Estado em sua página “Relações EUA-China” e na ficha informativa “Relações dos EUA com a China” distorcem os fatos, atacam a política externa da China e propagam a chamada competição estratégica entre os dois países.
“Reprovamos veementemente e nos opomos firmemente a isso”, declarou.
Guo ressaltou que a política da China em relação aos EUA é consistente e clara, destacando que o governo de Pequim busca desenvolver os laços bilaterais de acordo com os três princípios propostos pelo presidente Xi Jinping: respeito mútuo, coexistência pacífica e cooperação ganha-ganha.
“Estamos igualmente determinados a defender nossa soberania, segurança e interesses de desenvolvimento”, enfatizou.
O porta-voz instou os Estados Unidos a implementarem os consensos alcançados pelos dois presidentes durante uma recente ligação telefônica, apelando para que Washington cesse os ataques contra a China e trate as relações bilaterais de forma objetiva e racional.
Mudanças na página do Departamento de Estado
As alterações, implementadas em 13 de fevereiro, refletem as prioridades do governo de Donald Trump, que recentemente também retirou da ficha informativa sobre Taiwan a declaração de que não apoia a independência da ilha, o que irritou Pequim.
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A nova versão da página descreve a economia chinesa como “um dos ambientes de investimento mais restritivos do mundo” e destaca as dificuldades enfrentadas pelas empresas dos EUA no país.
“A China também adota práticas comerciais desleais, incluindo o uso de trabalho forçado e subsídios estatais massivos, colocando as empresas americanas em desvantagem e tornando-as cúmplices das violações dos direitos humanos cometidas pela China”, afirma o texto.
As mudanças ocorreram após Trump impor uma tarifa adicional de 10% sobre todas as importações chinesas, alegando que Pequim não conseguiu conter o tráfico de fentanil. Além disso, Trump planeja adotar tarifas recíprocas contra países que dificultarem o acesso dos produtos norte-americanos aos seus mercados.
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Outra modificação importante foi a substituição do termo “República Popular da China (RPC)” por “China” ao longo da ficha informativa.
A nova seção também aborda a atividade cibernética chinesa contra órgãos governamentais dos EUA e redes de infraestrutura crítica, além dos esforços de Pequim para obter tecnologias estadunidense de ponta para fins militares. O site enfatiza a necessidade de reconstruir a base industrial dos EUA e manter a liderança em inteligência artificial.
No contexto das organizações internacionais, a nova seção acusa o Partido Comunista Chinês (PCCh) de tentar manipular e subverter entidades como as Nações Unidas, buscando colocar membros do PCCh em posições estratégicas de liderança.
Outra alteração relevante foi a remoção da menção anterior de que os EUA trabalhariam “em estreita colaboração com nossos aliados e parceiros para defender nossos interesses e valores”. Em vez disso, o texto atual afirma que Washington seguirá os “princípios de reciprocidade e justiça” em suas relações com a China.
Além disso, a seção sobre assistência à China, que anteriormente mencionava programas de preservação da cultura tibetana, proteção ambiental, direitos humanos e combate ao tráfico de drogas, foi completamente eliminada.
Essas mudanças acompanham a iniciativa de Trump de reestruturar o governo dos EUA, incluindo a tentativa de desmantelar a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e suspender a assistência externa.
Ambiente de negócios na China
Em contraponto às críticas da administração Trump, o governo chinês tem adotado medidas para aprimorar o ambiente de negócios no país, tornando-o mais atrativo para investidores estrangeiros. Essas iniciativas incluem a promulgação de leis específicas, a redução de restrições ao investimento externo e a implementação de reformas administrativas em várias regiões.
Em março de 2019, a China aprovou a Lei de Investimento Estrangeiro, cujo objetivo é aumentar a transparência das políticas relacionadas e garantir que empresas estrangeiras possam competir em condições de igualdade no mercado chinês. A legislação oferece garantias legais mais robustas para os direitos e interesses dos investidores internacionais.
