A China considera "decepcionante" o veto dos Estados Unidos à busca da Palestina pela plena adesão à Organização das Nações Unidas (ONU) e afirma que questionar a capacidade de governança do povo palestino é uma "lógica de gângster", que confunde certo e errado.
Nesta quinta-feira (18), os EUA vetaram uma resolução, no Conselho de Segurança da ONU, amplamente apoiada que teria reconhecido um estado palestino.
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"Hoje é um dia triste. Devido ao veto dos Estados Unidos, o pedido da Palestina para a adesão plena à ONU foi rejeitado, e o sonho de décadas do povo palestino foi brutalmente frustrado. A China considera a decisão dos EUA muito decepcionante", afirmou o representante permanente da China nas Nações Unidas, Fu Cong, após a votação da ONU sobre a busca da Palestina pela plena adesão à ONU.
Doze membros dos 15 do Conselho de Segurança votaram a favor da resolução, enquanto o Reino Unido e a Suíça se abstiveram e os EUA votaram contra.
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O enviado chinês criticou a noção de que a Palestina não tem capacidade para se governar.
"O espaço de sobrevivência da Palestina como estado tem sido constantemente encurtado, e a base da solução de dois Estados tem sido continuamente erodida. Os países relevantes ignoraram isso e adotaram uma atitude de condescendência ou até mesmo de cumplicidade. E agora estão questionando a capacidade de governança da Palestina. Isso é uma lógica de gângster que confunde certo e errado", afirmou Fu.
Ele também destacou a necessidade crítica de um compromisso resoluto com a revitalização da solução de dois estados para o país do Oriente Médio.
"A solução de dois estados deve ser revitalizada com forte determinação. A saída fundamental para a questão do Oriente Médio está na implementação da solução de dois estados, para que tanto os palestinos quanto os israelenses possam alcançar segurança comum e tanto os povos árabe quanto judeu possam alcançar desenvolvimento comum", disse Fu em um debate aberto anterior do Conselho de Segurança sobre a questão palestino-israelense, também realizado na quinta-feira.
Esta é a segunda tentativa palestina de adesão plena: o presidente palestino Mahmoud Abbas entregou o pedido pela primeira vez em 2011, mas fracassou devido à falta de apoio dos membros do Conselho de Segurança da ONU.
Abbas, desta vez, criticou o veto dos EUA, afirmando em comunicado que foi "injusto, imoral e injustificado, e desafia a vontade da comunidade internacional, que apoia fortemente o Estado da Palestina em obter a adesão plena às Nações Unidas."
Conversa com diplomacia dos EUA
O Ministério das Relações Exteriores da China informou que nesta sexta-feira (19) o enviado especial do Governo Chinês para Assuntos do Oriente Médio, Zhai Jun, se encontrou com o embaixador dos Estados Unidos na China, Robert Nicholas Burns, e os dois lados tiveram uma troca de opiniões aprofundada sobre os últimos desenvolvimentos da situação no Oriente Médio.
O teor da conversa não foi divulgada.
Discurso do embaixador chinês na ONU na íntegra
Confira abaixo a explicação do voto pelo embaixador Fu Cong sobre o Projeto de Resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre a Admissão da Palestina como Estado-Membro Pleno da ONU.
"18 de abril de 2024, 21:15
Presidente,
Hoje é um dia triste. Devido ao veto dos Estados Unidos, o pedido da Palestina para a adesão plena à ONU foi rejeitado, e o sonho de décadas do povo palestino foi brutalmente frustrado. A China considera a decisão dos EUA muito decepcionante.
Um Estado independente da Palestina tem sido um sonho acalentado por gerações de pessoas palestinas. Sua adesão plena à ONU é um passo crucial nessa direção histórica. Já em 2011, a Palestina apresentou um pedido. Devido à oposição de alguns países, a ação do Conselho na época foi suspensa. 13 anos é tempo suficiente. Ainda assim, ouvimos algumas queixas afirmando que não há tempo suficiente e que não há necessidade de pressa. Essas afirmações são desonestas. A admissão da Palestina como membro pleno da ONU é mais urgente do que nunca.
Os países relevantes afirmam que não apoiam a plena adesão da Palestina à ONU porque o Estado da Palestina não tem capacidade para governar. Não concordamos com essa avaliação. Nos últimos 13 anos, a situação na Palestina mudou de muitas maneiras, sendo a mais fundamental a expansão dos assentamentos na Cisjordânia. O espaço de sobrevivência da Palestina como estado tem sido constantemente encurtado, e a base da solução de dois Estados tem sido continuamente erodida. Os países relevantes ignoraram isso e adotaram uma atitude de condescendência ou até mesmo de cumplicidade. E agora estão questionando a capacidade de governança da Palestina. Isso é uma lógica de gângster que confunde certo e errado.
O que é ainda mais inaceitável é que alguns países estão desafiando a elegibilidade da Palestina para a adesão à ONU sob a Carta das Nações Unidas, implicando que ainda resta a questão de saber se a Palestina é amante da paz. Tal alegação é ultrajante e vai longe demais. Para o povo palestino que sofre sob ocupação, isso é como colocar sal nas feridas. É extremamente insultuoso. Se for por cálculo político se opor à plena adesão da Palestina à ONU, seria melhor simplesmente dizer isso, em vez de inventar desculpas para revitimizar o povo palestino.
Presidente,
A independência com a soberania é o direito nacional inalienável do povo palestino. Isso é inquestionável e não negociável. Os países relevantes fazem das negociações diretas entre a Palestina e Israel uma condição prévia, afirmando que a adesão da Palestina à ONU só pode ser resultado de negociações. Isso é colocar o carro na frente dos bois. À medida que fica cada vez mais claro que o lado israelense está rejeitando a solução de dois Estados, a admissão do Estado da Palestina como membro pleno da ONU permitiria que a Palestina desfrutasse de igualdade de status com Israel e ajudaria a criar condições para a retomada das negociações entre os dois lados. Todos os países que genuinamente apoiam a solução de dois Estados não devem obstruir a plena adesão da Palestina à ONU.
Presidente,
A roda da história está avançando. A tendência dos tempos é irresistível. Estamos convencidos de que chegará o dia em que o Estado da Palestina desfrutará dos mesmos direitos que outros estados membros da ONU, que os dois estados da Palestina e de Israel poderão viver lado a lado em paz como vizinhos, com os dois povos, palestinos ou israelenses, vivendo em tranquilidade e felicidade. A China continuará a fazer esforços incansáveis e desempenhará um papel construtivo para a realização precoce desse dia.
Agradeço, Presidente."