Donald Trump Jr., filho do presidente dos Estados Unidos, defende que o país deve concentrar seu poder militar na China, mas sem abrir mão do diálogo para evitar conflitos desnecessários.
Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores chinês, durante coletiva regular de imprensa em Pequim, nesta quarta-feira (19), afirmou que o país mantém uma postura clara e consistente nas relações com os Estados Unidos.
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O porta-voz Guo Jiakun comentou que a China está disposta a trabalhar com o governo dos EUA para lidar com preocupações mútuas por meio do diálogo, sob os princípios de respeito mútuo, convivência pacífica e cooperação de benefício mútuo.
“Ao mesmo tempo, defenderemos firmemente nossa soberania, segurança e interesses de desenvolvimento. Esperamos que os Estados Unidos colaborem com a China na mesma direção, implementem conjuntamente os importantes consensos alcançados entre os dois presidentes e promovam um desenvolvimento estável, saudável e sustentável das relações bilaterais”, pontuou Guo.
Entenda a posição de Donald Trump Jr.
Donald Trump Jr. publicou nesta terça-feira (18) um artigo no site conservador Human Events no qual afirma que os EUA devem concentrar seu poder militar na China, mas sem abrir mão do diálogo para evitar conflitos desnecessários.
No texto, Trump Jr. defendeu a nomeação de Elbridge Colby para o cargo de subsecretário de Defesa para Políticas, destacando que Colby reconhece a força singular do país asiático e defende a concentração do poder militar dos EUA na região da Ásia-Pacífico:
“Ele argumenta que devemos focar nossas forças militares — esgotadas após a negligência de Biden — na China. Mas, ao mesmo tempo, apoia a disposição do meu pai em negociar com Xi Jinping e evitar provocar o dragão desnecessariamente. Isso pode parecer contraditório para aqueles presos a uma abordagem ideológica, mas, considerando que o povo americano se beneficiaria mais de um equilíbrio de poder com a China que evitasse a guerra, faz todo sentido.”
Trump Jr. explicou que a abordagem de Colby é baseada nos interesses concretos do povo dos EUA, deixando de lado conceitos abstratos como a “ordem internacional baseada em regras” ou a promoção da democracia no Oriente Médio.
Segundo ele, Colby é um realista, focado em garantir os melhores resultados para os EUA, combinando uma postura rígida em temas essenciais com a disposição para negociar quando necessário.
Trump Jr. defende que Colby é o nome ideal para implementar a política externa “America First” (América em Primeiro Lugar), visão que seu pai tem buscado consolidar desde sua primeira campanha presidencial, em 2015.
O empresário relembrou que, durante o primeiro mandato de seu pai, muitos dos que o cercavam não compartilhavam genuinamente da visão de colocar os interesses dos EUA em primeiro lugar, o que teria prejudicado a implementação dessa agenda.
Por isso, destacou que a principal lição do primeiro mandato foi a necessidade de nomear pessoas comprometidas com essa política:
“Meu pai aprendeu que a maior lição do primeiro mandato foi encontrar as pessoas certas para implementar a visão de política externa America First — pessoas que realmente acreditam nessa política e têm a integridade e a força de caráter para levá-la adiante, mesmo diante da oposição do establishment fracassado.”
Nesse contexto, Trump Jr. afirmou que ninguém se encaixa melhor nesse perfil do que Elbridge Colby, a quem descreveu como o principal pensador da política externa America First, sendo respeitado tanto por apoiadores quanto por críticos do movimento MAGA (Make America Great Again).
“Meu pai, ao anunciar sua indicação, acertadamente o descreveu como um ‘defensor altamente respeitado da nossa política externa e de defesa America First’.”
Relações com a Europa, Israel e o Oriente Médio
Em relação à Europa, Colby defende que os Estados Unidos não têm obrigação permanente de subsidiar os estados de bem-estar social europeus. Para ele, a melhor forma de preservar a OTAN é fazer com que os países europeus invistam em exércitos reais, em vez de apenas fingirem estar preparados para conflitos.
