A administração de Donald Trump utilizou a Cúpula de Ação para a Inteligência Artificial, realizada em Paris, na França, nos dias 11 e 12 de fevereiro, para criticar o uso da tecnologia por "regimes autoritários" em clara alusão à China. Em resposta, Pequim rebateu as declarações do vice-presidente JD Vance e condenou a politização do comércio e da tecnologia.
Durante o evento, Vance acusou "governos autoritários" de utilizarem a inteligência artificial (IA) para monitorar seus cidadãos e subsidiar tecnologias baratas para exportação, em uma referência direta à China. Ele também alertou para os riscos de espionagem e controle de infraestrutura tecnológica por parte de Pequim.
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China Responde às Declarações de JD Vance
Na coletiva de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China desta quarta-feira (12), em Pequim, o porta-voz Guo Jiakun refutou as ilações do vice-presidente dos EUA e ressaltou a posição chinesa sobre cooperação internacional na IA.
"Já destacamos diversas vezes que a China está abraçando a transformação da inteligência artificial e trabalhando ativamente para impulsionar seu desenvolvimento. Levamos a segurança e a confiabilidade da IA muito a sério e apoiamos a inovação empresarial das empresas chinesas", afirmou.
O porta-voz reiterou que a China defende uma IA inclusiva e tem promovido parcerias com países em desenvolvimento para fortalecer capacidades tecnológicas e ampliar o acesso global a serviços de IA.
"Somos contra a criação de divisões ideológicas, o uso excessivo do conceito de segurança nacional e a politização do comércio e da tecnologia", acrescentou.
China reforça cooperação global na IA
O porta-voz chinês também comentou a participação do vice-premiê Zhang Guoqing na cúpula, onde enfatizou a importância da colaboração internacional para garantir que a IA beneficie a humanidade de forma equitativa.
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Zhang apresentou a Iniciativa Global para a Governança da IA, proposta pelo presidente Xi Jinping, como um modelo de desenvolvimento seguro, inclusivo e sustentável, que evita a concentração de poder tecnológico e promove o acesso equitativo aos avanços da IA.
"A comunidade internacional deve trabalhar em conjunto para promover o princípio de uma IA voltada para o bem, aprofundar a cooperação em inovação e fortalecer o desenvolvimento inclusivo da inteligência artificial", destacou.
Os participantes do evento elogiaram a posição chinesa na governança da IA, assim como os esforços de Pequim na cooperação internacional e no desenvolvimento de capacidades tecnológicas em países emergentes.
Declaração sobre IA: China assina, EUA e Reino Unido rejeitam
A cúpula resultou na Declaração sobre Inteligência Artificial Inclusiva e Sustentável para as Pessoas e o Planeta, assinada por cerca de 60 países, incluindo a China.
O documento defende uma abordagem aberta, inclusiva e ética para o desenvolvimento da IA, promovendo acessibilidade, transparência e segurança. Ele também ressalta a necessidade de corrigir disparidades tecnológicas entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.
No entanto, os Estados Unidos e o Reino Unido optaram por não assinar a declaração, alegando preocupações com excesso de regulamentação e interesses nacionais.
Leia aqui Declaração sobre Inteligência Artificial Inclusiva e Sustentável para as Pessoas e o Planeta (em inglês)
China expande tecnologia nos países em desenvolvimento
A China tem impulsionado projetos tecnológicos estratégicos em países emergentes.
Cooperação Espacial com a África: Investimentos em programas de satélites, um laboratório espacial no Egito e a proposta de uma base lunar conjunta. Além disso, Xi Jinping anunciou US$ 50 bilhões para projetos espaciais no continente.
Iniciativa de Desenvolvimento Global (IDG): Programa que promove parcerias tecnológicas sustentáveis. Destaque para a construção de três usinas solares fotovoltaicas em Cuba, que ampliam a capacidade energética da ilha.
Parceria Científica com o Brasil: Acordos entre China e Brasil incluem desenvolvimento de satélites de monitoramento da Terra, colaborações em biotecnologia e mudanças climáticas, além de investimentos na infraestrutura digital brasileira.
EUA e IA: Inovação e Influência Política
Enquanto acusam regimes autoritários de usar a IA para fins geopolíticos, os EUA mantêm uma posição dominante na inovação da tecnologia, com investimentos robustos no setor privado e parcerias estratégicas com o Departamento de Defesa.
A influência da IA estadunidense tem sido aplicada em diferentes contextos geopolíticos e políticos:
Interferência Eleitoral: Ferramentas de IA, deepfakes e algoritmos de desinformação foram utilizadas para influenciar processos eleitorais, levantando preocupações sobre impactos na democracia, inclusive no Brasil.
Uso Militar da IA: Empresas de tecnologia dos EUA, em colaboração com o Pentágono, desenvolveram sistemas autônomos para defesa e vigilância, alterando o equilíbrio militar global.
Exportação de Tecnologias Sensíveis: O governo dos EUA impôs restrições à exportação de chips avançados e ferramentas de IA para a China, intensificando a disputa tecnológica entre as duas potências.
Disputa global pelo Controle da IA
A inteligência artificial se consolidou como um campo estratégico de competição global, com China e Estados Unidos disputando liderança e influência no setor.
Enquanto Pequim propõe um modelo baseado em cooperação internacional e desenvolvimento compartilhado, Washington alerta para os riscos da IA em regimes autoritários e tenta limitar a influência tecnológica chinesa.
A disputa não se restringe à inovação, mas se estende à definição das regras globais da IA, impactando países emergentes e o equilíbrio do poder tecnológico nas próximas décadas.