CHINA EM FOCO

China repudia proposta de Trump de controlar a Faixa de Gaza

País asiático se contrapõe com veemência a anúncio do presidente dos EUA de promover uma limpeza étnica no território palestino e reforça defesa da solução de dois Estados

China repudia proposta de Trump de controlar a Faixa de Gaza.Presidentes da China, Xi Jinping, e Donald Trump, dos EUA, têm posicionamento diametralmente opostos sobre a questão da PalestinaCréditos: Fotomontagem (Canva e Xinhua)
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Em mais uma afronta ao bom-senso, à diplomacia, à soberania dos povos e ao direito internacional, o presidente dos EUA, Donald Trump, avisou que vai assumir o controle da Faixa de Gaza e promover o reassentamento do povo palestino em países vizinhos, como Jordânia e Egito. 

A China repudia com veemência tal descalabro. Durante coletiva regular de imprensa do Ministério das Relações Exteriores chinês nesta quarta-feira (5), o porta-voz Lin Jian reforçou que Pequim sempre acreditou que “os palestinos governando a Palestina” é o princípio fundamental da governança de Gaza no pós-conflito. 

“Nós nos opomos ao deslocamento forçado da população em Gaza e esperamos que as partes envolvidas aproveitem a oportunidade do cessar-fogo e da governança pós-conflito em Gaza para recolocar a questão palestina no caminho certo para uma solução política baseada na solução de dois Estados, a fim de alcançar uma paz duradoura no Oriente Médio”, afirmou.

Entenda o absurdo

Na noite desta terça-feira (4), durante uma coletiva de imprensa na Casa Branca ao lado do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, Trump anunciou que os EUA assumiriam o controle da Faixa de Gaza após um acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas

O presidente dos EUA propôs o reassentamento permanente dos palestinos de Gaza em países vizinhos, como Jordânia e Egito, sob o argumento que o território se tornou inabitável devido à destruição causada pelo conflito. 

Ele também sugeriu que, sob administração dos EUA, Gaza poderia ser transformada na "Riviera do Oriente Médio", com investimentos em infraestrutura e desenvolvimento econômico. 

Trump mencionou ainda a possibilidade de enviar tropas estadunidenses para garantir a segurança durante o processo de reconstrução. Em resumo, o líder global da extrema direita defende e apoia um crime contra a humanidade, um genocídio.

A proposta desumana e cruel foi recebida com críticas de líderes palestinos e de países árabes, que a consideraram uma violação dos direitos dos palestinos e do direito internacional. 

Posicionamento da China sobre a Questão Palestina

Desde o dia 7 de outubro de 2023, quando foi iniciada uma nova ofensiva de Israel na Palestina, depois de ataques realizados pelo grupo de resistência Hamas, a China intensificou seu envolvimento na questão palestina. A potência asiática adota uma postura ativa em prol da paz e da reconciliação na região.

Outubro de 2023: Apelo ao Cessar-Fogo e Solução de Dois Estados

Em 11 de outubro de 2023, logo após o início do conflito entre Israel e Hamas, a China reiterou seu apoio à solução de dois Estados e clamou por um cessar-fogo imediato. A posição chinesa enfatizou a necessidade de negociações pacíficas e a proteção dos civis afetados pelo conflito.

Fevereiro de 2024: Direito de defesa dos palestinos

Em fevereiro de 2024, durante audiências públicas na Corte Internacional de Justiça (CIJ) em Haia, o embaixador chinês na ONU, Zhang Jun, afirmou que a resistência armada contra o colonialismo é legítima e não deve ser considerada um ato de terrorismo. Ele destacou que a luta dos povos pela libertação e pelo direito à autodeterminação, incluindo a luta armada contra o colonialismo e a ocupação, é um direito inalienável.