Sobre a guerra na Ucrânia, Trump Jr. afirmou que Colby apoia a estratégia da administração Trump de pôr fim ao conflito e evitar um confronto desnecessário com a Rússia.
No Oriente Médio, ele ressaltou o apoio incondicional de Colby à aliança EUA-Israel, especialmente após os ataques de 7 de outubro. O indicado também compartilha da visão de Trump de impedir que o Irã desenvolva armas nucleares, mas sem buscar conflitos militares desnecessários.
“Ele sabe que os EUA devem ter opções eficazes para sustentar essa ameaça e acredita em fornecer a Israel as armas e capacidades necessárias para lutar suas próprias batalhas. Mas, assim como meu pai, Colby busca evitar uma grande guerra no Oriente Médio sempre que possível. Depois de vinte anos de guerras fracassadas na região, isso não é apenas bom senso?”
“Não podemos falhar: Colby deve ser Confirmado”
Donald Trump Jr. concluiu o artigo criticando os opositores da nomeação de Colby, afirmando que a resistência ocorre porque ele é totalmente comprometido em avançar a visão America First e possui as qualificações necessárias para o cargo.
“O motivo pelo qual ele está recebendo críticas é porque ele é dedicado a promover a visão America First e é extremamente qualificado para isso. Em outros tempos, Colby seria apunhalado em um beco político. Mas agora, com o movimento MAGA desperto e vivo para o deep state, podemos — e devemos — reagir. Este é um teste crucial. Não podemos falhar. Colby deve ser confirmado.”
A nomeação de Elbridge Colby ocorre em meio ao segundo mandato de Donald Trump e reflete a continuidade da política externa focada nos interesses nacionais dos EUA, com prioridade para o equilíbrio de poder na Ásia, o fortalecimento das alianças estratégicas e a redução do envolvimento militar em conflitos prolongados.
As relações diplomáticas entre China e EUA
As relações diplomáticas entre a China e os Estados Unidos têm sido marcadas por uma combinação de cooperação e tensão. Recentemente, o presidente chinês, Xi Jinping, parabenizou Donald Trump por sua vitória nas eleições presidenciais de 2024, enfatizando a importância de "gerenciar adequadamente as diferenças" para evitar confrontos e promover uma cooperação mútua benéfica.
Apesar desse gesto diplomático, a China expressou preocupações em relação a certas políticas dos EUA. O governo chinês denunciou, por exemplo, a intenção dos Estados Unidos de criar uma "OTAN Ásia-Pacífico", incluindo países como Japão, Coreia do Sul e Nova Zelândia no pacto de segurança AUKUS. Pequim vê essa iniciativa como uma tentativa de contenção e uma ameaça à estabilidade regional.
A tensão entre as duas potências também foi intensificada pela guerra comercial deflagrada durante o primeiro mandato de Trump, marcada por tarifas bilaterais sobre bilhões de dólares em produtos. Essa disputa afetou cadeias de suprimentos globais e setores estratégicos, como tecnologia e agricultura. Mesmo após negociações, o clima de desconfiança permaneceu, influenciando o tom das relações bilaterais nos anos seguintes.
No entanto, a China também demonstrou disposição para fortalecer os laços bilaterais. Em novembro de 2024, o embaixador chinês em Washington, Xie Feng, afirmou que Pequim está aberta a se tornar "parceira e amiga" dos Estados Unidos, buscando ampliar o diálogo entre as duas maiores economias globais. Xie enfatizou que a China não pretende superar ou substituir os EUA, mas sim redefinir as relações em um momento de transição política nos Estados Unidos.
A posição diplomática da China em relação aos Estados Unidos é caracterizada por uma busca por cooperação e estabilidade, ao mesmo tempo em que manifesta preocupações sobre iniciativas que considera ameaçadoras à sua soberania, segurança regional e interesses econômicos.