CHINA EM FOCO

Reviravolta nos Correios dos EUA expõe tensões comerciais com a China e dependência de importações

Após suspender pacotes da China por novas tarifas, USPS revoga decisão em menos de 24 horas, revelando impactos no comércio digital e nas cadeias de suprimentos globais

Funcionária do Serviço Postal dos EUA separa pacotes para distribuição.
Reviravolta nos Correios dos EUA expõe tensões comerciais com a China e dependência de importações.Funcionária do Serviço Postal dos EUA separa pacotes para distribuição.Créditos: VCG
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O Serviço Postal dos Estados Unidos (USPS, da sigla em inglês) anunciou na última terça-feira (4) a suspensão temporária da aceitação de pacotes provenientes da China continental e de Hong Kong, medida que entrou em vigor imediatamente. Menos de 24 horas depois, a decisão foi revertida e os envios foram retomados.

Essa mudança drástica ocorreu em meio à imposição de um novo imposto de 10% sobre importações chinesas e ao fim da isenção tarifária para pacotes de baixo valor, conhecida como "de minimis", que anteriormente permitia a entrada de pacotes com valor inferior a US$ 800 sem a incidência de tarifas.

Durante coletiva de imprensa na quarta-feira (5), o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China Lin Jian criticou a decisão e apelou para que Washington não politize o comércio internacional.

“Pedimos aos EUA que parem de politizar e armar questões comerciais e econômicas e parem de perseguir empresas chinesas sem motivo”, declarou Lin.

A reversão da medida ocorreu devido à confusão e às interrupções causadas no comércio eletrônico e nas cadeias de suprimentos. Segundo um porta-voz do USPS, a entidade estava trabalhando com a alfândega e outros órgãos para implementar um “mecanismo eficiente de arrecadação” das novas tarifas, garantindo o menor impacto possível nas entregas.

Impactos na cadeia global de suprimentos

Embora a suspensão tenha durado pouco, os impactos na cadeia de suprimentos foram imediatos. A DHL afirmou que estava trabalhando para minimizar os impactos negativos sobre consumidores e empresas.

A FedEx suspendeu a garantia de reembolso para remessas destinadas aos EUA. Já Martin Palmer, cofundador da empresa de e-commerce Hurricane Commerce, descreveu a situação como um verdadeiro caos no setor.

Varejistas e fabricantes dos EUA que dependem de importações da China enfrentaram escassez de produtos e aumentos de preços, forçando mudanças emergenciais em suas estratégias de compras e vendas.

O impacto inesperado pegou os formuladores de políticas dos EUA de surpresa, servindo como um alerta sobre as consequências dessas mudanças comerciais abruptas.

Dependência dos EUA de importações chinesas

Segundo um editorial do Global Times, aproximadamente 4 milhões de pacotes chineses chegam diariamente aos EUA, contendo produtos essenciais para o consumo e a indústria. O fim da política de isenção tarifária prejudicou pequenos negócios e consumidores estadunidenses, que enfrentam aumento de preços e menor competitividade.

O jornal enfatiza que a eficiência da manufatura chinesa e o crescimento do comércio digital tornam difícil reverter essas transformações. O episódio reforça a tese de que medidas protecionistas dos EUA enfrentam forte resistência e que a cooperação econômica entre China e EUA é inevitável para a estabilidade do comércio global.

Politização do comércio global

O editorial argumenta que a decisão de restringir importações chinesas é uma tentativa politizada de Washington para conter a China, sem considerar os impactos sobre a própria economia americana.

Para o Global Times, as medidas protecionistas não são sustentáveis a longo prazo, pois a eficiência da manufatura chinesa e a complementaridade econômica entre os dois países tornam essas barreiras artificiais prejudiciais para os próprios EUA.

O texto conclui que a política comercial de Washington, ao adotar medidas unilaterais, está fadada ao fracasso.

"A interconexão econômica entre as duas maiores economias do mundo não pode ser rompida por um decreto presidencial", afirma o texto.

A solução, segundo o Global Times, não está em medidas protecionistas, mas em uma adaptação pragmática às novas dinâmicas do comércio digital e global. Em vez de tentar conter a China com tarifas e restrições, os EUA deveriam cooperar para transformar o comércio digital em um motor de crescimento mútuo.

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