Além disso, o consultor jurídico do Ministério das Relações Exteriores da China, Ma Xinmin, ressaltou que, durante a luta armada legítima, todas as partes são obrigadas a cumprir o Direito Humanitário Internacional e a abster-se de cometer atos de terrorismo que violem esse direito. Ele também criticou as políticas de Israel, afirmando que a ocupação prolongada dos territórios palestinos minou gravemente o exercício do direito do povo palestino à autodeterminação.

Julho de 2024: Mediação entre grupos políticos da Palestina

Em julho de 2024, a China sediou um encontro histórico em Pequim, reunindo 14 grupos políticos palestinos, incluindo Fatah e Hamas. O resultado foi a assinatura da "Declaração de Pequim", que visa encerrar divisões internas e fortalecer a unidade palestina. A declaração propôs a formação de um governo interino de reconciliação nacional para a reconstrução de Gaza, embora detalhes específicos e cronogramas não tenham sido definidos.

Outubro de 2024: Críticas ao Apoio dos EUA a Israel

Em outubro de 2024, a China criticou o apoio financeiro e militar dos Estados Unidos a Israel, argumentando que o fornecimento de armas e munições não contribui para a resolução do conflito. Pequim destacou a importância de esforços diplomáticos e vontade política para alcançar um cessar-fogo e proteger os civis na Faixa de Gaza.

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Novembro de 2024: Participação na Cúpula do BRICS

Durante a cúpula do BRICS em novembro de 2024, o presidente Xi Jinping pediu um cessar-fogo imediato em Gaza e reforçou o compromisso da China com a solução de dois Estados como caminho para a paz duradoura na região. Xi também anunciou que a China forneceria mais suprimentos e assistência de acordo com as necessidades do povo em Gaza.

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Dezembro de 2024: Envolvimento Econômico e Diplomático

Em dezembro de 2024, durante o Diálogo "1+10" em Pequim, o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, reuniu-se com líderes de dez grandes organizações econômicas internacionais. Embora o foco principal tenha sido a economia global, a China aproveitou a oportunidade para enfatizar seu compromisso com o multilateralismo e a cooperação internacional, princípios que também norteiam sua abordagem na questão palestina.

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Apoio histórico da China à Palestina

A China tem mantido uma posição consistente em relação à questão palestina, defendendo o estabelecimento de um Estado palestino independente e soberano com base nas fronteiras de 1967, com Jerusalém Oriental como sua capital. 

Apoio ao Estado Palestino

Desde o estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e a Palestina em 1988, a China tem apoiado firmemente o direito do povo palestino à autodeterminação e à criação de um Estado independente. Em diversas ocasiões, líderes chineses reafirmaram esse compromisso.

Proposta em Quatro Pontos (2013)

Em maio de 2013, o presidente chinês Xi Jinping apresentou uma proposta em quatro pontos para resolver a questão palestina:

  1. Estabelecimento de um Estado Palestino
  2. Negociações como Único Caminho
  3. Princípios de Terra pela Paz
  4. Assistência da Comunidade Internacional

Apoio em Fóruns Internacionais

A China tem utilizado sua posição no Conselho de Segurança da ONU para apoiar resoluções favoráveis à Palestina e tem participado ativamente de conferências internacionais relacionadas ao conflito entre Israel e Palestina.

Iniciativa de Xi Jinping

Em julho de 2017, durante a Reunião Ministerial do Fórum de Cooperação China-Estados Árabes, o presidente Xi Jinping reafirmou o compromisso da China com a solução de dois Estados para o conflito entre Israel e Palestina.

Na ocasião, ele anunciou uma série de medidas para apoiar o desenvolvimento econômico da Palestina, incluindo assistência financeira e projetos de cooperação.

Entre as iniciativas destacadas estavam a concessão de um empréstimo sem juros de aproximadamente 15 milhões de dólares para apoiar projetos de desenvolvimento na Palestina, além do financiamento de programas de energia solar e treinamento profissional.

Xi Jinping enfatizou a importância de promover o desenvolvimento econômico como base para a paz duradoura na região.

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