CHINA EM FOCO

China faz mediação de acordo histórico para reconciliação nacional da Palestina

Representantes de 14 facções palestinas, incluindo Hamas e Fatah, se reúnem em Pequim e assinam declaração histórica pelo fim da divisão e fortalecimento da unidade da região

Créditos: Xinhua - China media acordo histórico entre 14 facções da Palestina
Escrito en GLOBAL el

A China desempenha um papel-chave para contribuir com a paz na Palestina ao organizar e sediar um encontro histórico entre 14 facções que representam o povo palestino, incluindo Fatah e Hamas. O resultado é uma declaração histórica para a reconciliação nacional da região.

A reconciliação entre o Hamas e o Fatah é considerada um ponto de virada crucial nas relações internas palestinas. Os dois principais partidos políticos palestinos no território palestino têm sido rivais amargos desde que o conflito surgiu em 2006, após o qual o Hamas assumiu o controle de Gaza.

O Hamas, que liderou o ataque de 7 de outubro a Israel, defende a resistência armada contra a ocupação de Israel. O Fatah controla a Autoridade Palestina, que tem controle administrativo parcial da Cisjordânia ocupada. Ele favorece negociações pacíficas em busca de um estado palestino.

Várias tentativas passadas de reconciliação entre as duas facções falharam. No entanto, os apelos para que se unam aumentaram à medida que a guerra se prolongou e Israel e seus aliados, incluindo os Estados Unidos, discutiram quem poderia governar o enclave após o término dos combates.

Mediação da China

A convite do lado chinês, representantes de alto nível de 14 facções palestinas realizaram um diálogo de reconciliação em Pequim de domingo (21) a terça-feira (23). As facções palestinas assinaram a Declaração de Pequim sobre o fim da divisão e o fortalecimento da unidade.

É a primeira vez que 14 facções palestinas se reuniram em Pequim para um diálogo de reconciliação, trazendo esperança preciosa para o povo palestino sofrido.

O resultado central do diálogo de reconciliação entre as facções palestinas realizado em Pequim é especificar que a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) é a única representante legítima de todo o povo palestino, observou o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi.

Wang, também membro do Bureau Político do Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh), fez os comentários na cerimônia de encerramento do diálogo de reconciliação entre as facções palestinas. Ele também testemunhou a assinatura da declaração sobre o fim da divisão e o fortalecimento da unidade por 14 facções palestinas.

Caminho para a paz em três etapas

O chanceler chinês apontou que apenas quando as facções palestinas falam como uma só a voz da justiça pode ser alta e clara, e apenas quando se unem e avançam lado a lado podem ter sucesso em sua causa de libertação nacional.

"Para ajudar a sair do atual conflito e impasse, a China propõe uma iniciativa de três etapas: O primeiro passo é alcançar um cessar-fogo abrangente, duradouro e sustentável na Faixa de Gaza o mais rápido possível, e garantir acesso à ajuda humanitária e ao resgate no terreno. O segundo passo é fazer esforços conjuntos para a governança pós-conflito de Gaza sob o princípio de 'Palestinos governando a Palestina'. Gaza é uma parte inseparável e integral da Palestina. O terceiro passo é ajudar a Palestina a se tornar um estado membro pleno da ONU e começar a implementar a solução de dois estados", disse o ministro das Relações Exteriores da China.

Wang enfatizou que o consenso mais importante das conversas é alcançar a reconciliação e a unidade entre todas as 14 facções, o resultado mais central é a reafirmação da OLP como a única representante legítima do povo palestino, o destaque mais significativo é o consenso sobre a governança pós-conflito em Gaza e a formação de um governo de reconciliação nacional interino, e a aspiração mais forte é realizar a verdadeira independência do Estado da Palestina de acordo com as resoluções relevantes da ONU.

Elogio ao esforço da China

Durante coletiva regular de imprensa nesta terça-feira em Pequim, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês Mao Ning observou que a declaração elogia o esforço sincero da China para apoiar os direitos dos palestinos, acabar com a divisão e trazer uma posição unificada entre as facções palestinas.

A declaração, comentou Mao, enfatiza a necessidade de realizar, sob os auspícios da Organização das Nações Unidas (ONU), uma conferência internacional com mandato completo e participação ampla da região e além.

"De acordo com a declaração, as partes acreditam que as conversas de Pequim demonstraram um espírito positivo e construtivo, e concordam em realizar a unidade nacional entre todas as facções sob a estrutura da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), a única representante legítima do povo palestino", ressaltou a porta-voz.

O documento reafirma ainda o compromisso de estabelecer um Estado Palestino independente com Jerusalém como capital, com base nas resoluções relevantes da ONU e garantindo a integridade do território palestino, incluindo a Cisjordânia, Jerusalém e Gaza.

"As partes estão prontas para, de acordo com o consenso das facções palestinas e a lei básica existente da Palestina, estabelecer um governo de reconciliação nacional interino, realizar a reconstrução em Gaza e preparar e realizar uma eleição geral o mais rápido possível de acordo com as leis eleitorais adotadas", explicou Mao.

As partes enfatizaram também a necessidade de tomar medidas práticas para formar um novo conselho nacional palestino de acordo com as leis eleitorais adotadas. Por unanimidade, as facções concordaram em ativar o quadro de Liderança Unificada provisória que funcionará institucionalmente e realizar conjuntamente a tomada de decisões políticas.