Em setembro de 2024, o governo chinês anunciou a remoção de todas as restrições ao investimento estrangeiro no setor de manufatura, conforme a versão atualizada da lista negativa para acesso de capital externo. Essa medida visa atrair investimentos em manufatura avançada e indústrias de alta tecnologia, contribuindo para a modernização do sistema industrial do país.
Além disso, cidades como Xangai têm liderado esforços para otimizar o ambiente de negócios local. A Comissão Municipal de Desenvolvimento e Reforma de Xangai, em colaboração com diversos departamentos, implementou políticas para reduzir custos, melhorar a eficiência e promover a transformação digital das empresas industriais. Também foram simplificados os procedimentos de registro e licenciamento para empresas de alimentos e bebidas, facilitando o acesso ao setor de serviços.
O sistema judiciário chinês tem reforçado a proteção legal dos investidores estrangeiros, garantindo um tratamento igualitário perante a lei. Casos recentes demonstram o compromisso dos tribunais em regulamentar a conduta de executivos e fornecer reparação judicial para empresas estrangeiras que enfrentaram perdas financeiras, fortalecendo a confiança no mercado chinês.
Essas iniciativas refletem o compromisso do governo chinês em criar um ambiente de negócios mais aberto, justo e transparente, com o objetivo de atrair e manter investimentos estrangeiros de qualidade.
O protecionismo de Trump
Desde seu retorno à presidência dos Estados Unidos em janeiro de 2025, Donald Trump intensificou políticas protecionistas que têm gerado repercussões significativas na economia global.
Em fevereiro de 2025, Trump anunciou a imposição de tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio, incluindo produtos de parceiros comerciais como Canadá e México. Essas tarifas entram em vigor no dia 12 de março e vão substitui isenções e cotas anteriormente estabelecidas. Em resposta, a União Europeia cogita restringir ainda mais as importações de aço para proteger seus produtores das novas tarifas norte-americanas.
Além disso, Trump ordenou a implementação de “tarifas recíprocas” contra a União Europeia, em retaliação ao Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) aplicado pelos países do bloco, que o governo dos EUA considera uma barreira comercial injusta. Essas tarifas adicionais afetam setores como automóveis, semicondutores e produtos farmacêuticos, com o objetivo de reduzir o déficit comercial dos EUA, que atingiu níveis recordes em 2024.
Especialistas alertam que essa escalada protecionista pode isolar a economia dos EUA e incentivar a formação de novos blocos comerciais, à medida que outras nações busquem alternativas para reduzir sua dependência do mercado estadunidenses. Há preocupações de que essas políticas possam desencadear uma guerra comercial global, afetando negativamente o comércio internacional e a estabilidade econômica mundial.
Contraste entre China e EUA
As recentes mudanças na página do Departamento de Estado dos EUA e as políticas comerciais de Trump ilustram um contraste cada vez mais evidente entre as duas potências mundiais. Enquanto os Estados Unidos adotam uma postura mais protecionista, visando proteger sua indústria nacional por meio de tarifas e restrições comerciais, a China busca consolidar sua imagem como defensora do livre mercado.
O governo chinês, ao reduzir as restrições ao investimento estrangeiro e modernizar o ambiente de negócios, procura atrair capital internacional e fortalecer sua economia. Em contrapartida, as tarifas impostas pelos EUA, incluindo as aplicadas ao aço, alumínio e produtos chineses, têm provocado tensões comerciais que ameaçam o crescimento econômico global.
Essa divergência pode remodelar o cenário econômico internacional, com a China se posicionando como um polo de atração para investimentos estrangeiros, enquanto os EUA correm o risco de isolamento econômico devido ao aumento das barreiras comerciais. O resultado dessa disputa moldará não apenas o comércio bilateral, mas também o equilíbrio de poder na economia global nas próximas décadas.