Finalmente, os 14 grupos chegaram a um acordo para estabelecer um mecanismo coletivo para implementar totalmente as disposições da declaração e criar um cronograma para o processo de implementação.

"China e Palestina são irmãos e parceiros de confiança um do outro. A China espera o dia em que as facções palestinas alcançarão a reconciliação interna e, com base nisso, realizarão a unidade nacional e a independência do estado o mais rápido possível. Continuaremos a trabalhar incansavelmente para esse fim com as partes relevantes", finalizou Mao.

De acordo com o Ministério das Relações Exteriores da China, enviados diplomáticos para a China ou seus representantes do Egito, Argélia, Arábia Saudita, Catar, Jordânia, Síria, Líbano, Rússia e Turquia, bem como representantes de 14 principais facções palestinas, compareceram à cerimônia de encerramento.

Grupos reunidos em Pequim

As organizações reunidas na China foram: Fatah, Hamas, Jihad Islâmica, Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), Frente Democrática para a Libertação da Palestina (DFLP), Partido do Povo Palestino (PPP), Frente de Luta Popular Palestina (PPSF) e Iniciativa Nacional Palestina (PNI), Frente Popular para a Libertação da Palestina – Comando Geral (PFLP-GC), a União Democrática Palestina (FIDA), a Frente de Libertação da Palestina, a Frente de Libertação Árabe, a Frente Árabe Palestina e as Forças Thunderbolt.

Declaração histórica

O reitor do Instituto para Estudos sobre o Mediterrâneo na Universidade Internacional de Estudos de Zhejiang, Ma Xiaolin, disse ao jornal chinês Global Times que a declaração é absolutamente histórica, significativa e sem precedentes.

Primeiro, comentou, no passado, o diálogo de reconciliação era apenas entre Fatah e Hamas, mas desta vez, a China reuniu representantes de 14 facções, o que significa que a declaração tem a maior inclusividade e legitimidade, e é aceitável para todas as principais facções políticas dentro da Palestina.

"Segundo, faz o processo de reconciliação da Palestina não ser mais apenas um assunto regional, mas uma questão que importa para a paz internacional sob vigilância internacional. Portanto, a declaração não é apenas um documento, mas um roteiro viável com apoio e supervisão internacionais, não apenas de países regionais importantes, mas de membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU", disse Ma.

Terceiro, observou Ma, especificar que a OLP é a única representante legítima de todo o povo palestino significa que todas as outras facções, incluindo Hamas e o Movimento Jihad Islâmica na Palestina, precisam se juntar ou se reunificar com a OLP, para que a Palestina possa ter novas eleições e lidar com o mundo exterior como um país unificado, e isso é importante para o futuro da questão Palestina-Israel, observou o acadêmico.

Já o professor do Instituto de Estudos do Oriente Médio da Universidade Internacional de Estudos de Xangai, Liu Zhongmin, declarou ao Global Times que a Declaração de Pequim traz esperança de paz em Gaza. Desde o início do conflito em curso em Gaza em 7 de outubro de 2023, as pessoas sofreram muitas baixas, e a comunidade internacional teve limitações em ajudar a acabar com o desastre. Agora, a reconciliação dentro da Palestina pode estabelecer as bases para negociações de paz efetivas entre Palestina e Israel.

Ma ecoou que agora é o momento para Israel e os EUA considerarem como lidar com a Palestina como um todo, em vez de tratar as diferentes facções palestinas separadamente. Os EUA estão passando por turbulências domésticas após o presidente Joe Biden desistir da corrida presidencial e a tentativa de assassinato fracassada do candidato presidencial republicano, Donald Trump.

A comunidade internacional, incluindo rivais, competidores e aliados dos EUA, está muito preocupada com uma possível mudança na estratégia externa dos EUA e, infelizmente, os EUA ainda estão tentando intensificar confrontos de blocos em todo o mundo, especialmente na região da Ásia-Pacífico, avaliam especialistas.

Contexto

O professor Diego Pautasso, doutor em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), autor das obras Imperialismo e China e Rússia no Pós Guerra Fria, e co-autor de Teoria das Relações Internacionais analisou a histórica declaração palestina em uma série de postagens no X (antigo Twitter).

"Os eventos internacionais precisam de um quadro histórico mais abrangente para que possamos entender seus sentidos. Vamos refletir sobre a importância do acordo entre Hamas e Fath assinado sob a mediação da China", escreveu.

Pautasso relembra que em 2023 a China foi responsável por promover a reconciliação entre Arábia Saudita e Irã, rivais históricos. Ele comenta que depois da escala militar dos EUA no Oriente Médio, parece que a cena geopolítica está mudando na região. Agora, a mediação é na Palestina.

"De um lado, o sinal verde para Israel realizar o atual massacre na Faixa de Gaza, tornando as instituições internacionais incapazes de agir. De outro, outros países buscam meios de atuar para minimizar a violência e o drama causado na Palestina", observou.

O professor avalia que nesse sentido, a mediação da diplomacia chinesa, entre as facções políticas palestinas representa um importante passo para a “unidade nacional”.

"Essa virada nas relações internas para resistor à ofensiva de Israel e chegar a alguma pacificação - mesmo sem participação ocidental", finalizou.

Com informações da Xinhua, CGTN e Al Jazeera